Sexta-feira, 07 de março de 2025
Por Redação O Sul | 12 de dezembro de 2024
A nova estratégia da defesa de Jair Bolsonaro, que insinuou que o ex-presidente seria traído por militares de alta patente, vem provocando divergência no seu entorno jurídico. O advogado Fred Wassef, longe dos holofotes nos últimos tempos, mas ainda vinculado à família em processos, vem contestando internamente a postura de Paulo Amador Bueno que, há duas semanas, em entrevista ao programa “Estúdio i” de Andreia Sadi, na Globonews, disse que uma junta militar, e não Bolsonaro, assumiria o poder caso Lula fosse, de fato, impedido de tomar posse.
“Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do Plano Punhal Verde e Amarelo, e nessa junta não estava incluído o presidente Bolsonaro”, disse Amador Bueno, para depois completar: “Não tem o nome dele lá, ele não seria beneficiado disso. Não é uma elucubração da minha parte. Isso está textualizado. Quem iria assumir o governo em dando certo esse plano terrível, que nem na Venezuela chegaria a acontecer, não seria o Bolsonaro, seria aquele grupo”.
O ponto de Wassef nos debates internos é que, ao apontar o dedo para os oficiais de maneira tão clara na TV, Amador Bueno estimula uma possível delação premiada de militares de alta patente, prejudicando ainda mais Bolsonaro antes da denúncia prevista para ser feita no ano que vem pela Procuradoria Geral da República (PGR). De fato, a atenção em Brasília está toda concentrada na possibilidade de delação do general Mário Fernandes, preso e que acaba de ser transferido do Rio para o Comando Militar do Planalto, em Brasília. Foi dele a ideia de imprimir o plano para matar Lula dentro do Palácio do Planalto. Há fartura de provas contra o oficial, talvez o militar que mais tenha deixado digitais na trama golpista.
O general Fernandes também trocou de advogado na semana passada. Saiu Raul Livino e entrou Marcus Vinicius Figueiredo, que, por ora, vem negando qualquer tratativa de delação. Não param, contudo, de aparecer na imprensa notas e reportagens sobre a possibilidade de negociação. Hoje pela manhã, Bela Megale informou em sua coluna no jornal O Globo que dentro da cúpula do Exército há a crença de uma colaboração de Fernandes com a PGR ou a Polícia Federal. “Quando Fernandes se der conta de que está ‘abandonado’ e ‘sozinho’, a possibilidade de optar por esse caminho é grande”, escreveu sobre o que é falado no alto escalão da caserna. Nos últimos dias, tanto Igor Gadelha, no site Metrópoles, quanto Caio Junqueira, na CNN, relataram que a família do general o está pressionando para fechar um acordo de delação.
Após a entrevista do advogado de Bolsonaro na Globonews, a defesa de Mario Fernandes se revoltou. “Ele é advogado de defesa ou promotor?”, disse o novo advogado Figueiredo ao colunista Lauro Jardim. O general Walter Braga Netto também se revoltou em uma nota contra a defesa de Bolsonaro depois da resposta dada na Globonews sobre uma possível traição. “É uma tese absurda e fantasiosa”, afirmou, em nota oficial. “Por isso é tão perigosa para Bolsonaro essa estratégia de jogar os seus cúmplices ao mar. Se você compromete a defesa de um general e o encurrala, deixando-o sem alternativa, não lhe restará senão um acordo de delação e, nessa hipótese, ele atirará para o alto. Neste caso, isso significa torpedear Bolsonaro”, comentou Josias de Souza, no UOL, nesta semana, sobre os últimos movimentos do inquérito do golpe em 2022.
Por mais surreal que pareça, há um ponto da defesa de Bolsonaro em que Wassef, Amador Bueno e os aliados do ex-presidente concordam na estratégia: dizer que não há problema em fazer um debate jurídico interno sobre decretar estado de sítio usando o artigo 142 da Constituição. Já saiu da boca do próprio ex-presidente a confissão de que pensou em fazer algo depois da derrota para Lula em 2022: “Os comandantes das Forças falam que ‘Bolsonaro discutiu conosco hipóteses de (artigo) 142, estado de sítio, estado de defesa”. E eu discuti, sim. Não foi nenhuma discussão acalorada. (…) Golpe usando a Constituição? O que está dentro da Constituição você pode utilizar”, afirmou Bolsonaro em 28 de novembro. As informações são do jornal O Globo.