Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 23 de setembro de 2025
Para o neurocientista, a chamada inteligência artificial tem sido divulgada com promessas que não podem ser cumpridas.
Foto: DivulgaçãoO neurocientista Miguel Nicolelis, um dos mais respeitados da atualidade, apresentou recentemente algumas de suas ideias sobre o que chamou de “um dos maiores engodos que a humanidade já produziu”: a inteligência artificial.
Em tom crítico, o pesquisador expôs o conceito que vem desenvolvendo — uma sigla afetiva: Nina — definida por ele como “nem inteligente, nem artificial”. Nicolelis explicou que o termo não se refere a uma pessoa, mas é uma forma de denominar o que considera um equívoco contemporâneo: sistemas que se apresentam como “inteligentes” quando, segundo ele, apenas processam dados de forma limitada e não são capazes de capturar a complexidade da mente humana.
Para o neurocientista, a chamada inteligência artificial tem sido divulgada com promessas que não podem ser cumpridas. Ele argumenta que a inteligência humana é fruto de um processo evolutivo longo, coletivo e emergente, impossível de ser reduzido a algoritmos ou a uma lógica puramente digital.
Nicolelis também criticou a dependência crescente desses sistemas para funções cognitivas básicas. Ao delegar memória, raciocínio ou criatividade às máquinas, disse ele, a humanidade corre o risco de atrofiar habilidades desenvolvidas ao longo de milênios. A conveniência, segundo o pesquisador, pode custar caro ao enfraquecer capacidades que são a base da produção de cultura e conhecimento.
Outro ponto levantado foi a cadeia produtiva por trás da tecnologia. O neurocientista lembrou que a indústria lucra com dados pessoais e com trabalho humano de baixo custo usado para treinar modelos, a “matéria-prima grátis”, como classificou. Além disso, destacou que essas ferramentas frequentemente “alucinam”, gerando respostas sem compromisso com a verdade ou a precisão científica.
“As donas das inteligências artificiais têm uma conta bancária exuberante e, ao delegarmos nossas funções cognitivas por conveniência, perdemos agência e corroemos o que nos tornou criadores de cultura e conhecimento”, afirmou.
Nicolelis encerrou sua fala com um apelo: resistir à delegação acrítica do pensamento e reconhecer os limites do que as máquinas podem oferecer. Para ele, a humanidade deve investir em ciência, educação e no fortalecimento da criatividade, em vez de apostar cegamente em sistemas que prometem substituir o cérebro humano, mas que, em sua visão, permanecem muito distantes da verdadeira inteligência.