Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 18 de fevereiro de 2019
Com um histórico de declarações considerado caricato por feministas, a ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), 54, disse que se engajaria em algumas lutas das mulheres. “Tem pautas feministas que eu abraço. Por exemplo: salários iguais entre homens e mulheres e luta contra a violência. Se for para eu e as feministas irmos para as ruas de braços dados contra isso, eu vou. Mas sem o exagero de seios à mostra”, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo. Confira alguns trechos da entrevista.
1. Suas primeiras declarações no cargo foram consideradas caricatas, como a fala “menina veste rosa e menino, azul”…
Os ideólogos que estão do lado de lá me conhecem. Eu não estou fazendo este enfrentamento agora porque sou ministra. Esse enfrentamento, especialmente a ideologia do gênero, eu faço de uma forma veemente como ativista. Minhas palestras e meus vídeos são usados no Brasil inteiro e no exterior no combate a essa ideologia.
Esse público já me acompanhava e me criticava, só que do tamanho que eu era. As críticas que estou recebendo como ministra sempre recebi. Só que em menor proporção. Aumentou o público, mas sou vítima disso há muitos anos.
Especificamente quanto ao “menino veste azul e menina veste rosa” é uma metáfora extraordinária para mim. Como eu digo que menina é princesa e menino é príncipe. Onde está o erro? É tudo muito simbólico. Tanto é que descobri um projeto no Ministério da Cultura para o desprincesamento. Eu falo de princesa, eles falam de desprincesar. Eles podem falar que menino tem que vestir roupa neutra, eu não posso falar em azul. Para eles pode, para a ministra não pode. Mas isso acabou dando visibilidade ao nosso trabalho contra a erotização das crianças.
2. Houve transição entre as funções de ativista e ministra?
A ativista está adormecida. Porque agora eu falo como Estado, meu discurso é de Estado. Mas as causas estão todas aqui dentro do coração e quero lembrar que foram essas causas que me trouxeram aqui. Mas agora tenho que obedecer as limitações que este cargo impõe.
2. Quais as ações que a ativista gostaria de realizar e que a ministra pode implementar?
A proteção integral da criança. A gente proteger as crianças da erotização infantil, do consumo excessivo, da obesidade. Essas são as propostas que estamos elaborando para atender todas as crianças, incluindo indígenas, quilombolas, negros. Todos.
Estamos de olho em todos os projetos de outros ministérios, sempre tentando encaixar propostas para defesa das crianças e da família. Vou dar um exemplo. Neste ano, a campanha publicitária oficial do Carnaval não terá imagens de crianças rebolando de forma erotizada como já ocorreu em governo passados. Vamos mostrar imagens de crianças brincando com as famílias. Este é o conceito de transversalidade determinado pelo presidente Bolsonaro.
3. A revista Época publicou reportagem na qual expõe dúvidas sobre o processo de retirada de uma menina índia de aldeia no Xingu, a qual a sra. chama de filha. A sra. a adotou legalmente ou a levou para casa?
A Lulu é minha filha e ela tem certeza que sou mãe dela. O que une eu e minha filha são laços afetivos. Ela chegou em minha casa entre seis e sete anos. Somos mãe e filha.
Existe um dispositivo jurídico que é adoção socioafetiva. Eu sou mãe socioafetiva de Lulu [o processo não foi formalizado na Justiça por ela]. Lulu tem mãe, pai e irmãos. Os pais de Lulu a amam. Quando eles me entregaram Lulu, foi para cuidar dela. Eles não me entregaram para adoção.
Nunca falei sobre adoção com eles porque achava desnecessário. Não é um papel que vai mudar o que sinto por Lulu e ela sente por mim. O que aconteceu é que Lulu ganhou uma mãe e eu ganhei uma família inteira. Lulu ainda vai voltar para a aldeia. É desejo dela.
4. A sra. já se declarou contra o aborto. Como será o papel de seu ministério em relação ao Estatuto do Nascituro?
Essa questão está no Congresso e não tem consenso. Vamos respeitar o que for decidido em lei. Aqui no ministério o que vamos fazer é propor o Estatuto da Gestante e desenvolver políticas garantindo direitos para as mães e as crianças na fase gestacional.
Pessoalmente sou contra qualquer tipo de aborto, mesmo em caso de estupro. Creio que deva haver lei dura para punir estupradores, mas não para condenar as crianças à morte.
5. A sra. é antifeminista?
Sou anti-ativismo exagerado. Tem pautas feministas que eu abraço. Por exemplo: salários iguais entre homens e mulheres e luta contra a violência. Se for para eu e as feministas irmos para as ruas de braços dados contra isso, eu vou. Mas sem o exagero de seios à mostra. Sem a doutrinação que parece pregar o ódio aos homens.