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Mundo A mudança do mapa político da América Latina coloca em risco o Mercosul

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É impossível prever seu futuro, mas, em uma atmosfera propensa a conflitos, tudo o que puder dar errado, dará. (Foto: Reprodução)

A insatisfação dos eleitores na América do Sul colocou governos de direita e de esquerda igualmente em apuros. A desaceleração econômica, primeiro, e o baixo crescimento, depois, não pouparam os esquerdistas da Frente Ampla, no Uruguai, Evo Morales, na Bolívia, e Lenín Moreno, no Equador. Foram igualmente destrutivos para governos liberais, como o de Mauricio Macri, na Argentina, devastando a popularidade dos direitistas Sebastián Piñera, no Chile, e Ivan Duque, na Colômbia, testados por enormes manifestações de rua.

O panorama político é movediço e multifacetado, assim como seus principais atores. Há esquerdas que diferem bastante entre si, como os peronistas argentinos e os da frente governista uruguaia. E uma distância considerável entre direitistas como o presidente Jair Bolsonaro e o presidente eleito uruguaio, Luis Lacalle Pou, do Partido Nacional, que desalojou do poder, após 15 anos, a Frente Ampla.

O redesenho político produziu inevitavelmente novas tensões no principal bloco econômico da região, o Mercosul, e pôs um ponto de interrogação sobre seu destino. Bolsonaro e Alberto Fernández, peronista que passa a ocupar a Casa Rosada a partir do dia 10, agrediram-se durante e depois da campanha eleitoral argentina. No balanço interno do bloco, o pêndulo político não se inclina para a Argentina, embora não se desloque inteiramente para o Brasil, pois Lacalle Pou, que tem uma agenda liberal na economia, diverge no tratamento de questões sociais. O Paraguai tem boas relações com o governo Bolsonaro.

As mudanças políticas tiveram efeitos opostos nos países que se associaram ou se aproximaram do Mercosul. A Venezuela, que contava com a benevolência do governo uruguaio, deixará de tê-la com o novo presidente. No campo externo, disse Lacalle Pou, “vamos chamar os ditadores de ditadores”. O que não significa, porém, que Juan Guaidó, reconhecido pelo governo brasileiro, terá o apoio uruguaio. A Bolívia tende a ser ideologicamente mais amigável, apesar do pragmatismo de Evo Morales nos últimos anos – ele compareceu à posse de Bolsonaro, por exemplo. Não está certo se o liberal Carlos Mesa vencerá as novas eleições, já que o bom desempenho econômico de Morales poderá render a vitória a seu Movimento ao Socialismo, embora esse não seja o cenário mais provável.

O Brasil impulsiona no bloco a abertura econômica, que encontrará na Argentina seu principal obstáculo. Fernández disse que tem restrições ao acordo firmado pelo Mercosul com a União Europeia e seu discurso possui todas as marcas do protecionismo kirchnerista, que caracterizou os governos de sua vice, Cristina Kirchner. O governo Bolsonaro propôs uma redução da tarifa externa comum (média de 14% hoje), que foi discutida rapidamente na reunião de cúpula do Mercosul em Bento Gonçalves, ontem. Não houve decisão porque estavam presentes governos que foram rejeitados nas urnas e ausentes os novos presidentes. Mas é quase certo que a iniciativa liberal do Brasil será rejeitada por Buenos Aires.

Do lado brasileiro, há indefinição. O Itamaraty e a ala dura do governo lançaram vários balões de ensaio: se a Argentina se fechar, o Brasil abandonará o bloco. Alguns líderes políticos, que não são bolsonaristas, acreditam que é necessário rebaixar a pretensão do bloco e regredir para uma área de livre comércio, uma vez que a união aduaneira consubstanciada no Mercosul pouco avançou.

Lacalle Pou quer mais espaço para negociar acordos individualmente, o que não desagrada, em tese, o Brasil, às turras com a Argentina. Unidos pela agenda liberal, porém, estão a léguas de distância na social. Pou deixou claro que não revogará as medidas da Frente Ampla, que legalizou o casamento homossexual, o aborto e a maconha. Seu problema interno é um aliado, Guido Manini Rios, de extrema direita. O novo presidente precisará do apoio na Câmara dos 11 deputados do Cabildo Aberto, de Rios. Como Bolsonaro, Rios defende ex-torturadores e ditadores.

Pou mantém a esperança de que “o pragmatismo vai superar a ideologia”, referindo-se ao relacionamento entre os dois sócios maiores do Mercosul. Tanto em Brasília como na Casa Rosada, o clima é de beligerância e desprezo mútuo. A inclinação protecionista argentina é evidente e é possível que o país volte ao “comércio administrado” que infernizou o Mercosul e, em especial, os exportadores brasileiros. É impossível prever seu futuro, mas, em uma atmosfera propensa a conflitos, tudo o que puder dar errado, dará.

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https://www.osul.com.br/a-mudanca-do-mapa-politico-da-america-latina-coloca-em-risco-o-mercosul/ A mudança do mapa político da América Latina coloca em risco o Mercosul 2019-12-07
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