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Mundo À sombra da lei, socorristas ajudam mulheres a abortarem na Argentina

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Entre 370.000 e 520.000 abortos clandestinos ocorrem na Argentina a cada ano. Dezenas de mulheres morrem em consequência das práticas. (Foto: Divulgação)

Depois de alguns segundos de silêncio, as mulheres se justificam: “o preservativo estourou”, “a pílula não funcionou”, “o dispositivo falhou”: “Preciso fazer um aborto”. Assim se iniciam a maioria das conversas entre mulheres grávidas e as ativistas do grupo Socorristas em Rede (nome original: Socorristas en red, feministas que abortamos). São feministas que auxiliam mulheres que querem interromper uma gravidez na Argentina, à sombra da lei –  o Senado rejeitou a descriminalização do procedimento até a 14ª semana.

Hoje, a interrupção voluntária da gravidez só é permitida no país em casos de risco de morte para a mãe ou de estupros – o Brasil permite nas mesmas situações e também em casos de feto anencéfalo, e agora o Supremo Tribunal Federal debate ampliar a legalidade do procedimento.

A rede argentina funciona no país desde 2012 e já auxiliou mais de 8.000 mulheres a realizarem um aborto seguro. A ação das socorristas começa por meio das ligações telefônicas para números que são divulgados frequentemente nas cidades onde atua a rede, sob o título “aborto: mais informações, menos riscos”.

As mulheres que telefonam pedindo orientação são encaminhadas para reuniões presenciais, onde encontram outras grávidas com a intenção de abortar, mulheres que já fizeram abortos e as próprias ativistas. Nos encontros, recebem informações básicas sobre o uso seguro da medicação abortiva, o remédio misoprostol, também conhecido no Brasil pelo nome comercial de Cytotec. O procedimento – a ingestão do medicamento – ocorre nas próprias casas das mulheres, que são acompanhadas via telefone pelas socorristas. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, a medicação é considerada segura.

Ainda assim, em 2016, 12% das mulheres assistidas precisaram de algum cuidado médico depois de 72 horas de ingestão do remédio. Nestes casos, a paciente é encaminhada a profissionais de saúde ‘amigáveis’, que, além de prestar o cuidado médico, escutam atentamente seus casos.

A aproximação entre a rede e estes setores do sistema de saúde é uma política exitosa do grupo. Em 2016, cerca de 17% das mulheres que procuraram a Rede foram encaminhadas por profissionais de saúde. As demais chegaram após ver os números dos telefones das socorristas nas ruas, tomar conhecimento de sua existência em palestras ou na internet. “Nós, as socorristas, não realizamos abortos. Nós damos informações sobre o uso seguro de medicação para abortar”, diz Julia Burton, ativista responsável pela compilação de dados da rede.

“Essa informação é pública, está em manuais da Organização Mundial de Saúde, das Federações de Obstetrícia e Ginecologia. Ou seja, é informação certificada por órgãos de saúde certificados. O que nós  fazemos é colocar esta informação à disposição, e a informação é um direito humano.”

Para além das informações, o acompanhamento das mulheres que realizam o aborto é parte fundamental do ativismo. Elas são acompanhadas antes, durante e depois do procedimento. “O socorrismo se dá em quatro momentos”, explica Nadia Mamani, socorrista que realiza os acompanhamentos.

“O primeiro é a ligação telefônica, em que conversamos com essa mulher, que nos conta de sua decisão. Em geral é uma ligação com muita angústia. Depois nos reunimos com grupos em lugares públicos, conversamos sobre seus medos e temores, e damos um folheto com explicações passo a passo sobre o uso seguro da medicação.” Quando elas adquirem a medicação, diz a ativista, a rede acompanha por telefone o processo do aborto.

“[Fazemos isso] para que, ainda que estejam na companhia de algum ente querido, saibam que nós estamos ali para qualquer dúvida ou pergunta. Isso as tranquiliza muito. E entre sete e dez dias depois do processo, realizamos um controle pós-aborto para saber se está tudo bem.”

Esse acompanhamento, embora não seja propriamente psicológico, é importante, segundo elas, para dar também um suporte emocional. Desde 2014 o grupo reúne dados para produzir informações quantitativas sobre os acompanhamentos e pressionar politicamente o debate pela legalização do aborto. Os dados compilados pelas socorristas contestam algumas das ideias difundidas a respeito do tema.

O levantamento mostra, por exemplo, que a grande maioria das mulheres que abortam têm mais de 19 anos, derrubando a ideia de que apenas adolescentes abortam. Indica ainda que mais da metade dos abortos é realizada por mulheres que já foram mães, e que, portanto, são conscientes dos significados da maternidade.

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https://www.osul.com.br/a-sombra-da-lei-socorristas-ajudam-mulheres-a-abortarem-na-argentina/ À sombra da lei, socorristas ajudam mulheres a abortarem na Argentina 2018-08-09
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