Sexta-feira, 20 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 11 de novembro de 2020
O jovem advogado Joe Biden integrava o Conselho do condado de New Castle, no Norte do Estado americano de Delaware, quando decidiu concorrer a uma cadeira do Senado Federal, em 1972.
Aos 29 anos, o recruta democrata teria que derrotar o poderoso republicano James Caled Boggs, um veterano da Segunda Guerra Mundial, de perfil conservador, que tentava se eleger para um terceiro mandato.
A campanha de Boggs contava com muito mais dinheiro e status, mas o zeitgeist estava ao lado do desafiante, com os protestos pelo fim da Guerra do Vietnã em marcha e em meio ao movimento por direitos civis. Além disso, Biden tinha um trunfo: sua companheira, Neilia.
Neilia Hunter e Joseph Biden se conheceram em Nassau, nas Bahamas, durante o spring break, as férias curtas da primavera nos EUA. Os pais dela, cristãos protestantes devotos, não foram lá muito receptivos, no início, ao saber que a filha estava namorando um católico romano. Mas os dois se casaram em agosto de 1966 e tiveram dois meninos, chamados Robert e Beau, além de uma menina, Naomi, a caçula da família. Quando o casal decidiu que Biden tentaria se tornar um dos senadores mais jovens da História do Tio Sam, a família toda caiu dentro da disputa, viajando de carro pelo Estado para convencer eleitores.
Aos 30 anos, Neilia era considerada pelo marido o “cérebro” da força-tarefa e sua “principal conselheira”. A família conseguiu arrecadar doações e apoio fazendo críticas ao político adversário por ser muito mais velho e desconectado com as demandas sociais da época, como os direitos civis das minorias e a questão ambiental. Biden venceu com 50,5% do total.
Por volta de 14h30 do dia 18 de dezembro, seis semanas depois da eleição, Neilia dirigia seu Chevrolet branco numa estrada chamada Valley Road, voltando de uma viagem curta para pegar a árvore de Natal da família, com as três crianças. Ao passar por um cruzamento, ela bateu com a lateral do carro na frente do caminhão dirigido por Curtis C. Dunn, de 43 anos, que estava voltando para casa, na Pensilvânia.
O impacto jogou o Chevrolet a quase 50 metros de distância, deixando folhetos que restaram da campanha jogados na estrada, com espigas de milho caídas do caminhão, cujo motorista, segundo a polícia, não teve culpa no acidente.
Joe Biden estava em Washington DC entrevistando algumas pessoas para formar seu gabinete no Senado, quando o telefone tocou. Ao lado dele, sua irmã atendeu e ficou lívida ao receber do irmão James as notícias. Neilia e a caçula Naomi, que tinha só 13 meses, morreram ao chegar no Hospital Geral de Wilmington. Robert, de 2 anos, sofreu fraturas no crânio, mas se recuperou bem, enquanto Beau, de 3 anos, teve uma perna quebrada (o filho mais velho de Biden morreria 43 anos depois, de câncer no cérebro). Quando Joe fez seu juramento oficial como senador, ele ainda estava no hospital, ao lado dos meninos.
Neilia era descrita como uma mulher inteligente, corajosa, vibrante, popular e muito bonita. Havia mais de 600 pessoas em seu funeral. A perda dela e de sua única filha deixou Biden totalmente sem chão. Em entrevista para um documentário que a emissora americana CNN exibiu este ano, ele contou que cogitou o suicídio, atirando-se de uma ponte. Mas que não chegou perto disso pois tinha dois filhos para criar.
O agora presidente eleito dos Estados Unidos se casou de novo, em 1977, com a professora Jill Tracy Jacobs, uma pessoa fundamental para ele e a reconstrução de sua vida. Mas pessoas próximas a ele são seguras ao afirmar que aquela tragédia moldou a pessoa que o democrata se tornaria a partir de então. Em um discurso para estudantes da Universidade Yale, Biden discorreu sobre aquela perda e o seu caminho de aprendizado.