Quarta-feira, 29 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 1 de abril de 2019
A trégua ensaiada entre os presidentes da República, Jair Bolsonaro (PSL), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), depois de dias de bate-boca não desfez o temor entre parte dos deputados com as consequências do desarranjo político do governo. Congressistas de direita e centro-direita passaram a semana manifestando preocupação com a forma como o Executivo, em especial Bolsonaro, trata o Legislativo.
O presidente fez provocações públicas a Maia, que retribuiu. As discussões envenenaram o ambiente político e as expectativas do mercado. Na quinta-feira (29), a disputa arrefeceu, mas o ceticismo permanece. Sem esforço de Bolsonaro para organizar uma base aliada para aprovação da reforma da Previdência, deputados dizem que ele flerta com o caos na intenção de desmoralizar o Congresso perante a opinião pública.
A conversa chegou a Maia, que reagiu com cautela. “Precisamos ter paciência e fortalecer o Poder Legislativo”, disse o presidente da Câmara. “Com as instituições fortes e equilibradas – Supremo Tribunal Federal, Legislativo, Executivo e imprensa livre –, não haverá risco de ruptura.”
A exoneração do funcionário do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) que multou Bolsonaro por pesca irregular, a demissão da presidente da Embratur e dois diretores e a desautorização do ministro Sérgio Moro na indicação de Ilona Szabó para a suplência de um conselho são, para alguns deputados, indícios de autoritarismo do presidente.
Parte dos parlamentares com bom trânsito com Maia advoga que o Congresso deve dar seguidos recados ao governo, com a aprovação de projetos que contrariam interesses do Executivo. Outro grupo pondera que, se aprovar medidas para atrapalhar o governo, o Legislativo acabará alimentando a narrativa do Planalto de que prioriza interesses não republicanos.
Por isso, esses deputados veem com preocupação momentos como a aprovação relâmpago, na terça-feira (26), da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que torna o Orçamento ainda mais engessado. Aliados de Maia dizem que líderes do centrão queriam ir mais longe e acelerar a tramitação de projetos ainda piores para o Executivo. Segundo os relatos, Maia conteve os ímpetos e a PEC foi uma imposição dos líderes como denominador comum.
“Quando o diálogo fica muito difícil, cada um tem de ocupar o seu quadrado, Executivo, Câmara, Senado, cada um fazer a sua parte”, disse o líder do PP, Arthur Lira (AL). Notam deputados que a especulação em torno de um hipotético impeachment, da mesma forma, fortalece a versão segundo a qual os deputados achacam o presidente para dar a ele os resultados legislativos que espera.
O impasse da reforma da Previdência é mais um fator que pode ser usado por Bolsonaro, eles afirmam. Ao dizer que “a bola está com o Congresso”, o presidente lava as mãos, sinalizando à população que uma eventual não aprovação é culpa de deputados que não querem o bem do Brasil.