Quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 8 de fevereiro de 2021
Em um teste de grandes proporções para o combate à pandemia do coronavírus, a vacinação em Israel mostrou que um programa robusto de imunização pode ter um impacto rápido e poderoso.
Os casos de covid-19 e hospitalizações caíram dramaticamente entre pessoas que foram vacinadas dentro de poucas semanas, segundo novos estudos em Israel. O ritmo rápido de vacinação fez do país uma espécie de laboratório para o mundo. Dados preliminares sugerem que as vacinas funcionam, na prática, da mesma forma que ocorreu nos testes clínicos.
“Dizemos, com cautela, que a mágica começou”, escreveu no Twitter o biólogo Eran Segal, do Instituto Weizmann de Ciência, coautor de um novo estudo sobre o impacto da vacina em Israel. As boas notícias sobre a vacinação dificilmente significam um passeio sem obstáculos até o futuro pós-pandêmico.
Enquanto o mundo corre para barrar o vírus antes que mutações mais perigosas se espalhem, a escassez de vacinas deve impedir outros países de replicarem o sucesso de Israel, o mesmo de impedir o surgimento de novas variantes.
Até Israel, que superou o ritmo de vacinação em outros países, está longe da linha de chegada. O país prorrogou seu terceiro lockdown de abrangência nacional nesta quinta-feira, 4. Ainda assim, pesquisadores têm esperança na capacidade da vacina em desacelerar os casos entre israelenses vacinados.
“Acho bastante persuasivo que estamos vendo efeitos reais de vacinação na população”, disse o epidemiologista William Hanage, da Escola de Saúde Pública T.H. Chan de Harvard, que não participou do estudo israelense.
Um número crescente de vacinas têm demonstrado eficácia contra a covid-19 e protegem especialmente contra casos graves. Alguns testes sugerem que as vacians podem ter o potencial de retardar a transmissão do vírus.
O novo estudo israelense analisou estatísticas de saúde para pessoas de 60 anos ou mais, que receberam a vacina da Pfizer-BioNTech porque pertenciam a grupo de risco. Com os dados de seis semanas de campanha, quando a maioria das pessoas nessa idade já havia sido vacinada, o estudo estimou que o número de novos casos de covid-19 caiu 41% em relação a três semanas antes.
Esse grupo também teve uma queda de 31% nas hospitaçizações devido ao coronavírus, e de 24% nos pacientes que tiveram casos críticos da doença.
Parte da importância do estudo está no fato de que os autores conseguiram isolar outros fatores, inclusive o lockdown, que também reduz o número de infecções. Os pesquisadores dizem que, mesmo levando essas circunstâncias em consideração, as vacinas tiveram um impacto considerável.
Novos dados, divulgados na quinta-feira, 4, por uma das maiores redes de saúde em Israel, sugerem que a proteção da vacina na prática pode ser tão boa quanto o que foi identificado nos teste clínicos.
A vacina teve eficácia de 95% nos testes. Pesquisadores alertaram em novembro que esses números poderiam ser menor com a vacinação no mundo real. Isso porque os voluntários que fizeram os testes podem não representar a população como um todo, por exemplo. A administração da vacina Pfizer-BioNTech é desafiadora em escala nacional, uma vez que deve ser mantida em baixa temperatura até momentos antes de ser aplicada.
O Serviço de Saúde Maccabi anunciou nesta quinta que, de 416.900 pessoas vacinadas, apenas 254 tiveram covid-19 após a segunda dose. Além disso, todos os casos foram de baixa intensidade. Ao comparar esses dados, os pesquisadores estimaram que a vacina tenha eficácia de 91%.
“Os dados continuam a ser bastante encorajadores e a alta eficácia da vacina foi mantida e permanece estável”, disse o diretor da divisão de Dados e Saúde Digital do Maccabi, Anat Ekka-Zohar.
Os resultados são notáveis, dizem especialistas, porque Israel está lidando com uma nova cepa do coronavírus que preocupa autoridades. A variante B.1.1.7, hoje é responsável por mais de 80% dos testes no país.
Identificado pela primeira vez no Reino Unido, em dezembro, essa mutação já se espalhou por outros 72 países e pode ser até 50% mais transmissível que outras variantes.
Israel lidera o mundo em termos de vacinação dos cidadãos. Até agora, mais de um terço da população de mais de nove milhões recebeu a primeira dose, e cerca de dois milhões de pessoas receberam a segunda.
O primeiro público-alvo foram cidadãos com mais de 60 anos, grupo que representa 95% das mais de 5 mil mortes por covid-19 em Israel. Segundo o Ministério da Saúde israelense, 84% desse grupo foi vacinado.
Relativamente pequeno e com um sistema de saúde altamente digitalizado e universal, Israel se tornou um laboratório atrativo para a Pfizer. Como resultado, o país fez um acordo com a farmacêutica, oferecendo dados em troca de um suprimento estável de vacinas.
Apesar dos bons resultados, Israel permanece vulnerável. Após queda no número de novos casos em janeiro, a média de infectados está subindo novamente. A taxa de contágio da variante B.1.1.7 pode ser um dos motivos, assim como a baixa adesão do último lockdown em relação aos anteriores. E alguns palestinos nos territórios ocupado ainda aguardam as vacinas, o que tornas eles e os israelenses menos protegidos contra novos surtos.
Não há como prever o que ocorreria se uma variante mais perigosa começasse a se espalhar em Israel. Uma mutação identificada na África do Sul não só é mais contagiosa, como possivelmente pode ser mais resistente a vacinas.