Sábado, 20 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 19 de janeiro de 2020
Cresce proporção de bebês nascidos de adolescentes.
Foto: Reprodução“Perigoso”, “errado”, “sensacional”. Os adjetivos escolhidos por adolescentes para descrever a política de abstinência sexual proposta pela ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, para enfrentar a gravidez precoce e doenças sexualmente transmissíveis (DSTs ) variam.
Mas têm uma coisa em comum: reconhecem que a chance de não vingar é grande e que investir em educação é crucial. A Folha ouviu oito jovens de São Paulo com até 18 anos, de diferentes locais e classes sociais, para saber o que pensam da medida.
De acordo com a pasta, a política focada nos benefícios da iniciação sexual tardia está em formulação e será complementar a políticas de estímulo a métodos contraceptivos.
Descrevem a abstinência como o único método 100% eficaz para evitar a gravidez indesejada. Ainda não há previsão de quanto será gasto.
O projeto vai ao encontro do que é defendido por movimentos como o Eu Escolhi Esperar (que prega a vida sexual após o casamento). Para especialistas, a política segue caminho errado e investir em educação seria mais eficaz.
O psiquiatra Jairo Bouer, que trabalha há cerca de 30 anos com adolescentes, classifica a iniciativa como inócua e irresponsável.
“Ninguém consegue impor abstinência ao outro. As pessoas decidem iniciar a vida sexual quando têm desejo e quando estão preparadas”, diz.
O médico diz que a medida pode vulnerabilizar jovens, que não terão informação e suporte para ter vida sexual independente e saudável: “A sexualidade pode se tornar um tabu a mais.”
É na adolescência que os hormônios sexuais começam a ser produzidos, o que leva os jovens a direcionarem a libido a uma outra pessoa, diz Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas da USP.
A especialista acha que a medida é impraticável. “A ideia pode ser adotada por quem já tiver predisposição a isso, que se sentirá referendado e apoiado. Mas não pelos outros”, diz.
A melhor solução, afirma Abdo, seria investir em uma educação sexual contextualizada, que não contemple apenas o ponto de vista biológico mas também comportamental, ético e de futuro.
Afinal, são muitos fatores que levam a uma gravidez precoce, não apenas a falta de informação sobre preservativos; eles vão desde o desejo de ser mãe até sexo sob efeito de álcool e drogas.
Pesquisa feita pelo Prosex mostrou que os adolescentes iniciam a atividade sexual no país dos 13 aos 17 anos, com maior incidência aos 15 anos.
Segundo dados preliminares do Ministério da Saúde, os casos de gravidez na adolescência caíram 39% de 2000 a 2018.
O número, porém, segue alto: segundo a ONU, 62 em 1.000 jovens de 15 a 19 anos são gestantes. No mundo, a média é de 44 por 1.000.