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Por Redação O Sul | 23 de setembro de 2019
A gigante de viagens britânica Thomas Cook, uma das mais antigas operadoras de turismo do mundo, declarou falência na manhã desta segunda-feira, deixando 600 mil turistas ao redor do mundo sem ter como voltar para casa. A quebra da empresa levou as autoridades do Reino Unido a iniciar imediatamente uma operação de repatriação que vem sendo considerada a maior do país em tempos de paz: 150 mil britânicos precisarão de ajuda do governo para retornar a seus lares.
O plano de emergência do governo britânico foi batizado de “Operação Matterhorn”, referência a uma campanha de bombardeios dos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial. Com ele, as autoridades pretendem trazer de volta turistas que estão em diversos países, de Turquia a Cuba.
O plano está avaliado em 75 milhões de libras (US$ 93 milhões), segundo a Bloomberg. Quarenta aviões foram fretados e cerca de mil voos estão previstos ao longo das próximas duas semanas.
A operação de repatriação será maior que a organizada há dois anos, após falência da companhia aérea britânica Monarch. Na ocasião, o governo teve de entrar em cena e resgatar 110 mil passageiros, ao custo de 60 milhões de libras (US$ 74 milhões), especialmente com a contratação de aviões.
Dívida de US$ 2 bilhões
Fundada em 1841 e pioneira nas viagens turísticas, a Thomas Cook tinha cerca de US$ 2 bilhões em dívidas e buscava uma solução para seu iminente colapso. A empresa, cujos negócios também incluem uma companhia aérea, negociou intensamente durante todo o fim de semana com acionistas e credores.
Sobre a mesa estavam propostas para viabilizar uma injeção adicional de 200 milhões de libras (quase US$ 250 milhões) por investidores privados, uma exigência de bancos credores para manter o financiamento de suas atividades. Mas as conversas fracassaram, e a operadora fechou as portas.
“Apesar dos enormes esforços, as discussões não chegaram a um acordo entre os acionistas e aqueles que ofereciam um novo aporte de dinheiro”, anunciou a empresa em comunicado. “Por isso, o Conselho de Administração concluiu que não havia outra opção senão dar os primeiros passos para iniciar o processo de liquidação com efeito imediato”, acrescentou a nota.
Simultaneamente, a British Aviation Authority (CAA), que regula o setor no país, divulgou nota oficial confirmando que a “operadora de turismo e a companhia de aviação interromperam suas atividades com efeito imediato”.
Nos últimos anos, o grupo registrou forte queda de demanda por seus pacotes, consequência da concorrência acirrada dos sites de viagens e das dúvidas dos turistas diante das incertezas sobre o Brexit, adiado duas vezes este ano.
Socorro chinês
A operadora havia apresentado um plano reestruturação em agosto que lhe asseguraria 900 milhões de libras (US$ 1,12 bilhão) de investidores. Em troca, o conglomerado chinês Fosun, que já é acionista do grupo, assumiria o controle de suas atividades, elevando a 75% sua participação na operadora de turismo e a 25% na companhia aérea.
Nos últimos dias, a avaliação dos bancos credores como RBS, Barclays e Lloyds era que o socorro prometido não seria suficiente para manter a empresa de pé. Passaram, então, a exigir mais garantias e um aporte adicional de 200 milhões de libras para continuar com suas atividades.
As preocupações, agora, estão focadas na repatriação dos clientes da empresa. Em nota, o governo britânico disse que antes “do colapso de Thomas Cook e do cancelamento de todos os seus voos”, as autoridades haviam “contratado dezenas de aviões fretados” para permitir o retorno desses passageiros “sem nenhum custo adicional”.
“Todos os passageiros atualmente em viagem no exterior com a Thomas Cook e que tiveram reservas para retornar ao Reino Unido nas próximas duas semanas serão levados para casa o mais próximo possível da data de suas reservas”, acrescentou a nota do governo britânico.
Por sua vez, o diretor executivo da Thomas Cook, Peter Fankhauser, disse que “foi um dia profundamente triste para uma empresa pioneira em pacotes de férias e que tornou possível a viagem para milhões de pessoas em todo o mundo”.
Enquanto isso, em Xangai, o grupo Fosun expressou sua “decepção” pela falta de um acordo que impedisse o colapso da empresa.
“A Fosun está desapontada pelo fato de a Thomas Cook não ter conseguido encontrar uma solução viável para sua recapitalização com outras afiliadas, bancos e outras partes”, disse o conglomerado em nota oficial.
A empresa enfatizou que sua posição “permaneceu inalterada durante todo o processo, mas infelizmente outros fatores mudaram”.
O sindicato TSSA, que representa os funcionários da companhia, chegou a pedir à ministra das Empresas e Indústria, Andrea Leadsom, uma “reunião urgente” no sábado e que ela estivesse “preparada para ajudar a Thomas Cook com um verdadeiro apoio financeiro.” Mas de nada adiantou.