Domingo, 01 de junho de 2025
Por Tito Guarniere | 31 de maio de 2025
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
O ministro do STF Alexandre de Moraes, do STF, está perdendo a mão. O juiz, ainda mais de tribunal superior, não deve nunca – nunca – se deixar levar pelas emoções da hora e pela ideia de que é ele quem manda e dá as cartas. Há normas (além das legais) que dizem respeito à solenidade do tribunal, como a imparcialidade, a condução serena dos trabalhos, o respeito a partes, funcionários e testemunhas.
Pois Moraes, a quem o Brasil deve muito, por causa do papel corajoso que tem desempenhado na intentona golpista de 8 de janeiro de 2023, que por muito pouco não fez ruir o edifício republicano e a democracia no país, entretanto, em sucessivos momentos, desmerece e diminui a própria importância, agindo além da medida e incorrendo em erros brutos, e atraindo as críticas não apenas dos golpistas que o odeiam, mas de outras personalidades que não têm nenhuma identidade com os patriotas de fancaria da direita.
O ministro aparenta ser daqueles juízes que levam tudo para o terreno pessoal, e talvez a pretexto de resguardar sua autoridade, não admite o mais banal questionamento aos seus despachos e decisões. Mais ainda, passa a impressão de que só admite uma resposta, a que ele gostaria de ouvir.
Foi o que se deu na altercação com Aldo Rebelo. A questão suscitada estava longe de ser crucial, estratégica. Mas numa faísca, como em briga de rua, ganhou tons e contornos insuspeitados, até chegar à improvável ameaça de prisão, por parte, é claro, de Moraes. – algo que em normal circunstância jamais aconteceria.
Já Rebelo, que está em plena luta política, cooptado pelo bolsonarismo, valeu-se da oportunidade, e jogando para a plateia, alegou que não aceita censura.
A grande vitória da sessão histórica da Suprema Corte não foi de Moares nem de Rebelo, mas a do pecado predileto do diabo , no entrevero de gigantes, no confronto de titãs. Entre mortos e feridos se salvaram todos, a vaidade dos oponentes foi preservada, todos voltaram aos lares, com a sensação do dever cumprido, cada um dando destaque para os seus melhores momento, para suas estocadas mais finas e para as provas cabais de suas respectivas superioridades.
Tudo isso se inscreve no doloroso capítulo da polarização em que estamos mergulhados. Estivéssemos vivendo em um período de razoável de normalidade, o episódio insólito teria se desenrolado de outra maneira.
Chegam a ser impressionantes os desdobramentos desse estado de coisas depressivo, carregado de maus bofes e maus sentimentos, que perpassa a vida nacional, política, economia, relações pessoais. Tudo é tisnado de ódio, de intrigas e mentiras. E nenhum lado pode acusar o outro de ter o monopólio do abuso, da exorbitância. Ao inverso, atribuem ao outro o que é notoriamente, grosseiramente uma prática de mão dupla.
Talvez seja um exagero de pessimismo dizer que nunca houve um período tão desanimador quanto este. Mas há certos tempos, já observados em outras conjunturas, em que um otimista é apenas um pessimista mal informado.
(titoguarniere@terra.com.br)
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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