Domingo, 19 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 27 de dezembro de 2016
Pivô da mais recente ação penal contra Luiz Inácio Lula da Silva, o engenheiro Glaucos da Costamarques disse aos investigadores da Lava-Jato que o valor referente ao aluguel de um apartamento de sua propriedade usado pelo ex-presidente era repassado diretamente a ele por Roberto Teixeira, advogado e amigo do petista.
Na prática, contudo, Teixeira não pagava o aluguel, pois o valor era usado como compensação por uma “assessoria sobre imóveis” que ele prestava, segundo Costamarques. O engenheiro declarou que não contabilizava os rendimentos com o imóvel porque “não achava necessário”.
Para a acusação, a empreiteira Odebrecht está por trás da aquisição da unidade, como forma de beneficiar Lula. O apartamento, em São Bernardo do Campo (SP), fica no mesmo prédio e é contíguo ao imóvel em que mora o ex-presidente.
Os procuradores da Lava-Jato sustentam que Costamarques, primo distante de José Carlos Bumlai, amigo de Lula, era um “testa de ferro” do petista. Dizem que, para arcar com a compra, o engenheiro recebeu em 2010 R$ 800 mil da DAG Construtora, que por sua vez havia obtido repasses da Odebrecht.
A denúncia foi aceita pelo juiz Sérgio Moro na semana passada, o que fez Lula se tornar réu pela quinta vez. A falta de pagamentos de aluguel por Lula é um dos principais argumentos da acusação na ação penal. A investigação rastreou as contas bancárias de Lula e não encontrou os repasses, embora o ex-presidente tenha declarado os gastos desse aluguel no Imposto de Renda. Anteriormente, à Polícia Federal, o engenheiro disse que o valor “de alguns aluguéis” foi pago em espécie.
Ao depor, Costamarques também deu sua versão sobre como acabou se tornando proprietário da unidade: disse que, em 2010, quando o petista era presidente, Teixeira contou que o imóvel estava alugado para a Presidência e que comprá-lo poderia ser “um bom negócio”, mas que “só serviria se não quisesse morar no local”.
Ao indagá-lo, os investigadores estranharam o fato de o engenheiro argumentar que comprou a unidade “para investir” e não tenha se preocupado em calcular quanto obteve com aluguéis. Ele disse que não contabilizava os pagamentos a Teixeira em documentos e que “alguns foram deletados de seu computador”.
O apartamento foi comprado por R$ 504 mil por meio de cessão de direitos hereditários do espólio do proprietário anterior, morto em 2009. Uma das herdeiras disse, em declaração anexada aos autos, que seus advogados afirmaram à época que a venda seria para Lula.
Os investigadores perguntaram ao engenheiro por que, passados seis anos, ele não transferiu formalmente o imóvel para seu nome. Costamarques afirmou que só poderia tomar essa iniciativa quando os herdeiros pagassem o devido imposto de transmissão.
Ao receber a denúncia, Moro decretou o sequestro do apartamento “diante dos indícios de que foi adquirido com proventos do crime” e de que pertence de fato ao ex-presidente. O advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula e é sócio de Roberto Teixeira, negou que o dinheiro dos aluguéis fosse pago ao compadre de Lula. Segundo Martins, os valores “nunca foram usados para compensação de dívidas da prestação de serviços advocatícios” em favor de Costamarques. (Folhapress)