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Por Redação O Sul | 28 de abril de 2018
Ao contrário do que aconteceu com a Fifa (Federação Internacional de Futebol) e com a Conmebol (entidade que comanda o futebol na América do Sul), o maior escândalo de corrupção da história do futebol não abalou as estruturas vigentes na CBF (Confederação Brasileira de Futebol).
Banido por toda a vida pela Fifa de atividades relacionadas ao futebol, o presidente afastado da CBF, Marco Polo Del Nero, conseguiu manter seu grupo político no poder da confederação.
Em abril, conforme o jornal Folha de S.Paulo, quando já estava banido provisoriamente pela entidade que comanda o futebol mundial, o dirigente conseguiu manter sua influência no cenário nacional ao eleger o paulista Rogério Caboclo para comandar a CBF até 2023.
Ele é diretor-executivo de gestão da CBF e homem de confiança de Del Nero desde os tempos em que o dirigente comandava a FPF (Federação Paulista de Futebol).
Caboclo não se cansa de elogiar seu criador, mesmo com todas as acusações contra o dirigente, tanto na Fifa quanto no Justiça dos EUA.
O cenário é diferente do encontrado em outras grandes entidades do futebol mundial que tiveram dirigentes afastados por corrupção.
Na Fifa, o suíço Gianni Infantino colocou um ponto final na era Joseph Blatter, que estava no poder há quase duas décadas na entidade.
Ex-secretário geral da Uefa (entidade que controla o futebol na Europa), Infantino tenta dar mais transparência à Fifa, mas ainda é visto com desconfiança por causa de sua proximidade a Michel Platini.
Em 2015, o craque francês e Blatter foram banidos do futebol por oito anos. Platini havia recebido cerca de R$ 8 milhões do ex-presidente da Fifa em uma operação suspeita realizada em 2011 (ano de uma das reeleições de Blatter) por um trabalho supostamente realizado entre 1999 e 2000.
Já na Conmebol, o paraguaio Alejandro Domínguez foi eleito em janeiro de 2016 para comandar a entidade, que concentrou boa parte das acusações de corrupção no futebol feitas pela Justiça dos EUA.
A entidade sul-americana foi comandada por 26 anos por Nicolás Leoz, que cumpre prisão domiciliar desde que o escândalo de corrupção foi revelado, em maio de 2015.
Até o início da década, Leoz, o brasileiro Ricardo Teixeira e o argentino Julio Grondona eram os representantes da América do Sul no Comitê Executivo da Fifa, órgão máximo da entidade – renomeado como Conselho da Fifa.
Antes de assumir a confederação sul-americana, Domínguez denunciou que Leoz realizou depósitos suspeitos em bancos paraguaios.
Na Argentina, o grupo político de Grondona também perdeu poder. Ele morreu logo após a Copa de 2014 dando início a uma disputa política vencida por Claudio Tapia. Ao ser eleito, ele comandava um clube da terceira divisão.
Já na CBF, mesmo fustigado pelas acusações de corrupção e afastado provisoriamente pela Fifa, Del Nero conseguiu manobrar politicamente as federações estaduais e eleger o dirigente de seu interesse à presidência da entidade.
Apenas Corinthians, Flamengo e Atlético-PR deixaram de votar em Rogério Caboclo, que, com o apoio maciço das federações estaduais -graças à chancela de Del Nero à sua candidatura-, inviabilizou qualquer oposição.
Posse
A posse de Caboclo acontecerá somente em abril do próximo ano. Enquanto isso, a entidade será comandada pelo paraense Antonio Carlos Nunes, o coronel Nunes.
Ao ser denunciado pelo FBI em dezembro de 2015, o cartola paulista escolheu Nunes, então presidente da federação do Pará, para ser seu vice-presidente mais velho e assumir o poder na entidade nacional.
“Enquanto a maior entidade do futebol mundial o afasta de todas as atividades, o Del Nero segue por aqui manipulando a eleição da CBF. Infelizmente, cortou-se a árvore, mas ficaram as sementes”, lamentou o senador Romário (Podemos-RJ), que presidiu a CPI do Futebol, aberta em 2015 e encerrada um ano depois para investigar o envolvimento de brasileiros no escândalo de corrupção do futebol.
Na última quinta-feira, o STF (Supremo Tribunal Federal) enviou uma investigação sobre a cúpula da CBF oriunda do relatório paralelo da CPI para a Justiça Federal do Rio.
O inquérito apura suspeitas de crimes contra o sistema financeiro, sonegação fiscal, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato e falsidade ideológica, entre outros, supostamente cometidos por Del Nero, e os ex-presidentes da CBF, Ricardo Teixeira e José Maria Marin.