Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 1 de julho de 2018
Basta aparecer na saída dos dois maiores aeroportos de São Paulo com uma mala na mão para ser alvo da abordagem insistente. “Uber? Precisa de Uber, patroa?” A pergunta se repete algumas vezes e é ponto de partida para um esquema que oferece transporte irregular a passageiros de Cumbica, em Guarulhos, na Grande São Paulo, e Congonhas, na Zona Sul paulista – que, em geral, não estão cientes da clandestinidade da viagem.
A maioria diz ser condutor cadastrado em aplicativos como Uber, 99 e Cabify – apesar de algumas placas não constarem no cadastro das empresas.
E existem taxistas que recorrem ao artifício para fisgar quem desembarca de um voo. Por trás do esquema está a intenção desses motoristas de driblar a fila de espera por clientes e escapar das taxas dos aplicativos, que consideram abusivas – podem passar de 20% do valor da corrida.
Como a viagem é feita no mercado paralelo, para os usuários, é como se estivessem entrando no carro de um desconhecido qualquer, sem nenhum controle externo.
Em um dos testes, a reportagem do jornal Folha de S.Paulo chegou a ser deixada no meio do trajeto por um desses motoristas – que havia se esquecido do rodízio municipal de veículos.
Ao fazer a abordagem, o motorista pergunta o destino e saca o celular do bolso para entrar no aplicativo da Uber e simular o valor cobrado. Ainda aproveita para pedir até 30% acima da tarifa oficial.
À reportagem, por exemplo, foram cobrados R$ 80 para ir do terminal 2 de Cumbica até o bairro dos Campos Elíseos, na região central de São Paulo, em uma tarde de segunda-feira. O mesmo trajeto de 28 quilômetros fica por volta de R$ 60 na opção mais barata do aplicativo.
No caso de Cumbica, a abordagem é constante a poucos metros do totem instalado pela Uber que serve de ponto de encontro entre motoristas e passageiros. Há outro totem, da 99, também próximo dali.
Para sair do saguão do aeroporto ao local indicado na tela do celular é preciso passar por um “corredor polonês” de motoristas oferecendo corridas por fora do aplicativo.
Pela lei federal, esse tipo de transporte remunerado de passageiros é permitido apenas mediante intermediação das empresas. Fora disso, a prática é considerada infração gravíssima.
Em Cumbica, os motoristas clandestinos se reúnem e organizam um rodízio para determinar de quem é a vez de fazer a abordagem. Para quem percebe se tratar de uma corrida extraoficial, a agilidade no embarque é um argumento usado para convencer os passageiros.
No aeroporto de Guarulhos, o esquema de transporte irregular se tornou uma disputa de gato e rato com os fiscais. A prefeitura local afirma que 33 veículos clandestinos foram apreendidos desde 2017 no aeroporto e que a fiscalização foi intensificada.
A reportagem da Folha presenciou a articulação dos motoristas para fugir da fiscalização de dois guardas municipais de Guarulhos que faziam ronda a pé no terminal 2. Bastava os guardas se afastaram para eles se juntarem em frente à mureta de concreto e, com a mesma rapidez, sumiam quando a ronda municipal se aproximava.
O valor, 30% mais caro do que a tarifa calculada pelo aplicativo, foi cobrado sob a justificativa de que ele poderia trafegar pelos corredores de ônibus, apesar de não ter recorrido a essa possibilidade em nenhuma parte do trajeto.
Em Congonhas, segundo a secretaria dos Transportes, sete veículos clandestinos foram apreendidos neste ano. A Uber afirma que qualquer viagem feita fora do aplicativo é irregular. A 99 afirmou que a prática descrita na reportagem é proibida pela legislação. A Cabify ressalta que as chamadas das corridas devem ser feitas com o aplicativo.
Saiba quais os riscos
1- Motoristas de aplicativo podem fazer corridas fora da plataforma?
Não. A prática viola os termos de adesão aos aplicativos e é considerada transporte ilegal de passageiros, infração gravíssima segundo o Código Brasileiro de Trânsito.
2- Taxistas podem oferecer corridas fora do taxímetro? Não. Lei federal determina que o uso do taxímetro é obrigatório em cidades com mais de 50 mil habitantes.
3- Quais são os riscos aos passageiros? Não há garantia de que o motorista teve seus antecedentes criminais checados, o que acontece com todos os que são aceitos nas plataformas. Ao aceitar corridas feitas fora dos aplicativos, o passageiro também deixa de ter direito à cobertura do seguro que as plataformas são obrigadas por lei a disponibilizar em caso de acidentes.
4- Como evitar embarcar em uma corrida irregular? Acione o aplicativo e cheque a placa e o nome do motorista que aparecem na tela do celular antes de entrar no carro. Não aceite a ajuda de estranhos e, se tiver dúvidas, peça ajuda a funcionários identificados com o logo do aplicativo que ficam nesses pontos de encontro.