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Política Apoiado pelo PSDB, Eduardo Leite se movimenta para eleições de 2022

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Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).

Foto: Dani Barcellos/Palácio Piratini
Governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB).(Foto: Felipe Dalla Valle/Palácio Piratini)

Depois de aprovar um pacote de ajuste fiscal inédito, o governador gaúcho entra no jogo para a próxima disputa presidencial.

No mês de fevereiro, quatro anos atrás, o então deputado federal Jair Bolsonaro marcava 7% das intenções de voto em seu melhor desempenho nas pesquisas eleitorais, que apresentavam Aécio Neves (PSDB), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Marina Silva (Rede) na liderança. Dois anos e meio depois, Lula estava preso, Aécio havia trocado o Senado pela Câmara por medo de não ser eleito (e acabar como o petista) e Marina contabilizava apenas 1% no resultado final — Bolsonaro fora eleito presidente da República com 57 milhões de votos.

A memória ajuda a ilustrar quanto a realidade muda na política em pouco tempo e de maneira radical. Por outro lado, traçar os cenários do que poderá acontecer em 2022 é fundamental para as negociações políticas que contribuem para esse desfecho — ou seja, as expectativas, de certa forma, ajudam a definir os caminhos que se seguirão.

Neste momento, por mais paradoxal que possa parecer, quanto maiores as chances de Bolsonaro se fortalecer para uma possível reeleição, maior a probabilidade de que o candidato de centro em 2022 seja alguém que não tenha tanto a perder. Nesse cenário, entra no jogo o nome do atual governador do Rio Grande do Sul, o gaúcho Eduardo Leite, do PSDB.

Os dois principais contendedores nesse campo até então, o governador de São Paulo, o também tucano João Doria, e o apresentador de TV, empresário e empreendedor social Luciano Huck, têm menos certezas do que dúvidas neste momento. Aliados do governador paulista afirmam que, se a eleição fosse no mês que vem, com Bolsonaro e o PT fortes em polos opostos, ele não tentaria uma candidatura presidencial e buscaria a reeleição ao Palácio dos Bandeirantes, o maior ativo do tucanato depois da histórica derrota de 2018.

Huck, em artigo no início deste mês intitulado “Mais formaturas, menos funerais”, apresentou uma plataforma vaga contra os males da desigualdade, a começar por uma reforma em que os milionários, como se definiu, paguem mais impostos. No final, defendeu a entrada de sua geração na política e atestou: “Sigo torcendo e empolgado com o país”.

Enquanto isso, Leite, um governador de primeiro mandato cuja experiência anterior eram a vereança e a prefeitura da gaúcha Pelotas, uma cidade de 340 mil habitantes, começou a se movimentar. O primeiro sinal de alerta entre os tucanos surgiu de uma entrevista do presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, em que colocava Leite ao lado de Doria como uma das possíveis alternativas para a Presidência em 2022.

“Deu um trabalho gigantesco aquela declaração. O que o Doria mais queria era que a candidatura dele fosse chancelada. Mas a resposta do Bruno na entrevista, embora aparentemente tucana, foi extremamente polêmica”, relembrou um tucano que atuou para acalmar o governador paulista. Em vez de negar qualquer pretensão, como costumam fazer os mais experimentados, Leite, de 34 anos, disse no mês seguinte: “Me chamaram para esse jogo do centro”.

Historicamente rachado, o tucanato nunca engoliu a guinada à direita que Doria impôs ao partido. Por isso, acumularam-se os apoios à ideia de que Leite pode ser um nome viável e merece ser mantido como alternativa de longo prazo. “Conversei com ele longamente. É uma pessoa equilibrada, não vai no embalo. Ele sabe que tem de dar tempo ao tempo. O que eu gosto no Eduardo é que ele não está se precipitando e sabe de uma coisa muito importante: não adianta você querer ser (candidato). Os outros precisam querer que você seja”, disse à imprensa, o decano do ninho, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, um dia depois de um longo encontro com o gaúcho na Fundação FHC, em São Paulo.

Apesar da diferença de 54 anos entre os dois, a relação tem raízes profundas. FHC esteve na Pelotas natal de Leite muito antes de o gaúcho nascer, ainda em 1955, para pesquisas locais sobre a escravidão na Região Sul do país, tema de sua tese de doutorado e base teórica de um de seus livros clássicos — Capitalismo e escravidão no Brasil meridional, de 1962. Três décadas depois, já senador, voltou à região em outubro de 1988 para apoiar candidatos do então recém-criado PSDB. O nome do partido na disputa pela prefeitura de Pelotas era o professor universitário e advogado José Luis Marasco Cavalheiro Leite — pai de Eduardo Leite, que acabou em quinto lugar. Vinte e quatro anos depois daquela tentativa frustrada, o filho conquistaria o posto, em 2012.

Leite não desprezou as ligações históricas. Recém-empossado como governador, chegou ao gabinete de FHC no centro de São Paulo, no dia 28 de janeiro de 2019, para uma visita informal depois de um dia de eventos oficiais na capital paulista. Nas mãos, tinha um presente para o ex-presidente, um exemplar de Bibliotheca pública pelotense. O livro, que conta a história da instituição, faz uma referência a FHC, que esteve no prédio histórico fazendo pesquisas para sua tese, lá nos anos 1950. Exceto a conversa reservada com o ex-presidente, tudo naquela tarde foi registrado pelas lentes do fotógrafo oficial da gestão de Leite e divulgado no site do governo. Na época, o jovem governador ainda não aparecia no cenário nacional. No máximo, era visto como uma promessa de renovação num horizonte distante, talvez a eleição presidencial de 2026.

O ex-presidente, hoje fora do dia a dia partidário, não é o único entusiasta do gaúcho. O ex-presidente do Banco Central Arminio Fraga, que em 2018 apoiou a candidatura do Partido Novo, mas nunca se distanciou dos tucanos, é um dos que elogiam o governador. “Leite demonstra coragem para tomar decisões políticas difíceis”, disse Fraga, que esteve com Leite num evento no Rio de Janeiro no ano passado e, de lá para cá, vem falando bem do governador. A amigos, Fraga tem demonstrado preocupação com a falta de uma coalizão forte de centro, sobretudo diante da incerteza de uma candidatura Huck. O economista tem assessorado o apresentador em seu recente interesse pela política, mas mantém os olhos atentos a outras possibilidades.

Parte do encanto despertado por Leite se deve às duras reformas que ele conseguiu finalizar no Rio Grande do Sul na semana passada, depois de muita resistência, para tentar tirar o estado do atoleiro fiscal em que se encontra. O ajuste vai aumentar a contribuição previdenciária de servidores a patamares bem mais altos que o padrão nacional. Algumas categorias terão uma mordida de até 22% dos rendimentos — o padrão em outros estados é 14%. Também foram instituídas regras mais duras para a promoção de servidores públicos — as promoções por tempo de serviço deram lugar a critérios técnicos. No total, o pacote deve levar a uma economia de R$ 18 bilhões em dez anos num dos estados com as finanças mais apertadas do país — 80% da arrecadação está comprometida com o pagamento de salários e aposentadorias.

A reforma provocou a ira do funcionalismo gaúcho. No fim do ano passado, mais de 30 mil professores cruzaram os braços por 54 dias. O governador passou a conviver com cartazes que o chamavam de “Mãos de Tesoura”. Mas seus adversários não podem acusá-lo de tê-los pegado de surpresa, já que as medidas haviam sido prometidas na campanha de 2018. Leite se esforça para passar a imagem de um político disposto ao diálogo e preocupado em construir pontes — uma espécie de anti-Bolsonaro. A apresentação da reforma, em outubro, foi seguida de uma minuta enviada a sindicatos. Em alguns casos, pelas mãos do próprio governador.

O que chamou a atenção do empresariado dentro e fora do estado foi sua capacidade de levar adiante reformas que andam a passos lentíssimos ou patinam na esfera federal e em outras plagas. “Ele sempre se mostrou muito aberto ao diálogo”, disse Pedro De Cesaro, presidente do Instituto de Estudos Empresariais (IEE), think tank liberal sediado em Porto Alegre e que congrega os donos de 25% das empresas gaúchas. Desde o ano passado, o grupo mantém reuniões informais com o governador, para avançar com a agenda liberal no estado. Um resultado desses encontros foram as mudanças no código ambiental gaúcho, então um dos mais engessados do país. E que, na visão do empresariado, impunha atrasos à abertura de negócios. Leite claramente quer que o conhecimento sobre seus feitos extrapole as fronteiras sul-rio-grandenses. Um levantamento do jornal Correio do Povo, de Porto Alegre, mostrou que entre 1º de janeiro e 29 de novembro do ano passado, o tucano passou um em cada cinco dias fora do estado. Visitou Estados Unidos, Inglaterra, Chile, Uruguai e Cingapura em “missões comerciais”. Além disso, deu palestras em três eventos em São Paulo promovidos pelos bancos BTG, Credit Suisse e Santander. Em setembro, em Nova York, participou do Lemann Dialogue, conferência para discussão de políticas públicas financiada pela ONG do bilionário brasileiro Jorge Paulo Lemann.

Diante dos fatos, Leite nutre uma ambiguidade típica dos tucanos sobre seu futuro político. Por um lado, rejeita ser colocado como alternativa para 2022, e diz que Doria é “naturalmente um nome que sempre estará na disputa” para esse cargo. Ao mesmo tempo, deixa aberta a possibilidade de ajudar na articulação de uma alternativa de centro, a depender do contexto político ou dos humores do eleitorado. “Quando for o momento da construção de uma candidatura, de um projeto, estarei a postos para ajudar a articular um plano de governo, para ajudar a estruturar campanha, comunicação. Afinal, sou um ser político”, disse a reportagem no final de janeiro, em sua sala no Palácio Piratini, a sede do governo estadual, um edifício neoclássico erguido em 1921 e com uma vista panorâmica para o centro de Porto Alegre. Enquanto tomava um café tirado por ele mesmo, dava a entender que aguarda uma espécie de aclamação do partido para testar um lance mais ousado. “Estarei a postos para dar minha colaboração onde entenderem que melhor eu possa ser aproveitado. Não estou buscando um projeto pessoal”, disse.

Jovem e bonito, Leite convive há anos com boatos de que seja gay. Na campanha de 2018, foi vítima de um ataque apócrifo. Uma foto em que aparece na praia, torso nu, ao lado de outro rapaz, foi disparada via WhatsApp com a seguinte mensagem: “É isso que queremos para o Rio Grande? O primeiro governador homossexual (sic) do Brasil?”. Na verdade, a foto foi tirada em 2012 durante uma viagem da família Leite ao balneário uruguaio de Punta del Este. O rapaz é seu irmão Ricardo — a mãe, Rosa, e o irmão Gabriel, que também estavam na cena, foram cortados da imagem usada como ataque.

Na campanha ao governo gaúcho, apoiadores cobraram que Leite aparecesse com uma namorada para dissipar a boataria. Ao menos uma vez, o assunto virou pauta das reuniões de estratégia da candidatura. Segundo pessoas próximas, a ordem de Leite foi evitar responder aos ataques — seja negando ou confirmando os rumores. A equipe de José Ivo Sartori, o então governador do MDB que tentava a reeleição e disputava o segundo turno contra Leite, chegou a cogitar trazer o assunto à tona, mas logo concluiu-se que não fazia sentido usar essa estratégia contra o adversário. “A sociedade não permite mais esse tipo de ataque”, disse uma pessoa que participou das discussões.

Se a eleição fosse hoje, Doria não disputaria a Presidência e buscaria a reeleição, afirmam aliados.

Questionado pela imprensa, Leite disse que optou por não tratar desse assunto. “Não respondo sobre esse tema, porque responder seria admitir que as pessoas têm o direito de perguntar, e isso não contribui em nada com a política e o que ela deve significar na vida das pessoas”, disse. Para ilustrar o ponto, recorreu a uma história tirada do filme A conspiração. No drama político, de 2000, uma senadora cotada para ocupar o lugar de vice-presidente dos EUA tem de lidar com uma foto antiga, desencavada por adversários, em que ela supostamente aparece numa cama rodeada por homens. Em uma conversa particular com o presidente sobre a imagem, ela nega que seja a pessoa na foto. Quando o personagem, interpretado por Jeff Bridges, pergunta à senadora o motivo de não ter negado então os rumores desde o início, ela responde que a resposta já seria uma admissão de que as pessoas tinham o direito de perguntar sobre o assunto — e não tinham. “Claro, era um filme, mas honestamente acredito na mesma condição. Confirmando ou negando, seja qual fosse a resposta, seria uma resposta que entende que isso é um assunto. E não é”, disse o tucano.

Desde que assumiu o governo, Leite retomou uma tradição que havia sido quebrada pelo governador Germano Rigotto (MDB), no começo dos anos 2000. Mudou-se de mala, cuia e chimarrão para o Piratini, onde ocupa uma suíte. Aos fins de semana, é comum vê-lo por ali com visitas — em geral os pais e os irmãos, Gabriel, delegado da Polícia Federal, e Ricardo, auditor fiscal do Ministério da Agricultura. Ou então Paula Mascarenhas, sua sucessora à frente da prefeitura de Pelotas. A mudança coincidiu com a compra — segundo Leite, com dinheiro do próprio bolso — de equipamentos de ginástica, como pesos e halteres, instalados num espaço anexo a seu quarto. Por ali, três vezes por semana, pela manhã, faz exercícios com um personal trainer para aliviar as dores de uma hérnia de disco, resultado de má postura. Raramente sai, a não ser para agendas públicas. A rotina só é quebrada em visitas a amigos de Pelotas que moram na capital gaúcha ou idas a ensaios de grupos de samba, onde costuma se arriscar no pandeiro.

Apesar da aprovação das reformas, Leite ainda tem um difícil caminho à frente do governo gaúcho. Os funcionários do Executivo recebem os salários com atrasos há nada menos do que cinco anos. Na campanha, ele prometeu resolver o problema no primeiro ano. Sentado na cadeira de governador, o discurso passou a contemplar o óbvio: a falta de dinheiro. A oposição, contrária à venda de parte das ações do banco estatal Banrisul, que traria R$ 2,3 bilhões aos cofres públicos, travou a operação, o que piorou as contas do governo — até agora não há uma projeção para o fim dos parcelamentos.

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