Sexta-feira, 03 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de junho de 2020
Economias que estavam inoperantes estão retomando as atividades. As praias estão cheias. Mas a pandemia mundial está se acelerando, até em muitos países que estão abrandando suas restrições. Foram necessários três meses para que o mundo alcançasse 1 milhão de casos confirmados; o acréscimo do 1 milhão mais recente precisou de uma semana.
Apesar de a população dos países europeus e dos EUA esperar que o afrouxamento dos regimes de confinamento marque o começo do fim, ele é apenas o fim do começo. A pandemia entra numa nova fase na qual, enquanto não houver um tratamento ou vacina, o mundo terá de aprender a conviver com o vírus.
Os números são sombrios. O acumulado global de casos confirmados superou 10 milhões, dos quais 25% só nos EUA. Os novos casos nos EUA já superaram o pico de abril e, com a disparada dos casos nos Estados do sul e do oeste, Flórida e Texas reverteram suas reaberturas.
Ainda nas Américas, hoje o epicentro da pandemia, o total de casos no Brasil ultrapassou um milhão, e o de óbitos superou os 50 mil, o que o torna o segundo país a suplantar a marca, após os EUA. Mais de 500 mil já morreram no mundo.
Embora boa parte da propagação inicial do vírus após ele ter extrapolado a China e o Leste da Ásia tenha ocorrido no Ocidente rico, o foco agora é o mundo em desenvolvimento, incluindo alguns dos países mais populosos do mundo. Os novos casos dispararam do México à África do Sul, passando pela Índia. Em alguns casos, a recusa de líderes autocratas populistas em levar o vírus a sério — Jair Bolsonaro o chamou de “uma gripezinha” — alimenta o incêndio.
Mas o confinamento, que ajudou a amenizar a Covid-19 nos países mais ricos, revelou-se financeiramente menos acessível ou menos eficaz nos países emergentes. O distanciamento social é difícil de sustentar em favelas, onde várias gerações de uma mesma família vivem comprimidas em condições insalubres.
Em países com grande economia informal, muitos que conseguem trabalhar podem passar fome. O precipitado confinamento adotado na Índia imobilizou milhões de trabalhadores migrantes sem ganha-pão ou respaldo – fazendo com que muitos começassem a voltar para seus vilarejos de origem. Alguns desses fatores são semelhantes em subgrupos mais pobres de países mais ricos.
O grande custo e a suspensão dos confinamentos nacionais permitem concluir que até os países ricos farão tudo o que podem para evitar impor esse regime pela segunda vez. Para muitas empresas, isso significaria o empurrão final rumo à falência. As populações poderão não voltar a aceitar restrições rígidas.
Diante disso, as economias avançadas e as emergentes estão hoje, em certa medida, no mesmo barco. Elas dependem de medidas de mitigação, além de quarentenas ou suspensão de atividade, mais localizadas para conter os surtos. Mas começarão a partir de níveis muito diferentes de infecção — e com capacidades muito distintas de conviver com o vírus.
Os países que têm meios para isso terão de desenvolver regimes abrangentes de testagem, rastreamento e isolamento, e “disparar” a capacidade dos hospitais. Todos os países terão de investir, de algum jeito, em testagem de massa (a Índia tenta testar 29 milhões de moradores de Nova Déli).
Muitas medidas são universais: o distanciamento social, a boa higiene das mãos e a “etiqueta para tossir”; máscaras para desacelerar a transmissão, principalmente para os que não sabem que estão infectados. É necessária vigilância especial em todos os lugares em que as pessoas se aglomeram em locais de trabalho ou residências, das processadoras de carne nos EUA e na Alemanha até dormitórios de migrantes em Cingapura.
Mas, como disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, na semana passada, a falta de solidariedade no combate ao vírus é mais perigosa que o próprio surto. Não é tarde demais para que a liderança e a cooperação mundiais façam a diferença. Num momento em que a pandemia entra em marcha acelerada, no entanto, fica cada vez mais nebuloso quem conseguiria ou estaria disposto a oferecer isso.