Terça-feira, 23 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de agosto de 2020
Após o MP (Ministério Público) de Mato Grosso pedir uma investigação sobre as ofensas de um padre à menina de 10 anos que foi estuprada pelo tio ao longo de quatro anos no Espírito Santo, a Polícia Civil intimou o religioso a prestar depoimento. Ele já compareceu à delegacia de Alta Floresta (MT), onde foi ouvido. Outras diligências continuam sendo realizadas.
Ramiro José Perotto havia escrito no Facebook que a criança abusada sexualmente “gostava de dar”. As postagens já foram deletadas e o padre excluiu seu perfil, mas capturas de tela foram registradas e continuam circulando na internet e o MP requisitou à Polícia Civil a instauração de procedimento investigativo “para averiguar possível cometimento de crime de apologia ao estupro”.
O delegado da Polícia Civil que responde pelo município de Carlinda (MT), Pablo Carneiro, determinou na última sexta-feira (21) a instauração de um Termo Circunstanciado de Ocorrência por crime de apologia supostamente praticado pelo religioso.
O ofício foi remetido à Igreja para que sejam informadas as “providências administrativas de apuração da conduta” do sacerdote Ramiro José Perotto. A CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil), por sua vez, recomendou que a questão fosse dirigida à diocese responsável pela Paróquia São Paulo Apóstolo, em Carlinda (MT), sem mencionar repúdio aos insultos.
Sem noção
Os comentários do padre Ramiro foram feitos em meio a uma conversa sobre o caso da criança, que após ter engravidado, passou por um procedimento de aborto respaldado pela legislação. A interrupção da gravidez é autorizada a vítimas de estupro, a mulheres que correm risco de morte em razão da gravidez, e em caso de o feto for anencefálico.
O padre Ramiro, porém, demonstrou discordar que a criança fosse uma vítima: “Você acredita que a menina é inocente? Acredita em Papai Noel também? Duvido uma menina ser abusada com 6 anos e por quatro anos e não falar. Aposto. Ela compactuou com tudo e agora a menina é inocente kkkk. Se gosta de dar, então assuma as consequências”.
Após a repercussão nas redes sociais, gerando indignação entre internautas, que criticaram a fala do padre, ele se manifestou novamente, desta vez com um pedido de desculpas. A Defensoria Pública de Mato Grosso, porém, não engoliu:
“É inadmissível que um representante da Igreja Católica, instituição com grande influência na sociedade na qual está inserida, se valha das redes sociais, com largo alcance, para disseminar ódio e fazer apologia à cultura do estupro, transferindo a responsabilidade do fato criminoso para a vítima”, afirma em trecho.