Sexta-feira, 19 de abril de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Lenio Streck Aprende-se a ser burro? Por uma epistemologia da estultice

Compartilhe esta notícia:

Como é possível que tenha virado normal a cena de um policial tirando foto de um reacionário pedindo "julgamento militar" (sic) para ministros do STF? (Foto: Reprodução)

Volto aos clássicos. E de novo a Machado. Digamos que “sou (a)feito a Machado”. Todos já devem ter lido os conselhos que um pai dá ao seu filho Janjão ao completar 21 anos: você que tem inópia mental, será um medalhão. Em síntese, o pai diz ao seu filho que ele será um idiota com chances de se dar bem. Confiram no conto Teoria do Medalhão, de Machado de Assis.

Preocupados em medir a burrice humana, um pool de Universidades (Shimun University, Scheißwald Universität e Universidad de Matocagao III) e Institutos (Imperial Instituto Brás Cubas e Navah Institute) está pesquisando o tema.

Na verdade, o disparo foi dado pela foto do frontispício desta coluna hebdomadária. Os cientistas-professores dessas universidades ficaram com a foto. Por isso acharam que estava na hora de pesquisar o assunto. Com efeito, pouco ou nada se sabe acerca dos limites da burrice e da inópia. Há muita opinião fruto de intituivismo, mas não há dados empíricos concretos.

Miremos bem a foto de novo. Os pesquisadores ficaram horas observando. Será a estultice uma ciência? Se sim, então é possível aprender a ser estulto, burro, néscio?

Voluntários serão submetidos a aulas com currículo como “negacionismo I, II e III”, “formação de grupos de whatsapp I, II e III” e coisas desse jaez. Ao final, a pesquisa buscará responder à pergunta: o participante saiu mais burro do que entrou? Outra equipe analisará simplesmente alunos de algumas faculdades, como participantes passivos.

O texto base para o pool que fará as pesquisas é Teoria do Medalhão, de Machado. Haverá teste sobre o conto. Aquele participante que não entender já irá para a classificação sênior. Pulará etapas.

Fazendo uma epistemologia sobre a imagem acima e falando, agora, a sério, digo que não concordo com a frase “uma imagem vale mais que mil palavras”. Uma palavra é que vale mais que mil imagens.

Como chegamos a esse ponto? Como é possível que tenha virado normal a cena de um policial tirando foto de um reacionário pedindo “julgamento militar” (sic) para ministros do STF? Julgamento militar? Golpe? Do que esse sujeito está falando? E o policial achou bonito? Que nada seja onde fracassa a palavra, dizia meu poeta preferido.

E aí há não há discurso público. Não temos uma linguagem compartilhada. Não falamos as mesmas coisas. Na nossa Babel, é aceitável vermos cenas como essas. Porque perdemos a capacidade de comunicação. E de indignação. Prova disso é a inutilidade desta coluna. O sujeito da foto é que está certo, dirão alguns.

O filósofo Heidegger chamava a isso de Gerede, tagarelice. Falatório. O problema é que só há falatório. E aí aquele que tenta reconstruir a história institucional do nosso vocabulário é que está errado. Claro: num país de fugitivos, como é visto quem anda na contramão?  O solipsismo venceu. O homem comum, o solus ipse, o viciado em si mesmo, ganhou a parada.
I rest my case!

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Lenio Streck

E em São Leopoldo manifestantes fizeram continência para a Cloroquina!
Por que ler os clássicos: a vez da teoria do medalhão
https://www.osul.com.br/aprende-se-a-ser-burro-por-uma-epistemologia-da-estultice/ Aprende-se a ser burro? Por uma epistemologia da estultice 2021-03-20
Deixe seu comentário
Pode te interessar