Domingo, 03 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 4 de agosto de 2018
O arcebispo de Santiago, Ricardo Ezzati, afirmou neste sábado (4) que não irá liderar o Te Deum do Chile, uma cerimônia religiosa anual em que participam os principais políticos e clérigos do país, em meio a um escândalo de abuso sexual que provocou ondas de choque na nação católica conservadora.
Ezzati, que há muito lidera a cerimônia e está entre as figuras religiosas mais reconhecidas no Chile, disse em um comunicado que considera “prudente não liderar o tradicional Te Deum”, dada a “profunda crise pela qual a Igreja está passando”.
A polícia chilena investiga 38 acusações de abuso sexual contra 73 bispos, clérigos e colaboradores não ordenados, envolvendo 104 vítimas. Está entre as investigações mais agressivas da Igreja realizadas por qualquer autoridade judicial.
No final de julho, promotores chilenos chamaram Ezzati de suspeito em uma investigação sobre alegações de que ele e outros clérigos encobriram abuso sexual infantil por membros da Igreja Católica, e o convocaram para depor. Ezzati manteve sua inocência durante depoimento neste sábado.
“Estou certo de que nunca encobri ou obstruí a Justiça e cumprirei minhas responsabilidades como cidadão para fornecer todos os antecedentes necessários para chegar à verdade”, disse Ezzati.
O anúncio de Ezatti vem um dia depois que líderes locais da Igreja pediram perdão pelo abuso sexual de crianças cometidas por clérigos e concordaram em abrir seus arquivos e intensificar a colaboração com os promotores chilenos que investigam os casos.
Em junho, a polícia apreendeu documentos da corte eclesiástica da diocese de Santiago e, desde então, realiza buscas surpresa em escritórios da Igreja em todo o país, intimando bispos do Chile e do Vaticano a depor.
A crise sacode a Igreja Católica do Chile desde 2011, época em que o padre chileno Fernando Karadima foi considerado culpado pelo Vaticano por abusar de crianças nas décadas de 1970 e 1980. Acusações de abuso sexual contra vários membros da Igreja Católica levaram o papa Francisco a abrir uma investigação no país sul-americano, levando a Igreja a expulsar bispos e outros padres acusados de praticar ou encobrir abusos contra menores.
Freiras
Um grupo de freiras que saiu da Igreja Católica denunciou ter sido “por anos” alvo de abusos sexuais de padres no Chile. Segundo as religiosas, os abusos foram ignorados pelas autoridades eclesiásticas na congregação “Irmãs do Bom Samaritano”, na região de Maule, conforme informações divulgadas por um canal de TV local.
As religiosas asseguraram que também foram exploradas pelos padres em suas atividades no convento. Depois de terem denunciado os crimes, elas foram punidas e expulsas da congregação sem qualquer compensação.
Yolanda Tondreaux, uma das freiras, disse ao programa que foi beijada e acariciada por um padre, assim como outras integrantes do convento. Ela faz parte de um grupo de 23 freiras expulsas da congregação, sem ressarcimento econômico, por ter feito a denúncia de abusos.
Outras duas religiosas, Eliana Macías e Consuelo Gómez, disseram ter conversado em janeiro com o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, enviado pelo papa Francisco para ouvir vítimas de abusos da Igreja. Mas afirmaram que, até o momento, não receberam resposta oficial sobre suas denúncias.