Terça-feira, 13 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de fevereiro de 2018
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Pouca coisa soa mais artificial do que político, acadêmico ou articulista quando atribui a culpa das nossas mazelas históricas às “elites”. Há várias razões. Primeiro é que, sem exceção, quem invectiva contra as elites pertence… às elites. Segundo, porque nenhum deles explica a que elites está se referindo. Assim, criticá-las é vazio de sentido e de significado, não quer dizer nada e nem leva à conclusão alguma.
Os detratores das elites são políticos demagogos ou ligados às esquerdas, à ideia da luta de classes e do mundo dividido entre opressores e oprimidos. É curto e conveniente reduzir tudo à expressão “elites”. Seria honesto dizer que elites são os ricos, mas só os patrões, os empregadores, os empresários da iniciativa privada. O patrão Estado, este é tido (e é mesmo) como o empregador ideal, que paga bem, pouco exige, tolera greve e nunca demite.
Esse conceito de elite, fluido e impreciso, cai como uma luva para muita gente como professores das universidades públicas, juízes, Ministério Público, altos funcionários de estatais e de todas as esferas do poder, principalmente do Judiciário e do Legislativo. É que eles pertencem ao universo estrito situado no topo da pirâmide social, o 1% mais rico da população. Há mais servidores públicos nessa posição privilegiada do que empresários e investidores. Então, pega mal explicitar. Assim, elites são os outros.
Os que tomam as elites como os inimigos do País, do progresso e dos trabalhadores são os mesmos que falam de “precarização do trabalho” na reforma trabalhista de Michel Temer. Aprovaram-na para o privilégio de quem? Das elites, é claro. Nenhum deles – notem bem, nenhum – menciona, nem mesmo superficialmente, o quanto é precário o emprego de trabalhadores da economia privada, em relação ao emprego do setor público.
Pode-se dizer, sim, que a reforma trabalhista torna mais precárias as relações de trabalho. Uma carteira assinada garante mais direitos e coberturas do que uma ocupação informal. Mas, em comparação com um emprego do Estado, precário é o emprego formal, de carteira assinada. Uma ocupação informal pode ser – e frequentemente é – melhor remunerada do que um emprego de carteira assinada. E um trabalho informal é melhor do que o desemprego, do que não ter nenhuma ocupação.
Enfim, as elites, em certos círculos, são as parcelas privilegiadas, em contraposição ao povo. Este teria uma alma, autêntica, autônoma, de pessoas basicamente boas, onde se acumulam todas as virtudes e energias de um País. Tenho sérias dúvidas.
Se isso é verdadeiro, então como explicar as pesquisas de opinião, onde quem aparece bem na foto, para a Presidência da República, são Lula e Bolsonaro? O primeiro, condenado na Justiça por corrupção a 12 anos de cadeia, já em instância superior. O segundo, um político tosco, sem história, sem partido (como Fernando Collor), sem nunca ter administrado nem uma lojinha de R$ 1,99 (como Dilma), e que tem no armamento da população uma das suas ideias centrais para combater a violência. Com tais preferências, fica difícil sustentar que o povo é melhor do que as suas elites.
titoguarniere@terra.com.br
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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