Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 4 de novembro de 2016
A crise econômica está levando os brasileiros endividados a buscarem as alternativas mais extremas para conseguir uma renda extra. Pode parecer estranho, mas uma delas é vender o próprio cabelo.
Nas duas principais empresas que compram cabelos humanos para confecção de perucas e apliques, entre cinco e dez pessoas, a maioria mulheres, aparecem todos os dias para oferecer as madeixas. E 90% delas dizem que só decidiram pelo corte porque estão precisando do dinheiro para pagar contas – de luz ou água, empréstimos no banco ou o rotativo do cartão de crédito –, contam os proprietários. Os valores pagos começam em 200 reais, mas podem chegar a 1,2 mil reais.
E a oferta deve continuar alta. Dados do Serasa Experian mostram que hoje há quase 60 milhões de brasileiros inadimplentes no País, um recorde.
Os cabelos mais valiosos são os loiros, que podem chegar a 1,2 mil reais se os fios forem longos e volumosos. Já o preço pago por cabelos de tons mais escuros depende da avaliação dos profissionais. Mechas com 50 ou 60 centímetros de comprimento valem mais, podendo chegar a 600 reais, enquanto as mais curtas, de 30 centímetros, recebem a partir de 200 reais. Os cabelos não podem ter tintura.
Antes, lembra Nilta Murcelli, uma das autoridades brasileiras em perucas e alongamentos, bastava oferecer o corte gratuito e ficar com os cabelos sem nada pagar. Mas, de 15 anos para cá, os cabelos começaram a ser vistos como mercadoria e negociados. Não existem dados oficiais sobre este mercado no País, que é totalmente informal.
Exportação.
Dados da UN Comtrade, banco de dados das Nações Unidas que reúne estatísticas do comércio de commodities, mostram que, em 2016, o Brasil exportou 461 quilos de cabelos humanos, gerando 106 mil dólares, cifra irrisória na balança comercial.
Já as importações de cabelos somaram 308 mil dólares. A Índia, uma das maiores vendedoras de cabelos humanos do mundo, exportou 37 milhões de dólares no ano passado.
No Brasil, informa Nilta, as vendas são muito pulverizadas e existem até “caixeiros viajantes dos cabelos”. É gente que anda pelo interior do País comprando a matéria-prima e revendendo nas capitais para fabricantes de perucas e apliques, como ela. Os preços variam de 16 reais a 28 reais o quilo, dependendo do tipo de cabelo, assinala, lembrando que para fazer uma peruca gasta-se, no mínimo, 300 gramas do material.
Peruca de 2 mil reais.
Se a oferta de cabelos aumentou, os fabricantes de perucas e apliques dizem que as vendas encolheram entre 10% e 20% com a crise. Uma peruca de cabelos humanos custa a partir de 2 reais mil (curtas de tons mais escuros), mas pode chegar a 12 mil reais, se for loira e longa.
Nilta, por exemplo, fabrica 200 perucas por mês, mas atualmente vende 60, incluindo o que exporta, a países como Itália e Estados Unidos. Ela parcela a venda no cartão de crédito e dá desconto para pagamento à vista. Sua empresa tem 40 funcionários, mas já foi maior. E vem diversificando as atividades, oferecendo cursos para cabeleireiros e alugando salas para treinamentos relacionados à estética.
Já Francisco Braz, dono da loja O Rei dos Cabelos, aponta que, com a crise, ficou mais seletivo nas compras. Mas espera que as vendas melhorem. “Vou comprando até onde puder e espero que as vendas melhorem”, projeta ele, observando que os apliques têm mais saída do que as perucas, pois vende cem por mês, contra 15 a 20 perucas. (AG)