Sexta-feira, 07 de novembro de 2025

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Futebol Atitudes das torcidas de Boca e River explicam como o racismo atua na sociedade argentina

Compartilhe esta notícia:

Casos de racismo marcaram partidas de River Plate e Boca Juniors contra times brasileiros. (Foto: Reprodução)

Em duas semanas, três casos explícitos de racismo na Libertadores envolveram torcedores argentinos do Boca Juniors, River Plate e Estudiantes em jogos no Brasil e na Argentina. Apesar da indignação dos envolvidos e da abertura de investigação por parte da Conmebol, essas situações mantêm-se no cotidiano do futebol sul-americano.

A postura de Leonardo Ponzo, torcedor do Boca Juniors que fez imitações de macaco para a torcida do Corinthians na noite da última terça-feira, em São Paulo, revela, inclusive, um traço cultural ainda arraigado na sociedade argentina, que, timidamente, segundo estudiosos, começa a ser discutido. Detido ainda no estádio, ele pagou fiança ontem e retornou a Buenos Aires. Antes de chegar ao seu país, apareceu numa publicação na rede social de um amigo, que ironizava sua detenção com a frase: “Nada por aqui!” com um emoji de macaco ao lado.

Na visão de boa parte dos argentinos, a atitude de Ponzo foi apenas uma brincadeira comum no futebol utilizada para provocar o adversário. Os torcedores do país muitas vezes são informados pelos clubes de como deve ser o comportamento em estádios brasileiros para evitar atos racistas, pois, no Brasil, racismo é crime.

“O ponto mais interessante e necessário é que os argentinos não se consideram racistas. Não tem uma reflexão profunda sobre o racismo. Só um punhado de intelectuais, de políticos progressistas e cientistas sociais colocam essa questão na mesa. Isso é central para entender a Argentina”, diz o argentino José Garriga Zucal, doutor em Antropologia Social pela Universidade de Buenos Aires (UBA), que trabalha com o tema de violências nas torcidas de futebol do país.

Internamente, a xenofobia abraça o racismo, sem grandes distinções. No futebol local, esse é o principal ponto de discriminação. A torcida do Boca Juniors, por exemplo, sofre atos xenófobos por causa de sua origem operária vinculada à presença de imigrantes da fronteira, como paraguaios e bolivianos. Na concepção de parte dos rivais, sequer podem ser considerados argentinos.

“Esses gestos racistas não existem no futebol local. As formas de discriminação no futebol argentino são outras, com gênero, com a etnia e com as classes sociais, principalmente. Mas não necessariamente com a raça, pois não é um ponto de discussão para pensar o futebol argentino”, afirma Garriga, acrescentando: “Aqui há algumas posições xenofóbicas muito fortes dessa representação da alteridade como invasiva, negativa e etc. Isso se coloca em discussão muito mais profunda relacionada à xenofobia e não necessariamente vinculada ao racismo. Deveria ser criada uma relação entre xenofobia e racismo, mas não é uma relação clara.”

Num país com 2 milhões de negros – 5% da população, segundo o Instituto Nacional contra a Discriminação, a Xenofobia e o Racismo (INADI) –, a identidade negra é algo ainda em construção. O senso comum de que “não há negros na Argentina” se consolidou ao longo das décadas dentro e fora, após a imigração europeia e o embranquecimento da população a partir do século XIX.

“Na Argentina, há uma rejeição ao latino-americano e ao afro. Isso faz parte do mito fundador argentino que nos diz que ‘os argentinos saíram dos barcos’, que somos todos italianos e espanhóis, em outras palavras. Isso torna invisível nossa herança afro e indígena e gera uma rejeição daqueles grupos que não se encaixam nessa visão do argentino europeu e branco. Essa rejeição pode ser em relação ao migrante externo, mas também ao migrante interno”, explica o antropólogo Javier Bundio, doutor em Ciências Sociais pela Universidade de Buenos Aires (UBA) com tese “A construção do outro no futebol: Identidade e alteridade nos cantos das torcidas argentinas”.

Sem essa identificação, a discussão emperra na ideia de que não há negros no país ou que negros são todos os não argentinos, como indígenas, pobres e demais latinos.Lá, o debate ainda está na busca de identificar quem são os negros. Aqui, no Brasil, estamos mais adiante no debate. Temos definido pretos e pardos como negros, e já discutimos o vocabulário considerado racista. Na Argentina, a palavra quilombo ganhou, ao longo do tempo, um sentido pejorativo”, diz Marcelo Carvalho, presidente do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.

Lentamente, as posturas xenófobas e racistas da sociedade argentina vão sendo mal vistas e sofrendo mais pressão por parte de diversos atores sociais. Num primeiro momento, os clubes têm tido ações mais incisivas. O Boca Juniors prometeu punir seu associado e pediu desculpas ao Corinthians.

No caso do torcedor do River Plate, por exemplo, que jogou bananas em direção à torcida do Fortaleza, há duas semanas, no Monumental de Nuñez, o clube suspendeu o sócio por seis meses. Além disso, ele passará por um processo de conscientização sobre xenofobia no INADI, órgão federal que discute políticas públicas de inclusão e combate à discriminação. As informações são do jornal O Globo.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Futebol

Cristiano Ronaldo marca, mas não evita empate do Manchester United com o Chelsea
Grêmio vence o CRB por 2 a 0 na Arena e assume a liderança da Série B do Brasileirão
https://www.osul.com.br/atitudes-das-torcidas-de-boca-e-river-explicam-como-o-racismo-atua-na-sociedade-argentina/ Atitudes das torcidas de Boca e River explicam como o racismo atua na sociedade argentina 2022-04-28
Deixe seu comentário
Pode te interessar