Por Renato Zimmermann | 20 de setembro de 2025
A semana que se encerra trouxe um novo obstáculo à realização da Cúpula do Clima: a decretação da greve dos trabalhadores da construção civil no Pará.
Com inúmeras obras sob responsabilidade do governo estadual e da prefeitura de Belém, essa paralisação pode, além de atrasar a entrega de instalações e melhorias de infraestrutura, manchar a reputação do Brasil — país que buscou realizar uma COP mais inclusiva ao levar o evento à região amazônica.
A greve exige o cumprimento de uma pauta reivindicatória do sindicato, que aproveitou o momento para reforçar suas demandas. Será necessário um desfecho rápido para evitar que a crise de imagem e credibilidade ganhe proporções internacionais e force a ONU a transferir o evento para outra sede.
Além disso, há risco de elevação nos custos das obras, já que contratos emergenciais tendem a ser mais onerosos. Já existe pressão global para mudar o local da COP30 em razão dos preços abusivos das hospedagens, descontentamento atinge os países menores e menos desenvolvidos que tem recursos para as despesas. Até o fechamento desta edição, 79 nações confirmaram presença, e outras 70 seguem em tratativas avançadas.
Enquanto isso, a crise de hospedagem deve ser contornada em breve. A ONU elevou o valor da diária de apoio de US$ 149 para US$ 197. Podem receber esse subsídio 144 países em desenvolvimento — incluindo os Países Menos Desenvolvidos (LDCs) e os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) — limitado a um número máximo de participantes por delegação. Esses países, com estrutura mais precária, são justamente os que enfrentarão os piores impactos do aquecimento global e da mudança climática. Algumas delegações já reduziram sua equipe para reduzir custos, o que pode comprometer a legitimidade da COP30.
Na quarta-feira, 17 de setembro, integrantes da Secretaria Extraordinária da COP30 e do secretariado da ONU/UNFCCC se reuniram para atualizar o status dos preparativos.
É provável que o próximo desafio seja logístico, pois Belém está distante dos grandes centros, o que impõe dificuldades de deslocamento. Essa localização, no entanto, é também o atrativo para receber o evento: Belém é a porta de entrada para a Amazônia e foi justamente esse aspecto que chamou a atenção da ONU.
A própria ONU reconheceu os esforços para solucionar as pendências. Segundo levantamento do comitê organizador, mais de 42 000 quartos já estão disponíveis em Belém para novembro, distribuídos entre:
* hotéis na capital e região metropolitana (8.166 quartos)
* cabines em navios (3.882, com até 800 opções por US$ 200/dia)
* rede Bnetwork (7.354 quartos, até US$ 600/dia)
* plataformas Airbnb e Booking.com (23.300 unidades)
Há ainda muitos participantes que ficarão em casas de parentes e amigos, não contabilizadas oficialmente. A previsão é de até 50 000 inscritos no evento.
Desde o início das obras, especialistas apontam descasos ambientais em alguns projetos vinculados à COP30. Houve eliminação de áreas verdes, desmatamento, priorização do transporte privado em detrimento do coletivo e até a instalação de jardins artificiais com árvores de plástico.
Esses episódios expõem o despreparo para organizar um evento de visibilidade global, especialmente quando as duas últimas edições ocorreram em países produtores de petróleo (Dubai e Azerbaijão). Por outro lado, reconhecer essas falhas pode promover uma curva de aprendizado para a região Norte, inserindo-a no circuito de grandes eventos culturais e abrindo espaço para empreendimentos mais sustentáveis, alinhados à promissora economia verde.
Renato Zimmermann – Desenvolvedor de negócios sustentáveis e ativista da transição energética
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