Quinta-feira, 12 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 12 de maio de 2023
Puxada pela alta nos medicamentos, a inflação ficou em 0,61% na passagem de março para abril. O resultado indica uma desaceleração em relação ao mês de março, quando ficou em 0,71%. Os dados são do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) e foram divulgados pelo IBGE nessa sexta-feira (12).
Desinflação lenta
Na visão de analistas, o resultado do IPCA de abril sinaliza que que o país enfrenta um processo mais lento de desinflação do que o esperado. Os núcleos de inflação, que excluem itens mais voláteis e o Banco Central acompanha para calibragem dos juros, se mantiveram na mesma temperatura do mês anterior e não desaceleraram como se imaginava. Ainda assim, o resultado não indica uma mudança de rota:
“O dado confirma uma desaceleração meio errática. De fato, a gente virou a chave. Não estamos mais naquele cenário inflacionário que vimos no ano passado, com inflação de bens industriais acima de 1%, por exemplo. E a inflação de serviços é mais inercial e, por isso, fica pressionada por mais tempo”, diz Laura Moraes, economista da Neo Investimentos.
O que tem risco de influenciar o cenário de inflação, segundo Laura, é a dinâmica dos preços administrados. Ainda assim, a perspectiva é positiva. Ela projeta que a Petrobras deverá realizar um corte no valor da gasolina na refinaria no final deste mês diante da redução dos preços dos combustíveis no mercado internacional e a fim de compensar a alta de impostos sobre a gasolina. Por isso, revisou o IPCA para 5,8% em 2023.
Bruno Di Giacomo, CIO da Nero Capital, corrobora com a análise de desinflação lenta:
“O cenário nos parece benigno para uma desinflação em médio prazo, mas vai ter oscilações, não vai ser de forma linear. A trajetória vai ser meio acidentada”, diz o diretor de investimentos, que também prevê IPCA de 5,8% no fim do ano.
Medicamentos e alimentos
Todos os nove grupos de produtos e serviços pesquisados apresentaram alta, segundo o IBGE. O destaque ficou para o grupo Saúde e cuidados pessoais, que registrou a maior variação (1,5%) e foi responsável por 0,19 ponto percentual da inflação no mês.
“O resultado nesse grupo foi influenciado pela alta nos produtos farmacêuticos, justificada pela autorização do reajuste de até 5,60% no preços nos medicamentos, a partir de 31 de março”, explica o analista da pesquisa, André Almeida, destacando a contribuição de 0,12 p.p. desses itens no mês.
Já os preços dos planos de saúde tiveram alta de 1,20%. Segundo o IBGE, houve incorporação das frações mensais dos reajustes dos planos novos e antigos para o ciclo de 2022 a 2023.
Outro grupo que contribuiu para o resultado de abril foi o de Alimentação e bebidas, cujos preços aceleraram de 0,05% em março para 0,71% em abril. A alimentação no domicílio, que tinha ficado no campo negativo em março (-0,14%), subiu 0,73% em abril. Pesaram os aumentos nos preços do tomate, leite longa vida e queijo, cujas altas variam de 2% a 10%. Entre os alimentos em queda, os destaques foram a cebola e o óleo de soja.
A projeção de que a safra agrícola de 2023 vá bater o recorde de 302 milhões de toneladas este ano, segundo Levantamento Sistemático da Produção Agrícola (LSPA) divulgado pelo IBGE na quinta-feira, pode atenuar o peso da inflação no bolso do consumidor.
Combustíveis
A inflação no grupo de Transportes, que havia subido 2% em março, desacelerou para 0,56% em abril. O preço dos combustíveis contribuiu para o resultado, dado que foi registrada uma queda de 0,44% após uma alta de 7% em março. Apenas o etanol subiu no mês, enquanto óleo diesel, gás veicular e gasolina tiveram retração nos preços.
As passagens aéreas, por sua vez, subiram 12% em abril após queda de 5% em março. Já as tarifas de metrô subiram 1,24%, pressionadas pelo reajuste no Rio de Janeiro a partir do dia 12 de abril. O ônibus urbano também ficou em média 1% mais caro, puxado pelos aumentos em Fortaleza e em Belo Horizonte (6,67%).
Perspectivas
Economistas preveem que a inflação acumulada em 12 meses vai desacelerar até meados de junho, quando volta a pegar tração e terminar o ano ao redor de 6%. Nesse cálculo, sai da conta o efeito das desonerações dos combustíveis, que no ano passado levou o IPCA a registrar três meses seguidos de queda nos preços. Em 2022, o IPCA fechou em 5,79%.