Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de setembro de 2025
A gestora de investimentos Mar Asset calcula que o aumento do número de evangélicos no Brasil reduzirá em quase 1 ponto percentual o total de votos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno das eleições de 2026, em relação ao que recebeu em 2022. Será a disputa mais acirrada desde a redemocratização, com Lula e seu adversário correndo cabeça a cabeça até o último minuto.
O estudo levou em consideração a projeção de aumento da população evangélica, os índices de votação entre o segmento religioso nas eleições passadas dos presidentes eleitos e a popularidade atual de Lula.
“A combinação entre o padrão de votação dos evangélicos e o seu crescimento como proporção da sociedade é muito negativa para o PT nas eleições subsequentes. Estimamos que os evangélicos representarão 35,8% da população em 2026, contra 34% em 2022. Apenas esse aumento já seria suficiente para alterar o resultado da eleição, mantendo-se todos os demais fatores constantes. Ou seja, mantidas as intenções de votos no PT entre evangélicos e não evangélicos iguais às de 2022, Lula obteria 49,8% dos votos válidos”, diz a análise. Lula foi eleito em 2022 com 50,83% dos votos.
Até 2014, os evangélicos votavam relativamente de forma equilibrada entre o candidato do PT e seu adversário. Em 2010, 51% dos eleitores evangélicos declararam intenção de voto no candidato petista, contra 49% do principal adversário. Já em 2014, ano da reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), os evangélicos representaram 49% das intenções de voto na véspera da eleição.
O panorama mudou a partir das eleições de 2018, quando apenas 31% dos eleitores evangélicos declararam voto em Fernando Haddad (2018) e em Lula (2022). Se o índice de intenção de voto ao candidato do PT se mantiver no patamar de 31% em 2026, o petista teria apenas 49,8% dos votos válidos.
Em 2010, à época da eleição de Dilma, apenas dois Estados (ES e RO) tinham mais de 30% de sua população composta por evangélicos. Em 2022, esse número subiu para 18 Estados.
O diretor do Observatório Evangélico, Vinícius do Valle, ressalta que não há dados consolidados sobre o número de evangélicos no País, mas que, se a tendência de crescimento do segmento religioso se mantiver, “2022 pode ter sido a última eleição que daria para ganhar sem os evangélicos”.
“Estamos vendo uma certa consolidação do voto evangélico, nos últimos pleitos, do ponto de vista ideológico. Ou seja, em torno de 60%, 70% desse grupo, está votando em candidatos da direita ou em candidatos antipetistas”, explica.
De acordo com o estudo, o PT recebe menos votos em municípios com maior presença evangélica, uma tendência “consistente” entre Estados e regiões do País.
“Os evangélicos explicam boa parte da dicotomia entre os bons resultados econômicos e a baixa avaliação do governo Lula III. Enquanto os não evangélicos avaliam o atual governo de maneira similar ao de Dilma I, os evangélicos o avaliam de forma bem mais negativa”, diz.
Em 2022, a conversão de votos entre a população não evangélica em Lula foi a maior da história. Mesmo que os porcentuais de votos se repetisse, o maior número de evangélicos no País já seria suficiente para garantir a vitória de um candidato de direita em 2026, mostra a análise.
“Entre 2010 e 2024 o número de igrejas de denominação evangélicas com CNPJ ativo dobrou, chegando a mais de 140 mil templos em 2024. O ritmo de expansão permaneceu surpreendentemente constante. Em todos os ciclos presidenciais desde 2010, foram registradas, em média, cerca de 5 mil novas aberturas de templos por ano”, diz o estudo.
Segundo Valle, apesar do alinhamento ideológico com pautas mais conservadores, o eleitor evangélico não é automaticamente bolsonarista. Para o pesquisador, o eleitor leva em consideração, além de preferências políticas, o contexto social e econômico do País na decisão do voto.
“Ele é um eleitor que se coloca em disputa. O que foi trazido para esse eleitor (em eleições passadas)? O governo Lula iria perseguir igrejas, fechar igrejas, argumentos que vão ser muito difíceis de serem reproduzidos na próxima eleição. É precipitado reproduzir a dinâmica ideológica dos últimos pleitos e tratar essa dinâmica ideológica como um dado para próxima eleição. É preciso ter cautela e ver que esse eleitor também é um eleitor em disputa, mas não podemos deixar de notar que, com certeza, esse contingente populacional está ganhando cada vez mais força”, explica.
O número de templos por 100 mil habitantes aumentou de 22,7 para 65,4 entre 2000 e 2024. A estimativa da Mar Asset Management é que esse número alcance 69,6 na véspera da eleição presidencial de 2026. Os templos que não foram identificados como evangélicos somavam 5,5 por 100 mil habitantes em 2000 e hoje são 15,6. (Com informações da revista Veja e de O Estado de S. Paulo)