Quinta-feira, 28 de março de 2024
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2020
Bancos e gestoras de recursos começam a renegociar dívidas de empresas afetadas pela pandemia de covid-19, mas cujas operações são consideradas economicamente viáveis. A confecção Restoque, que firmou um plano de recuperação extrajudicial, e a Intercement, que emitiu debêntures para alongar e reperfilar compromissos financeiros, fazem parte dessa leva.
Os casos são exemplos do caminho que os bancos pretendem seguir diante da onda de reestruturações que haverá daqui para a frente. As instituições têm estendido prazos e oferecido carência logo no início da crise para evitar o agravamento da situação, pois consideram que processos de recuperação judicial são mais arrastados e menos efetivos.
“Queremos fazer da Restoque um marco”, disse ao jornal Valor Econômico Mário Leão, vice-presidente da área de atacado do Santander Brasil. O banco e o Itaú Unibanco, ambos credores, lideraram as conversas, concluídas em cinco semanas.
Na noite de quinta-feira, a Restoque protocolou um plano de recuperação extrajudicial para renegociar R$ 1,5 bilhão em dívidas financeiras. A proposta contempla uma emissão de debêntures em duas tranches – ambas com prazo de cinco anos, mas com ritmos de amortização diferentes – e o compromisso dos acionistas de fazer um aumento de capital de R$ 150 milhões até o fim de 2021.
Dona de grifes como Le Lis Blanc, Dualina e John John, a companhia terá 12 meses para começar a pagar os juros, contados da data da homologação do acordo. O principal será amortizado a partir de junho de 2023. As taxas serão de CDI mais 2,7% e de CDI mais 2,9% – próximas do custo pré-crise, segundo a empresa. O acordo não envolve garantias reais.
O plano obteve a adesão inicial de detentores de R$ 1,024 bilhão em créditos, acima do mínimo de 60% necessário em recuperações extrajudiciais. Entre eles, estão Santander, Itaú, Bradesco, ABC Brasil e BV, além de fundos geridos por BTG Pactual, Capitânia, Itaú e outras assets. A lista deve ser engrossada ainda pelo Banco do Brasil, apurou o Valor.
“Houve uma coordenação rápida entre os credores e com o acionista, que estava muito disposto a encontrar uma solução”, afirmou Eduardo Armonia, diretor da área de reestruturação e recuperação de crédito do Itaú BBA.
Numa recuperação extrajudicial, credores e empresa levam um plano à Justiça, que o defere e, após ouvir os envolvidos, homologa ou não o acordo. A proposta da Restoque foi deferida na sexta-feira pelo juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais de São Paulo, que elogiou a iniciativa. “É a prova eloquente de que, quando as partes querem uma solução consensual e empenham-se na busca do acordo, a recuperação extrajudicial é o melhor meio de superação da crise”, afirmou em sua decisão. As informações são do jornal Valor Econômico.