Segunda-feira, 20 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 10 de fevereiro de 2018
O delegado da PF (Polícia Federal) Cleyber Lopes, encarregado do inquérito sobre o porto de Santos, é desafeto histórico do diretor-geral da instituição, Fernando Segovia. Quando Segovia era superintendente no Maranhão, Cleyber presidiu um inquérito envolvendo a família Sarney. Que por isso não gosta de Cleyber. Mas gosta de Segovia, a quem Sarney apoiou para assumir a diretoria-geral. As informações desse bastidor são da âncora do Jornal da Globo, Renata Lo Prete.
A entrevista dada ontem por Segovia à agência Reuters tinha um propósito: deixar registrado em público que Cleyber seria alvo de um processo disciplinar por ter feito perguntas supostamente duras a Michel Temer no inquérito do porto de Santos. Na entrevista, Segovia sugeriu que Cleyber não reunia indícios suficientes para tal interpelação.
A expectativa do Palácio do Planalto era que a entrevista abrisse caminho para afastar Cleyber da investigação que paira sobre a cabeça de Temer. Vide as declarações dadas logo em seguida pelo titular da Secretaria de Governo, Carlos Marun. Para o ministro, o inquérito conduzido por Clayber seria “mais uma flecha saindo pela culatra”.
Mas o efeito foi contrário ao esperado pelo entorno de Temer. Neste sábado (10), o ministro Luís Roberto Barroso, que cuida desse inquérito no Supremo, cobrou explicações de Segovia. No Ministério Público e na própria Polícia Federal, muitos se perguntam como Segovia vai explicar tamanho conhecimento sobre um inquérito em curso e presidido por outra pessoa. Fora seus encontros frequentes com Temer.
Para completar, no bastidor do governo se discute uma medida provisória que daria “autonomia” à PF, com um mandato de três anos para o diretor-geral. Ou seja, o próximo presidente da República, querendo ou não, “herdaria” Segovia.
Declaração
O diretor-geral da PF, Fernando Segovia, afirmou na sexta-feira (9) que a tendência é de que a corporação recomende o arquivamento da investigação contra o presidente Michel Temer no chamado inquérito dos portos. Segundo o chefe da PF, até o momento as investigações não comprovaram que houve pagamento de propina por parte de representantes da empresa Rodrimar, que opera áreas do porto de Santos (SP), para a edição do decreto que prorrogava contratos de concessão e arrendamento portuários, assinado por Temer em maio do ano passado.
Essa é a única apuração formal contra o presidente ainda em curso perante o STF (Supremo Tribunal Federal), requerida ainda pelo então procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Segovia disse que, nas apurações feitas, não há quaisquer indícios de que o decreto editado pelo presidente beneficiou a Rodrimar. Ele destacou que a empresa não era atingida pelo decreto, que mudou regras de concessão posteriores a 1993, o que não seria o caso dela.
“O que a gente vê é que o próprio decreto em tese não ajudou a empresa. Em tese se houve corrupção ou ato de corrupção não se tem notícia do benefício. O benefício não existiu. Não se fala e não se tem notícia ainda de dinheiro de corrupção, qual foi a ordem monetária, se é que houve, até agora não apareceu absolutamente nada que desse base de ter uma corrupção”, declarou Segovia.