Quarta-feira, 24 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 27 de julho de 2018
Socorristas retiraram na quinta-feira (26) um bebê e a sua mãe da inundação provocada pelo rompimento da represa de uma hidrelétrica no Sul do Laos. A tragédia, ocorrida na última segunda-feira (23), deixou ao menos 27 mortos e 130 desaparecidos. A criança tinha ficado agarrada à sua mãe em cima de uma árvore, que ficou cercada por água e barro, na região da aldeia de Xaydonkhong, onde um grupo de pessoas estava desaparecido.
Um vídeo feito pelos socorristas tailandeses, difundido pela emissora local ABC, mostra a criança chorando no momento em que um dos socorristas desce do barco e avança pela água até a árvore onde estavam. Ele volta com a criança no colo. “Finalmente, conseguiram encontrar as 14 pessoas, entre as quais havia quatro homens, seis mulheres (uma delas grávida) e quatro crianças. Eles estavam cansados e famintos depois de quatro dias sem comer”, informaram os socorristas tailandeses em um comunicado.
“A criança chorava e estava apavorada. Todos tinham medo da água. Quando começou a chover, entraram em pânico”, contou à agência de notícias AFP o socorrista tailandês Kengkard Bongkawong. As imagens circularam pelo Facebook e foram compartilhadas por milhares de usuários.
“Todos se encontravam em uma cabana no alto de uma colina onde cultivavam o terreno. Mas a água subiu tão depressa que não tiveram tempo de pensar, e começaram a correr”, afirmou Bongkawong. O socorrista ainda afirmou que as pessoas faziam parte de três famílias, que sobreviveram comendo brotos de bambu. “Mas não tinham comida suficiente para todos e estavam famintos”, observou.
Os habitantes da localidade criticam as autoridades que têm, segundo eles, tentado minimizar o balanço de 27 mortos. Até quinta-feira, o primeiro-ministro do Laos confirmou apenas uma morte.
Ruptura da represa
Na noite de segunda (23), a represa Xepian-Xe Nam Noy, situada a 550 km da capital Vientiane, se rompeu, liberando 5 trilhões de litros de água (o equivalente a 5 vezes o volume útil do Sistema Cantareira, em São Paulo). Brigadistas e barcos foram enviados à área do distrito de San Sai, na província de Attapeu. Chovia muito na região. A água atingiu seis aldeias na região e obrigou cerca de 6,6 mil pessoas a deixarem suas casas.
Água chega ao Camboja
Na quinta, a água alcançou o país vizinho do Camboja, onde provocou inundações em 17 povoados e o deslocamento de 5,6 mil moradores, segundo informou o porta-voz da província de Stung Streng, Men Kong, à agência France Presse.
“Bateria da Ásia”
O Laos, um dos países mais pobres da região, almeja se tornar a “bateria da Ásia” através da construção de diversas hidrelétricas.
Seu governo depende quase inteiramente de empreiteiras estrangeiras para construí-las por meio de concessões comerciais que envolvem a exportação de eletricidade para vizinhos mais desenvolvidos, como a Tailândia. O Laos já finalizou 11 represas, disse o grupo tailandês não-governamental Terra, com outras 11 em construção e dezenas planejadas.
A ONG International Hydropower Association relata que existem mais de 50 projetos hidroelétricos no Laos. Várias organizações de defesa do meio ambiente advertiram para o impacto dessas represas no rio Mekong, em sua flora e fauna, assim como nas populações rurais.