Sexta-feira, 02 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de fevereiro de 2023
Boa parte dos indivíduos já não consegue imaginar uma vida desconectada das redes sociais. E, ao navegar nesse universo, muitos acabam expondo dados, gostos e experiências que colocam em risco algo fundamental: a privacidade. É preciso cuidado em um mundo no qual informações pessoais são consideradas ativos valiosos para o mercado. Facebook, Instagram e TikTok, por exemplo, traçam perfis de seus usuários o tempo todo, coletando fotos, localizações, preferências pessoais e opiniões políticas a todo momento.
A prática de coletar dados é legal, desde que o dono da conta permita, o que é formalizado quando os termos de uso da rede são aceitos. Mas especialistas alertam para questões que fogem ao controle dos usuários.
“Presumimos que as redes têm acesso ao que entregamos, mas elas acessam três níveis de informação. Obviamente, as que fornecemos, mas também as que conseguem observar e as que podem inferir com base em padrões, como a hora em que acordamos, o quanto dormimos e até o nosso humor”, diz Christian Perrone, gerente de Direito e Tecnologia do Instituto de Tecnologia e Sociedade (ITS).
É justamente este primeiro nível, o das informações fornecidas pelos usuários, que exige atenção. Renata Tomaz, professora da Escola de Comunicação da Fundação Getulio Vargas (FGV), alerta, por exemplo, para o risco de exposição de crianças e adolescentes:
“Quando falamos de circulação de fotos nas redes, é preciso ter em mente a Convenção sobre os Direitos da Criança adotada pela ONU em 1989, que garante a ela o direito à privacidade. O Brasil é signatário desta Convenção, que dá suporte ao Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990”.
Segmento infantil
Ainda que a família não tenha a intenção de expor uma criança, a professora destaca que é preciso tomar alguns cuidados antes de publicar a imagem, como ter um perfil privado, com acesso limitado, e evitar divulgar localização ou lugares frequentados — como a escola, que pode ser identificada pelo uniforme.
Ao publicar imagens, os adultos estão construindo uma identidade digital que as crianças não escolheram ter. Considerando-se a dificuldade de apagamento das redes sociais, elas podem ficar conhecidas por características, situações e eventos pelos quais não gostariam.
Também são comuns os relatos de pessoas que tiveram dados reproduzidos por criminosos que, ao se apropriarem da identidade, pediram dinheiro a parentes.
“Toda informação sensível na internet pode ser usada por cibercriminosos. Até o dia do aniversário do cachorro. Datas comemorativas são comumente utilizadas como senhas em redes sociais ou bancos”, salienta Fabio Assolini, chefe da equipe global de pesquisa e análise da Kaspersky (empresa de softwares de segurança) na América Latina.
A estudante de Publicidade Ana Beatriz Araujo, 24 anos, teve a conta do Instagram invadida por um criminoso que tentou aplicar um golpe de compra e venda de criptomoedas, embora ela adote as medidas de proteção sugeridas pela rede. Ela relata:
“No dia em que minha conta foi invadida, vi que ganhei muitos seguidores repentinamente. Eram usuários com nomes robotizados e contas novas. Uma hora depois, meus amigos me mostraram que haviam feito uma publicação no meu perfil. Nela, tentavam aplicar um golpe envolvendo criptomoedas.
Professor de Direito Civil, João Quinelato completa: “Antigamente, a proteção de dados era relacionada ao cartão de crédito ou aos documentos físicos. Hoje, é tudo digitalizado. É necessário mais cuidado”.
Visão das empresas
Dona do Instagram, Facebook e WhatsApp, a Meta diz processar os dados apenas para um “objetivo específico e claramente definido que agregue valor às pessoas”. Além disso, afirma coletar e criar a quantidade mínima de dados para “dar suporte a objetivos claramente definidos”.
A companhia garante que guarda informações somente pelo tempo que for “realmente necessário” e oferece aos usuários a capacidade de acessar e gerenciar os dados coletados ou criados sobre eles.
O TikTok garante que coleta informações para “oferecer uma experiência útil e relevante”. Também diz incentivar os usuários a ler sua Política de Privacidade: “Implementamos fortes restrições no acesso, incluindo impedir que as chaves que desencriptam os dados de usuários sejam acessados por funcionários sem autorização ou justificativa necessária para acesso”.
Como evitar problemas
– Mantenha os dispositivos atualizados com a versão mais recente do aplicativo. Ignorar esses lembretes pode deixar uma porta aberta para hackers. Habilite a verificação em duas etapas para proteger a conta.
– Fique atento às tentativas de engenharia social, como as em que os fraudadores se passam por um representante de atendimento ao cliente para obter acesso remoto ao dispositivo, à conta ou ao perfil.
– Caso receba uma oferta atraente por telefone, texto ou mensagem pop-up não solicitada, vá diretamente ao site da empresa real para ter certeza de que é legítima. Se não puder confirmar a autenticidade da pessoa ou da oferta, provavelmente é uma farsa. Fique atento a erros de ortografia ou gramática.
– Monitore continuamente suas contas em busca de atividades não autorizadas. Defina alertas automáticos para e-mails ou textos com detalhes da transação sempre que seu cartão de débito, cartão de crédito ou cash app for usado.
– Se os comerciantes solicitarem mais dados do que você deseja compartilhar ou algo parecer errado, cancele a transação. Desconfie de solicitações de métodos de pagamento incomuns, como criptomoedas ou presentes pré-pagos.
– Não clique em links desconhecidos. Não compartilhe endereços ou códigos de acesso recebidos por e-mail, SMS ou whatsapp.
– Ative a solicitação de login. Você pode receber alertas quando alguém tentar entrar em sua conta. As notificações informam que dispositivo tentou fazer login e onde está localizado, permitindo aprovar ou negar a solicitação.