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Colunistas Boca torta

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Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

A novela O outro lado do paraíso bombou. Foi o julgamento do delegado Vinícius. Acusado de ter abusado sexualmente da enteada, o homem se safava de depoimentos e testemunhas. Até que… se descobriu tudo. O processo trouxe à discussão palavra que desperta arrepios em gregos, romanos e baianos. Trata-se de pedofilia, irmãzinha de pedagogia.

O vocábulo nasceu na Grécia. Quando veio ao mundo, não tinha nada a ver com o significado atual. Ele foi formado de duas partes. Uma: paidós (criança). A outra: philos (amigo). Portanto, pedófilo é quem ama, quem gosta de criança — sem nenhuma conotação sexual. Mas, como não há bem que sempre dure nem mal que nunca se acabe, a greguinha ganhou nova acepção: pessoa que violenta criança. Conclusão: o uso do cachimbo entorta a boca.

Meia-irmã

Pedagogia pertence à mesma família de pedofilia. Ambas têm um denominador comum. Trata-se de paidós (criança). E um diferente. É agogé (condução). O pedagogo dá a mão ao pequenino e o conduz rumo ao conhecimento.

Mágica

“Sindicatos criam taxas novas”, anunciou William Bonner no Jornal Nacional. “Será mágica?”, perguntaram os ouvintes desconfiados. Com razão. Como criar o velho? Só se cria o novo. Xô pleonasmo! Basta dizer: Sindicatos criam taxas.

Jeitos de dizer

A novela Tempo de amar se passa um pouco aqui, um pouco em Portugal. Com ela, ganhou realce o jeito português de falar. Um dos aspectos que chamam a atenção é o emprego do infinitivo em vez do gerúndio na indicação de ação em curso. Em vez de “o empregado está terminando o almoço”, dizem “o empregado está a terminar o almoço”. Em lugar de “estou tratando”, preferem “estou a tratar”.

Ambas as formas estão corretas. Os moradores desta Pindorama tropical usam a locução com gerúndio. Os lusos, com infinitivo. Trocar as bolas? Pode. Mas soa estranho. É a tal história da mulher de César. Ela não só tem de ser honesta. Tem de parecer honesta.

Modismo senatorial

“Eu fiz um compromisso a favor da intervenção”, disse Eunício Oliveira. Diante de microfones e câmeras, o presidente do Senado recorreu a modismo que se espalha Brasil afora sem cerimônia e sem economia. Trata-se do abuso no emprego do verbo fazer. É um tal de fazer aula disto ou daquilo, fazer tal e qual doença, fazer mortes, fazer falta, fazer erros. E por aí vai.

Na língua existem os verbos-ônibus. Eles funcionam como transporte coletivo. Cabem em 42 contextos e um pouco mais. Imprecisos, denunciam o redator preguiçoso ou pobre de vocabulário. Fazer é um deles. Dia a dia o dissílabo ganha novos assentos como provou Sua Excelência. Valha-nos, Jesus Cristo e Virgem Maria!

É possível substituí-lo por outros mais precisos. Com um cuidado: sem pedantismo, afetação ou rebuscamento. Fazer uma carta? É escrever ou redigir a carta. Fazer aulas? É assistir a aulas. Fazer um discurso? É proferir o
discurso. Fazer uma estátua de mármore? É esculpir a estátua de mármore. Fazer o trajeto de carro? É percorrer o trajeto. Fazer medicina? É cursar medicina. E fazer um compromisso? É assumir um compromisso.

Resumo da opereta senatorial: Fazer não substitui cometer, praticar, ter, assumir, causar, etc. e tal.

Leitor pergunta

Faz dois anos ou fazem dois anos? Deve fazer dois anos ou devem fazer dois anos? Nunca sei. Pode me ajudar? (Cármen Seabra, Cascavel)

Na contagem de tempo, Cármen, fazer é impessoal. Conjuga-se só na 3ª pessoa do singular: Faz cinco anos que trabalho no banco. Faz duas horas que ele chegou. Fazia muitos anos que não ia ao Rio.
Atenção, muita atenção. A impessoalidade do verbo contagia o auxiliar: Deve fazer cinco anos que moro aqui. Vai fazer duas horas que ele chegou. Devia fazer muitos anos que não ia ao Rio.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

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