Terça-feira, 18 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de janeiro de 2024
O Ibovespa, principal índice acionário da Bolsa de Valores brasileira, até tentou uma recuperação no último pregão de janeiro, com alta de 0,28% no dia. Mas o acumulado registrou o mês mais fraco do indicador desde agosto (quando caiu 5,09%) e o pior janeiro desde 2016 (queda de 6,79%).
A Bolsa registrou uma queda de 4,79% no primeiro mês de 2024. O ano começa em direção oposta ao final de 2023, quando o Ibovespa registrou uma sequência de recordes e encerrou o mês com valorização de 5,38%.
Parte da queda observada em janeiro pode, inclusive, ser explicada pelo fim do famoso “rali de fim de ano”, quando os investidores correm para aproveitar as boas oportunidades do mercado de ações e impulsionam o preço dos papéis. Mas uma série de fatores contribuíram para o desempenho negativo no mês.
Do lado macroeconômico, especialistas pontuam:
* As incertezas em relação à redução dos juros nos EUA;
* Preocupação com o cenário fiscal brasileiro;
* A dificuldade da China em continuar crescendo.
Já pela visão microeconômica, cabe destacar:
* A desvalorização acentuada das ações de commodities, como a Vale;
* O pedido de recuperação judicial da Gol.
Estados Unidos
Parece notícia repetida, mas não é. Há meses o mercado financeiro discute qual será o patamar ideal dos juros nos Estados Unidos, e a expectativa é de que a questão permaneça como assunto central até meados do ano.
Bruno Benassi, especialista em ações na Monte Bravo Corretora, explica que alguns dados da economia norte-americana reduziram as expectativas de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) possa iniciar seu ciclo de cortes de juros em março.
O relatório de emprego “payroll”, por exemplo, registrou a abertura de 216 mil novas vagas de emprego em dezembro, bastante acima das expectativas dos analistas. Um mercado de trabalho muito aquecido pode continuar gerando aumento de salários e pressão inflacionária sobre a economia.
Benassi destaca que boa parte dos analistas deixou de lado as projeções de corte em março e estimam, agora, que a redução dos juros deve ter início apenas em maio. A mudança de perspectiva e juros mais altos nos EUA por mais tempo faz com que investidores internacionais reduzam ou atrasem suas aplicações em ativos de risco, como o mercado de ações.
A aposta, portanto, se concentra nos títulos públicos americanos, as Treasuries. Enquanto esses títulos tiveram acumularam altas em janeiro, os investidores estrangeiros tiraram cerca de R$ 5 bilhões da bolsa brasileira em 2024.
A economista Ariane Benedito, especialista em mercados de capitais e RI da Esh Capital, destaca que movimento semelhante de aversão a risco aconteceu em fevereiro e agosto de 2023. Em fevereiro, o BC americano elevou suas taxas e sinalizou cautela com a economia do país. O mesmo em agosto.
Foram justamente esses os meses de 2023 com as maiores queda do Ibovespa: 7,49% em fevereiro e 5,09% em agosto, segundo levantamento de Einar Rivero.
Cenário fiscal
Para Ariane, a agenda fiscal brasileira, dominada pela preocupação com as contas públicas, será o “principal item de volatilidade ao longo deste ano”. A economista destaca que o mercado já começou o ano com preocupações de aumento de gasto público por meio do programa Nova Indústria Brasil anunciado pelo Governo Federal, que prevê R$ 300 bilhões em investimentos para o setor industrial até 2026.
A dúvida sobre quais serão as fontes de financiamento para o programa causaram reação do mercado, em especial depois da notícia de que a União encerrou o ano de 2023 com um déficit primário de R$ 230 bilhões nas contas, o pior resultado desde 2020.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reafirmou que o rombo é fruto da decisão do governo federal de quitar os precatórios que foram “empurrados” pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro para este ano, e que o impacto é temporário nas contas.
Foram mais de R$ 90 bilhões desembolsados somente em precatórios ao final de 2023. O ministro também garantiu que perseguirá a meta de zerar o déficit fiscal neste ano, apesar da desconfiança do mercado financeiro.