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Por Redação O Sul | 20 de julho de 2024
Dados da pesquisa “A Cara da Democracia”, feita pelo Instituto da Democracia (IDDC-INCT), evidenciam semelhanças entre eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pautas conservadoras, com aproximação especialmente na agenda de segurança pública. Já a punição a militares que participaram dos atos do 8 de Janeiro é o tema que mais afasta os dois eleitorados. A similaridade de posições na maioria dos temas, por outro lado, é um indício de que a polarização política não condiciona a visão dos brasileiros em questões de costumes.
O pesquisador João Féres, professor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Uerj, compilou os dados a partir das respostas dos entrevistados sobre 14 temas que constam na pesquisa. As respostas seguiram o formato “contra” ou “favor”.
Os números evidenciam, de acordo com Féres, que lulistas e bolsonaristas tendem a se aproximar na dose de conservadorismo. As pautas em que eleitores de Bolsonaro são mais conservadores também são as que eleitores de Lula mais seguem esta tendência.
Quatro perguntas mediram a adesão a visões punitivistas ou armamentistas em temas ligados à segurança e à ordem pública. Duas delas tiveram a maior aproximação entre lulistas e bolsonaristas no levantamento. Questionados sobre a proibição da “saidinha” de presos, 56% dos eleitores de Bolsonaro e 50% dos que votaram em Lula concordaram com esta restrição.
O Congresso aprovou neste ano uma lei que proibiu a saída temporária da prisão de condenados que cumprem o regime semiaberto. Até então, a legislação permitia que eles deixassem a cadeia temporariamente para visitar a família em ocasiões específicas, e caso atendessem a certos requisitos de comportamento. O presidente Lula chegou a vetar a lei, mas os parlamentares derrubaram o veto.
Já em relação à proibição da venda de armas de fogo, 63% dos bolsonaristas e 57% dos lulistas se disseram contrários. Uma pergunta semelhante constou no referendo do desarmamento de 2005, quando o “não” também teve mais de 60% dos votos.
Maioridade penal
No caso da maioridade penal e da pena de morte, lulistas e bolsonaristas tiveram menor alinhamento, mas mantiveram certa convergência. Mais de dois terços dos eleitores do atual presidente, por exemplo, se disseram a favor da redução da idade de encarceramento. Já a pena de morte, embora inconstitucional no Brasil, teve o apoio de mais de metade dos bolsonaristas, e de quatro em cada dez eleitores de Lula.
“As pessoas que votam no Lula e no Bolsonaro, no geral, não são tão diferentes assim. Bolsonaro pega os eleitores mais conservadores e militaristas, e também os antipetistas. Por outro lado, tenho feito pesquisas qualitativas que indicam, entre o que chamamos de “bolsonaristas moderados”, que eles enxergam Bolsonaro ao mesmo tempo como alguém perseguido e culpado por coisas que o acusam”, avalia Féres.
Visão sobre militares
O militarismo tende a afastar as posições dos dois polos, segundo a pesquisa. Entre os eleitores de Bolsonaro, 58% se disseram contrários a punições de militares implicados na execução e articulação dos atos do 8 de Janeiro, quando as sedes dos três Poderes foram invadidas e depredadas, com indícios de inação das forças de segurança. Já entre os lulistas, apenas 29% são contra, e mais da metade defendem a necessidade de punição.
Também há certo descompasso em relação à militarização de escolas públicas, pauta que tem a adesão de 83% dos eleitores de Bolsonaro, ante 61% dos que votaram em Lula — percentual que, embora alto, demarca distância maior do que em outros temas.
Além da área militar, a defesa de direitos da população LGBTQIAP+ também causa maior descompasso entre lulistas e bolsonaristas. Entre os que votaram no ex-presidente, 65% se dizem contrários ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, ante 43% entre os eleitores de Lula. A adoção de criança por casal gay gera resultados similares: 57% dos bolsonaristas são contrários, posição seguida por 36% dos lulistas.