Segunda-feira, 25 de agosto de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2025
O ministro Fernando Haddad, da Fazenda, disse que o bolsonarismo tem atacado o Banco do Brasil. “Tem bolsonaristas em rede social defendendo saques de valores”, afirmou.
Nesta semana o BB enviou um ofício à AGU (Advocacia-Geral da União) em que solicita a adoção de medidas jurídicas cabíveis e tem sido pressionado por integrantes do Judiciário e por bancos a acionar a Polícia Federal.
O pano de fundo dos supostos ataques ao BB é a Lei Magnitsky dos Estados Unidos que foi aplicada contra o ministro do STF Alexandre de Moraes. A norma impõe sanções financeiras, como congelamento de bens e proibição de negócios com cidadãos e empresas americanas, a estrangeiros acusados de corrupção ou graves violações de direitos humanos. Um cartão de crédito de Moraes com bandeira americana foi bloqueado.
“Há projetos no Congresso para perdoar dívidas do agro, [setor] que não está com problemas. Está aumentando a inadimplência [no BB] por uma ação concertada, uma ação deliberada de bolsonaristas que estão tentando minar as instituições públicas”, disse o ministro ao canal de YouTube do jornalista Luiz Nassif, o TV GGN.
A alta na inadimplência do agronegócio foi um dos fatores para o tombo no lucro do Banco do Brasil no segundo trimestre (R$ 3,8 bilhões, 60% menos que no mesmo período do ano passado). Mas integrantes do governo a alta nas contas em atraso à expectativa que o setor tem de renegociação de suas dívidas após aprovação de uma “pauta-bomba” na Câmara dos Deputados que autorizou o uso de até R$ 30 bilhões do Fundo Social do Pré-Sal para esse refinanciamento.
Em outros momentos da história, segundo Haddad, tanto BB quanto a Caixa Econômica Federal foram usados para reduzir o spread bancário, a diferença entre os juros pagos pelos bancos ao captar dinheiro no mercado e a taxa efetivamente cobrada quando esse mesmo dinheiro é emprestado aos clientes.
Hoje, porém, o ministro da Fazenda considera que “tem outras coisas acontecendo também que nós temos que ficar atentos”, como é o caso do que chamou de ataque ao BB.
Ele afirmou também que existe “abuso do crédito” e que o presidente Lula tem pedido providências para baratear os financiamentos. “No patamar que está [o crédito] piora a desigualdade”, disse em entrevista disse em entrevista ao canal de YouTube do jornalista Luiz Nassif, o TV GGN.
Na avaliação do ministro, com o número de instituições bancárias, fintechs e marketplaces de crédito atuando, o juro para o tomador não poderia estar no nível que está. “Está caindo, mas com o ambiente de negócios que temos hoje, a resposta não está sendo suficientemente satisfatória.”
Ele também disse que não é possível menosprezar o poder de fogo dos Estados Unidos na guerra comercial, mas que vai ficando “muito difícil defender esse ato de agressão ao Brasil”.
Segundo o chefe da equipe econômica, o tarifaço de 50% às exportações brasileiras já está criando constrangimento com empresários americanos, que assistem produtos como café e carne ficando mais caros. “Não vai faltar comprador para carne brasileira, é a carne mais barata do mundo.”
Haddad chamou a divulgação dos diálogos do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) com seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), de vazamento e disse que o Brasil está tendo sorte, pois, tornar públicas as conversas entre os dois “vai criar um constrangimento internacional”.
Relatório da Polícia Federal que indiciou os Bolsonaro por tentativa de obstruir a investigação que apura responsabilidades pelos atos golpistas de 8 de janeiro, expõe brigas entre os dois e também a influência exercida pelo pastor Silas Malafaia sobre a família.
O ministro da Fazenda também defendeu na entrevista uma política nacional para instalação de datacenters. “Mandamos para processar 60% dos nossos dados para fora do Brasil. Imagina do ponto de vista de soberania, com as ameaças em curso, o que é que isso pode significar. Amanhã alguém com viés autoritário pode querer prejudicar o Brasil”, afirmou.
Um grupo de trabalho da Fazenda analisa possibilidades de parcerias com a iniciativa privada para nacionalizar o processamento de dados. Questionado sobre a possibilidade de os datacenters causarem problemas pelo consumo de energia que essas estruturas demandam, Haddad disse que eles “não estão causando problemas porque não tem datacenter” no Brasil.
Haddad destacou o volume de minerais críticos e terras raras em solo brasileiro e diz que tem insistido com o presidente Luiz Inácio Lula da SIlva (PT) a necessidade de organizar o setor.
O Brasil tem hoje uma mineradora em operação de terras raras e que comercializa para o exterior sua produção desde o ano passado. No primeiro semestre de 2025, registrou aumento de quase 700% nas exportações desses elementos em relação ao total vendido em 2024.
Na entrevista, Haddad evitou defender uma nova reforma da Previdência, ao ser questionado se isso era uma possibilidade, mas disse que “se a gente continuar vivendo cada vez mais, é da lógica do sistema”. Com informações da Folha de São Paulo.