Terça-feira, 30 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de outubro de 2019
Em meio à crise travada com o PSL, a advogada eleitoral de Jair Bolsonaro, Karina Kufa, admite que o presidente tem intensificado conversas com dirigentes de pelo menos cinco partidos antevendo uma eventual desfiliação ao PSL. Em entrevista ao jornal O Globo, Karina avisa que pretende judicializar o pedido de auditoria caso o presidente nacional do PSL, Luciano Bivar, não disponibilize dados das prestações de contas do partido e diz que a legenda teme “abrir a caixa preta do Bivar”.
1) Quais as chances de conciliação entre o presidente Jair Bolsonaro e o PSL?
Depende muito dos interesses do grupo do presidente da República, senador Flávio e demais deputados que estão nessa ala de buscar transparência do partido e de saber para onde estão indo os recursos públicos, porque ninguém tem conhecimento e nunca foi feito uma análise de contas detalhadas desse exercício. Em anos anteriores, o tribunal já apontou a ausência de documentos obrigatórios. A implementação de compliance é nada mais que a utilização de instrumentos de gestão administrativa e financeira do partido.
2) Uma eventual reconciliação passaria pela saída de Bivar do comando do PSL?
Esses acordos políticos dependem deles. Os advogados só agem em nome do cliente, não o contrário.
3) O que aconteceu para deixar a relação entre Bolsonaro e PSL tão acirrada?
Já tem muitos meses que se busca uma conciliação. Tudo desencadeou porque logo que veio o resultado das eleições, o presidente soube pela imprensa dos escândalos das candidaturas laranjas. Não se tem uma conclusão do que ocorreu mesmo, mas escândalos partidários trouxeram desgastes ao governo. Além disso, teve uma matéria em que mencionava o uso de notas frias do gabinete do presidente do partido e também diversas denúncias pelo Brasil todo de irregularidades e desvios na indicação de diretórios. Isso passou a preocupar o presidente. Também foi prometida a troca de líderes e a aplicação de compliance. Mas mesmo tendo uma proposta séria, com uma empresa de renome, conceituada, eles acabaram decidindo não assinar o contrato.
4) O Bivar mantém três filhos na Executiva, isso incomoda o presidente?
Há um incômodo. Os parlamentares reclamam muito. Eles dizem de de 70% a 80% do diretório é formado por parentes ou pessoas próximas e até com vínculo de subordinação ao Bivar e ao Rueda (Antonio Rueda é vice presidente do PSL). E isso incomoda muito os parlamentares porque jamais teremos dentro do PSL uma eleição equilibrada por conta dos votos de cabresto.
5) Qual será a estratégia se o PSL não abrir as contas em no prazo?
Vamos pedir judicialmente. Não tem como negar a entrega do material, até porque o próprio Estatuto do PSL prevê o acesso aos documentos e às contas.
6) Hoje, qual a chance do presidente Bolsonaro deixar o PSL?
Vai depender da decisão política do presidente. Lá atrás, o presidente estava desgostoso com o partido e fiz um pedido para que tentasse a conciliação. Foi quando eu conversei com o vice-presidente da sigla, Rueda, para negociar um acordo.
7) E se não der certo um acordo?
Não podemos adiantar estratégia jurídica. Mas nossa ideia é ter um partido que contemple todos os princípios e pautas que elegeram Jair Bolsonaro e os parlamentares que o seguiram. Na campanha viemos com um discurso de ética, mas a gente vê que o partido tem que estar na mesma linha. Se caminhar para mudarmos de partido, vamos escolher uma legenda que esteja alinhada com os princípios éticos e morais da bancada e do presidente e que a gente construa uma nova forma de partido político, com a aplicação de compliance desde o primeiro dia, com trabalhos constantes de formação política, inclusive voltado para as mulheres. E será assinado um termo de boas práticas partidárias com o Ministério Público Eleitoral.
8) Com quais partidos estão conversando?
Bastante. Partidos em formação tem uns cinco atrás da gente, de médio para grande vieram dois e pequenos teriam mais três opções.
9) Tem prazo para essa definição?
Se o presidente definir que não é possível fazer um acordo com o PSL, o próximo passo é fechar com um desses que nos procuraram logo após a declaração do presidente (sobre Luciano Bivar). Antes, não havia negociação em andamento.
10) Por mais que o presidente e deputados dizem não fazer questão de dinheiro do fundo, há custos para uma reeleição. Esse dinheiro não é importante?
Da mesma forma que ele conseguiu arrecadar R$ 4 milhões e fazer a campanha sem dinheiro, vai conseguir a mesma coisa. Não há preocupação com isso.
11) Como ficará a situação dos deputados ameaçados de expulsão?
Eles estão alinhados com Bolsonaro independentemente da consequência. Alguns relataram que estão sofrendo pressão para apoiar Bivar, inclusive já perderam comissões. O grupo vai tomar decisões conjuntas sempre seguindo o presidente, isso foi definido pelos parlamentares. Se forem para o partido, todos irão juntos.