Sexta-feira, 13 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 9 de junho de 2025
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirmou durante seu interrogatório ao Supremo Tribunal Federal (STF), nessa segunda-feira (9), que Bolsonaro recebeu a minuta golpista e “enxugou o documento” para retirar a prisão de autoridades. Segundo Cid, no entanto, o ex-presidente manteve a detenção de Alexandre de Moraes no documento.
Cid respondeu a perguntas do próprio Moraes, que é relator do caso que julga a trama golpista no STF. O delator afirmou que o documento apresentado por FIlipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, previa originalmente a prisão “de vários ministros do STF” e autoridades do Legislativo, como o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), mas que Bolsonaro editou o documento.
“De certa forma, ele (Jair Bolsonaro) enxugou o documento, retirando as autoridades das prisões. Somente o senhor (Alexandre de Moraes) ficaria como preso, o resto…”, disse Cid a Moraes, quem emendou que “ao resto foi concedido habeas corpus”. Nesse momento, o ex-presidente Bolsonaro, presente do plenário da Primeira Turma, riu da piada de Moraes.
Ao explicar o teor do documento, Cid confirmou que havia a previsão de se instalar uma comissão eleitoral que declararia nulas as eleições de 2022 e realizaria um novo pleito.
“O documento (a minuta golpista) consistia de basicamente duas partes, a primeira eram os considerandos, eram dez, onde ou doze páginas, bem robusto. Tratava das possíveis interferências e intervenções do STF e do TSE no governo Bolsonaro e nas próprias eleições e na segunda parte entrava numa parte mais jurídica, de estado de defesa, de sítio, prisão de autoridades e decretação de um conselho eleitoral para refazer as eleições ou algo parecido”, disse Cid.
Radicais
O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, afirmou ainda que o almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, fazia parte do grupo dos “radicais” que defendiam um suposto golpe de Estado. Relator do caso no Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Alexandre de Moraes listou o nome de cada um dos seis réus da ação penal e perguntou a que grupo eles integravam. Segundo Cid, só Garnier era dos “radicais”.
Os ex-ministros Defesa Paulo Sergio e Braga Netto eram, na visão de Cid, integrantes do grupo dos “moderados”. E os ex-ministros Augusto Heleno e Anderson Torres, e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, não se enquadravam em nenhum grupo.
Em seu acordo de colaboração premiada, Cid dividiu os grupos que orbitavam em torno do ex-presidente Jair Bolsonaro de acordo com os seus pontos de vista em relação a uma ruptura institucional. Haviam os “radicais”, os “moderados” e os “conservadores”, sendo estes dois últimos contrários à execução de um golpe.
Dentro dos radicais, havia ainda uma subdivisão entre os que eram mais e menos extremistas.
“(O grupo mais radical) era dividido em dois grupos, que o primeiro subgrupo ‘menos radicais’ que queriam achar uma fraude nas urnas; que o segundo grupo de radicais era a favor de um braço armado; que gostariam de alguma forma incentivar um golpe de Estado; que queria que ele assinasse o decreto; que acreditavam que quando o Presidente desse a ordem, ele teria apoio do povo e dos CACs (Clubes de Atiradores Desportivos e Colecionadores de Armas de Fogo)”, explicou Cid, em sua delação. As informações são do jornal O Globo.