Quarta-feira, 05 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 31 de outubro de 2018
O Ministério da Defesa encaminhou na terça-feira, ao Comando da Aeronáutica autorização para que o presidente eleito Jair Bolsonaro possa utilizar aeronaves da FAB (Força Aérea Brasileira) para deslocamentos no País e no exterior. A decisão de solicitar autorização para o uso de aviões da FAB desde agora, dois meses antes da posse, foi motivada pela preocupação com a segurança do presidente eleito e da sua família. Ele sofreu um atentado em 6 de setembro e, segundo informações da área de inteligência do governo, continua sob ameaça.
O presidente eleito terá pelo menos quatro modelos de avião da Força Aérea à sua disposição, com diferentes configurações e capacidades. Entre eles o C-99, que é um avião da Embraer ERJ 145, com dois desenhos. Um com capacidade para até 50 passageiros e outro com 36 lugares. Tem também o Brasília, Embraer 120, para 30 passageiros, além do Learjet 35 com oito lugares e os Legacy para 12 passageiros. Dependendo da necessidade e do staff que estará a seu lado, a FAB destacará um tipo de avião.
Em outra medida para reforçar a proteção do presidente eleito, a Polícia Federal pediu ainda apoio da Força Nacional de Segurança Pública para a segurança externa no prédio do CCBB (Centro Cultural do Banco do Brasil) se iniciando na terça-feira (30) até 1º de janeiro, durante a fase de funcionamento do governo de transição naquele local. Na segunda-feira, 29, a Força Nacional fez varredura no prédio do CCBB, identificando os pontos de vulnerabilidade. A previsão é de que, a partir de quarta-feira, 1°, uma visita seja feita ao local pelo ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, ao lado do coordenador da transição, deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS).
A equipe de segurança do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) ainda não está à disposição de Bolsonaro. No momento, ele continua usando a estrutura da Polícia Federal, que reforçou o grupo que o atendia desde a campanha eleitoral. A Força Nacional, que é vinculada ao MSP (Ministério da Segurança Pública), está preparando a logística de segurança do presidente eleito no CCBB e no local onde Bolsonaro terá um gabinete.
Facada mudou rumos da campanha
O dia 6 de setembro ainda nem havia terminado quando, da porta da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora (MG), um dos filhos de Jair Bolsonaro profetizou: “Vocês acabaram de eleger o presidente!”. A fala de Flávio Bolsonaro, direcionada ao que ele chamou genericamente de “bandidos”, era uma reação à facada no abdômen recebida pelo seu pai e presidenciável pelo PSL, horas antes, durante ato de campanha no centro da cidade mineira. Àquela altura, o candidato à Presidência liderava as pesquisas de intenção de voto, mas enfrentava alta rejeição e era atacado pelos oponentes.
Na véspera do feriado de Independência, Jair Bolsonaro era carregado na região central da cidade quando foi alvo do servente de pedreiro Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos. Após o golpe de faca, o presidenciável levou as duas mãos ao peito e foi colocado deitado na entrada de uma lanchonete a cinco metros de onde foi atingido.
“Ele não falava nada, apenas gemia muito e suava bastante”, lembrou uma funcionária do estabelecimento na quarta-feira passada, quando o Estado voltou ao local do atentado. Eleitora de Fernando Haddad (PT), ela, que não quis se identificar, considerou que a facada decidiu a eleição. “Aquilo ferrou tudo.”
Mudança de rumo
O atentado, de fato, mudou o rumo da campanha eleitoral. Ao mesmo tempo em que Bolsonaro era levado às pressas à Santa Casa da cidade para uma cirurgia de emergência, outros candidatos ao Planalto tiveram que rever suas estratégias. Eventos foram suspensos nos primeiros dias, e os ataques à candidatura do líder das pesquisas foram interrompidos – sobretudo os que eram feitos pela campanha de Geraldo Alckmin (PSDB). Aconselhados por seus marqueteiros, os demais candidatos não queriam aparecer atacando um concorrente que lutava por sua própria vida.
“Era um momento decisivo da campanha, e uma continuidade dos ataques a Bolsonaro muito provavelmente teria elevado ainda mais os índices de rejeição que já ostentava”, diz o cientista político Paulo Roberto Figueira Leal, professor da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora).
Para Márcio Gonçalves, professor de marketing do Ibmec-RJ, não é possível dizer que o episódio tenha sido decisivo, mas ele concorda que a repercussão ajudou a candidatura de Bolsonaro. “Nessa hora, quem mais contribuiu foram os opositores. Esses eleitores esqueceram que, quanto mais mencionavam Bolsonaro, mais volume de informação era gerado para movimentar os motores de busca na internet. Esqueceram que Bolsonaro é fruto das estratégias de marketing mais obscuras da internet.”