Quinta-feira, 19 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de abril de 2021
Crise sanitária deve se agravar antes de dar trégua e País pode chegar a 5 mil vítimas diárias, dizem especialistas. Outras nações com alto nº de óbitos pela doença, como EUA e Reino Unido, registram tendência de queda.
Foto: Marcello Casal Jr./Agência BrasilO Brasil ultrapassou pela primeira vez nesta terça-feira (6) a marca de 4 mil mortes pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas, com 4.211 registros, recorde na pandemia. Ainda com aumento de infecções após quase um mês de medidas restritivas e vacinação lenta, a crise sanitária deve piorar antes de dar trégua e o País pode chegar a 5 mil vítimas diárias, segundo especialistas. Na contramão, outros países que tiveram número alto de óbitos – como Estados Unidos e Reino Unido – têm apresentado tendência de redução. A falta de coordenação das medidas de isolamento, dizem os cientistas, prejudica a contenção da doença.
Apenas em março, a média de mortes diárias pelo coronavírus no Brasil ficou em 2.147, transformando este no pior mês de toda a pandemia no País. Em contrapartida, a média dos Estados Unidos, que concentra a maior parte de vítimas da Covid-19, ficou em 1.223 no mesmo período. Grande parte dos especialistas defende lockdown para conter o avanço do contágio, mas a restrição mais severa só foi adotada por algumas cidades, como Araraquara (SP), que viu redução significativa de doentes e mortes.
Domingos Alves, epidemiologista da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, prevê que ainda neste mês a situação se agrave, com expectativa de atingirmos um patamar de 100 mil infecções diárias. Os efeitos desses casos na quantidade de internações e óbitos ainda leva semanas para aparecer, por causa do perfil de evolução da doença. Em vários Estados, os sistemas de saúde chegaram ao colapso e há mortes de pacientes na fila de espera por leito.
O País tem registrado mais de 60 mil novos diagnósticos diários consecutivamente há 32 dias, maior patamar de toda a pandemia. Ao longo de março, foram mais de 2,2 milhões de pessoas que receberam a confirmação da Covid, 63% a mais do que em fevereiro. A média diária passou de 56 mil casos em 1º de março para 75 mil no último dia do mês, alta de 34%. Apenas nos últimos dias que essa média tem apresentado queda, com o feriado da Páscoa, o que leva ao represamento de registros. Além disso, o País tem um sistema falha de testagem, o que eleva o risco de subnotificação e dificulta o controle sobre o avanço da transmissão.
Segundo Alves, a média móvel ainda deve chegar a 4,5 mil ou 5 mil mortes. Ele aponta que a disparidade no avanço da pandemia entre o Brasil e outros países se dá por uma série de fatores, desde estratégias de vacinação até medidas efetivas de restrição, como o lockdown.“Países com processo de vacinação mais acelerado que o nosso conseguiram controlar casos. No início do ano, a Grã-Bretanha decretou lockdown e logo depois atingiu seu maior pico. Em pouco mais de um mês, reduziram os casos de 60 mil para 5 mil por dia”, afirma Alves.
“Esse cenário mostra que o Brasil, em toda a história da pandemia, não adotou nenhum protocolo dos países que controlaram a epidemia efetivamente. Essa situação tem culpado, e não é o vírus.” Diferentemente de outros governos no exterior, a gestão Jair Bolsonaro assumiu postura negacionista durante a pandemia, minimizando riscos da doença, e criticando medidas de isolamento social. Além disso, o governo federal demorou para comprar vacinas e agora enfrenta escassez de doses.
Com o novo recorde, o Brasil chegou ao total de 337.364 mortes pelo coronavírus desde o início da pandemia, e outros 13.106.058 testes positivos em todo o País, dos quais 82.869 foram registrados entre esta segunda-feira e esta terça-feira (6). Para o epidemiologista e pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz Paulo Nadanovsky, faltou uma ação coordenada entre os governos federal, estadual e municipal. “A resposta curta e simples é que sim, se a gente tivesse tentado fazer o que outros países fizeram, não estaríamos nessa situação”, afirma.
Nadanovsky se refere às medidas tomadas em países onde a estratégia de combate à pandemia seria baseada na “eliminação” ou “supressão” do vírus, ao contrário do que aconteceu aqui, onde houve apenas reação de “mitigação”. “Desde o início, temos alternado entre políticas de mitigação e, quando isso começa a dar certo, as atividades voltam de forma muito rápida e antes de os casos terem caído drasticamente”, avalia. “Estamos lidando agora com o resultado desse relaxamento mais imediato, que aconteceu por volta de setembro e outubro, quando tudo parecia mais ‘tranquilo’.”
Natalia Pasternak, microbiologista e presidente do IQC (Instituto Questão de Ciência), acredita que o Brasil chegou nesse patamar após perder duas chances cruciais de combate à Covid por “falta de liderança política adequada”. “A primeira, quando recusamos os acordos de vacina oferecidos. Perder essa janela de oportunidades foi de extrema burrice”, aponta. “Depois, no começo do ano, quando vimos a tendência de subida dessa curva e não implementamos um lockdown de verdade, extremamente restritivo por três semanas, pelo menos.”
Vacinação
O balanço da vacinação contra Covid-19 desta terça-feira (6) aponta que 20.828.398 pessoas já receberam a primeira dose de vacina contra a Covid-19, segundo dados divulgados até as 20h. O número representa 9,84% da população brasileira.
A segunda dose já foi aplicada em 5.881.392 pessoas (2,78% da população do país) em todos os estados e no Distrito Federal.
No total, 26.709.790 doses foram aplicadas em todo o País.