Terça-feira, 27 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 29 de março de 2022
Cinco semanas depois do início da brutal invasão russa da Ucrânia, imagine por um momento como é viver no país na atual situação.
Bombas, banhos de sangue, trauma. Sem escolas para as crianças, sem assistência médica para seus pais, sem um teto seguro sobre sua cabeça em muitas regiões do país.
Você tentaria fugir? Dez milhões de ucranianos tentaram, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A maioria buscou refúgio em outras partes da própria Ucrânia, acreditando que fossem mais seguras. Mais de 3,5 milhões de pessoas, no entanto, fugiram para além da fronteira.
São principalmente mulheres e crianças, já que os homens de até 60 anos de idade foram obrigados pelo governo ucraniano a ficar no país e lutar. Desalojados e desorientados, frequentemente sem ideia sobre aonde ir, refugiados são obrigados a confiar em estranhos.
O caos da guerra ficou para trás, mas a verdade é que eles não estão completamente a salvo fora da Ucrânia. “Para predadores e traficantes de seres humanos, a guerra na Ucrânia não é uma tragédia”, alertou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em uma postagem no Twitter. “É uma oportunidade – e mulheres e crianças são os alvos.”
Redes de traficantes são notoriamente ativas na Ucrânia e em países vizinhos em tempos de paz. A chamada névoa da guerra é perfeita para aumentar esse tipo de atividade.
Karolina Wierzbińska, coordenadora da Homo Faber, uma organização de direitos humanos baseada na cidade de Lublin (Polônia), me disse que as crianças são uma preocupação enorme.
Muitos jovens estão viajando para fora da Ucrânia desacompanhados, diz ela. Com processos de registro informais – especialmente no começo da guerra –, na Polônia e em outras regiões de fronteira, crianças desapareceram, e seu paradeiro continua desconhecido.
Eu e meus colegas fomos até a fronteira entre Polônia e Ucrânia para ver a situação de perto. Em uma estação de trem, conhecida por ser ponto de chegada de refugiados, nós encontramos um local movimentado. Por todos os lados, havia mulheres atordoadas e crianças chorando.
Muitas estavam sendo confortadas e recebendo comida quente feita por um exército de voluntários, com seus coletes com cores chamativas. Parece tudo muito bem organizado, certo? Não exatamente.
De refugiada a voluntária
Margherita Husmanov é uma refugiada ucraniana de Kiev, de pouco mais de 20 anos de idade. Ela chegara à fronteira havia duas semanas, mas decidiu ficar para ajudar a impedir que outros refugiados caíssem nas mãos de pessoas erradas.
“As mulheres e as crianças vêm para cá fugindo de uma guerra terrível. Elas não falam polonês ou inglês. Não sabem o que está acontecendo e acreditam no que qualquer pessoa diga a elas.”
“Qualquer pessoa pode aparecer nesta estação. No primeiro dia que eu me ofereci como voluntária, eu vi três homens da Itália. Eles estavam procurando mulheres lindas para vender no tráfico sexual. Eu chamei a polícia, e eu estava certa. Não era paranoia. É terrível.”
Margherita diz que oficiais locais estão um pouco mais organizados agora. A polícia patrulha a estação regularmente. As pessoas que estavam tão presentes nas primeiras duas semanas (a maioria homens, segundo nos disseram), com pedaços de cartolina anunciando viagens para destinos atraentes, praticamente desapareceram.
No entanto, outros indivíduos mal intencionados estão agora se fazendo passar por voluntários, vestindo coletes de alta visibilidade.
Elena Moskvitina fez uma postagem no Facebook para alertar as pessoas. Ela está agora em segurança na Dinamarca, então nós conversamos longamente via Skype. Sua experiência é assustadora.
Elena e seus filhos cruzaram a fronteira com a Romênia, a partir da Ucrânia. Eles estavam em busca de uma carona a partir da fronteira. Pessoas que ela descreve como voluntários falsos lhe perguntaram onde ela estava ficando.
Eles voltaram no mesmo dia e, de forma agressiva, lhe disseram que a Suíça era o melhor lugar para eles irem e que eles lhes dariam uma carona até o país, em uma van repleta de outras mulheres. Elena me disse que os homens olharam para ela e para sua filha de forma “suja”. Sua filha estava apavorada.
Eles lhe pediram para mostrar para eles seu filho, que estava em um outro quarto. Segundo ela, eles olharam para ele de cima para baixo. Eles então insistiram que ela não viajasse com mais ninguém além deles e ficaram furiosos quando ela pediu para ver seus documentos de identidade.
Para manter os homens longe de sua família, Elena prometeu encontrá-los quando as outras mulheres já estivessem na van. Assim que eles deixaram a casa, afirmou ela, Elena pegou seus filhos e fugiu.