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Por Redação O Sul | 20 de julho de 2022
Ondas de calor ocorrem por conta de alterações naturais dos padrões climáticos globais. Nos últimos dias, muitos lembraram da onda de calor de 1976 que assolou a Europa e, em especial, o Reino Unido. No entanto, o aumento da frequência, da duração e da intensidade desses eventos nas últimas décadas são compatíveis com o aquecimento global do planeta provocado pelas atividades humanas, dizem cientistas.
Desde o século 19, quando medições climáticas começaram a ser feitas, e a Revolução Industrial se alastrou pelo mundo, a temperatura média do planeta aumentou em 1,1º C por causa, principalmente, das emissões de dióxido de carbono e outros gases. São substâncias que se acumulam na atmosfera, impedindo a irradiação do calor. Assim, transformam o planeta em uma estufa.
Em meio à onda de calor extremo que se alastra pelo hemisfério norte, o secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, lançou um alerta para representantes de mais de quarenta países reunidos na última segunda-feira para o Diálogo Climático de Petersberg, na Alemanha. “Nós temos uma escolha”, afirmou, pedindo mais ações contra o aquecimento global. “Ação coletiva ou suicídio coletivo. Está em nossas mãos.”
Na terça-feira, o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas, seguiu a mesma linha de Guterres. “As ondas de calor vão ser cada vez mais frequentes e extremas; que a atual situação (da Europa) sirva de alerta para políticos do mundo inteiro.”
De acordo com a Agência Espacial Americana, a Nasa, o mês de junho foi o mais quente já registrado. E julho segue pelo mesmo caminho. Pela primeira vez desde o início das medições, o Reino Unido, acostumado a verões em que as máximas não ultrapassam os 25º C, registrou na terça 40,2º C, em meio a um alerta vermelho de temperaturas extremas emitido pelas autoridades locais.
Há nove dias, a Espanha enfrenta uma das piores ondas de calor da sua história, com temperaturas que variam de 39ºC a 45ºC.
Na terça-feira, um trem de passageiros que ia de Madri para a região da Galícia teve que parar diante de um grande foco de incêndio. O fogo se alastra por todo o sul da Europa. Mais de mil pessoas morreram apenas na Península Ibérica.
Já há previsões de que mesmo países mais ao norte, como Bélgica e Alemanha, também registrem temperaturas superiores aos 40ºC.
“O aumento médio da temperatura global é de 1,1ºC, o que parece pouco. Mas uma elevação equilibrada. Isso significa que, em alguns lugares vai esfriar e, em outros, vai esquentar muito. Para uns, a situação será difícil; para outros, impossível”, explicou o secretário executivo do Observatório do Clima, Márcio Astrini.
“O sexto relatório do IPCC divulgado no ano passado, por exemplo, mostra que, em média, o semiárido brasileiro registra dois eventos de seca extrema por década. Entretanto, dependendo do aumento médio das temperaturas, pode passar a registrar até cinco eventos desses por ano, o que inviabilizará a agricultura, porque não haverá tempo hábil para a recuperação do solo.”
A chance de a temperatura no Reino Unido chegar a 40ºC, por exemplo, é dez vezes mais provável agora do que antes da Revolução Industrial, quando a queima de combustível fóssil se tornou um padrão mundial.
A Europa é particularmente vulnerável. Os motivos são a proximidade com o Ártico (que perde sua cobertura de gelo com rapidez) e acorrente do Golfo, que eleva as temperaturas no continente.
“Ainda assim, o Reino Unido registrar a maior temperatura da sua história não é uma coincidência; outros países também estão registrando temperaturas totalmente anômalas, fora do padrão”, afirmou o coordenador-geral de operações e modelagem do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o meteorologista Marcelo Seluchi. “E isso coincide com o que as pesquisas vinham antecipando, uma maior frequência de eventos extremos.”
“Embora haja um claro padrão de onda atmosférica, com regiões mais quentes e mais frias se alternando, essa grande área de calor extremo é um claro indicador de que as emissões de gases-estufa pela atividade humana estão causando padrões climáticos extremos que impactam nossas vidas”, afirmou o chefe do escritório global de modelagem do Goddard Space Flight Center, da Nasa, Steven Pawson.
Outras regiões do hemisfério norte também estão registrando ondas de calor extremo e temperaturas recorde, segundo dados da Nasa. No último dia 13, na Tunísia, no Norte da África, a temperatura chegou a 48º C, batendo uma marca de quarenta anos.
No Irã, as temperaturas permaneceram altas em julho depois de um registro de 52ºC no fim de junho. Na China, o verão trouxe três ondas de calor muito forte. Segundo o Observatório de Xangai, que registra temperaturas desde 1873, a cidade alcançou 40,9ºC, a maior já marcada.
“Os extremos climáticos são uma consequência direta do aquecimento global”, diz o pesquisador José Marengo, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). “Cada vez mais veremos ondas de calor extremo na Europa e nos Estados Unidos, com incêndios, e, possivelmente, veremos também invernos extremos, com grandes nevascas. Aqui no Brasil, já vivemos extremos também, com chuvas intensas e secas.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.