Terça-feira, 07 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de agosto de 2022
Para frear as investidas do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) junto ao público evangélico, a campanha à Presidência da República de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) decidiu criar contas nas redes sociais direcionadas a esse segmento que corresponde a 30% do eleitorado. A novidade na comunicação do petista foi informada neste sábado (20) ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os perfis criados e apresentados ao TSE foram batizados de “Evangélicos com Lula”. Em nota, a assessoria de imprensa da campanha diz que a iniciativa partiu dos próprios religiosos. “Alguns setores evangélicos — tanto dos partidos da coligação quanto de fora dele — nos contataram com interesse em atuar junto a comunidades evangélicas na campanha, e para isso ser possível registramos esses sites e perfis no TSE”, afirma a equipe.
A disputa pelo comando do País tem sido marcada pelos ataques mútuos de Bolsonaro e Lula com teor religioso. Em culto em Belo Horizonte, a primeira-dama Michelle afirmou que o Palácio do Planalto era consagrado a demônios em governos anteriores. Já Lula afirmou na última terça-feira que Bolsonaro estava possuído pelo demônio.
Neste sábado, em comício em São Paulo, o petista defendeu o Estado laico e criticou o uso de igrejas como palanque político e a circulação de “fake news religiosa”. No entanto, com a criação dos perfis nas redes sociais, o ex-presidente mostra que não vai ficar de fora dessa disputa pelo público das igrejas.
O pano de fundo é a disputa pelo eleitorado evangélico, que hoje está majoritariamente com Bolsonaro. Na mais recente pesquisa Datafolha, o candidato à reeleição cresceu seis pontos porcentuais e chegou a 49% das intenções de voto entre evangélicos, ante 32% de Lula. O PT está preocupado com o crescimento de Bolsonaro no segmento e discute formas de reagir a isso.
Estado laico
Em comício no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, criticou o uso de igrejas como palanque político e a circulação de fake news religiosas.
“Tem demônio sendo chamado de Deus e tem gente honesta sendo chamada de demônio. Tem gente que não está tratando igreja para tratar da fé ou da espiritualidade, está fazendo da igreja um palanque político ou uma empresa para ganhar dinheiro”, discursou o petista.
As campanhas de Lula e do presidente Jair Bolsonaro testam limites do discurso religioso na eleição. A primeira semana de campanha foi marcada pela “guerra santa” entre os dois rivais. Pesquisa Datafolha divulgada nesta quinta, 18, mostrou que Bolsonaro subiu de 43% para 49% entre os evangélicos, enquanto o petista caiu de 33% para 32%.
“Eu, Luiz Inácio Lula da Silva, defendo o Estado Laico. O Estado não tem que ter religião, todas as religiões têm que ser defendidas pelo Estado. Mas, também quero dizer, as igrejas não têm que ter partido político, porque as igrejas tem que cuidar da fé e da espiritualidade das pessoas, e não cuidar da candidatura de falsos profetas, ou de fariseus, que estão enganando esse povo o dia inteiro”, afirmou a uma plateia de 70 mil pessoas, de acordo com os organizadores do comício.
Segundo o ex-presidente, ele fez as críticas “com a tranquilidade de um homem que crê em Deus” e que “não precisa” de interlocutores. “Eu não preciso de padre ou de pastor, eu posso me trancar no meu quarto e conversar com Deus quantas horas eu quiser sem pedir favor a ninguém”, afirmou.
Lula também incentivou seus apoiadores a enfrentar “pastores que estiverem mentindo” e não deixar “nenhuma mentira” sem resposta. Apoiadores de Bolsonaro tentam reeditar a pauta do “kit gay” de 2018, vendendo o ex-presidente como um político que “fecharia igrejas”, se eleito. A disputa pelo eleitorado religioso tomou conta dos discursos dos candidatos já no primeiro dia de campanha.
Apesar de Lula ter criticado o uso de igrejas como palanque político, integrantes de sua campanha continuam a acenar para eleitorado evangélico. Durante o comício, seu candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), citou a religião ao dizer que “Deus nos inspira a ter compaixão e solidariedade”, valores que levarão Lula a cadeira presidencial, segundo o ex-tucano.