Quarta-feira, 30 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 2 de outubro de 2021
O Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, a cada ano, mais de 15 mil novos casos de câncer de boca surgem no Brasil. Esse tumor maligno pode afetar diferentes estruturas da boca, lábios, gengiva, bochechas e céu da boca. Outras regiões que podem ser atingidas são a língua (principalmente as bordas laterais) e o assoalho bucal (região embaixo da língua).
“O câncer bucal é um crescimento desordenado das células. Elas crescem tão rápido que os vasos sanguíneos não conseguem acompanhar. Por isso, as células internas da lesão começam a apodrecer, o que provoca um cheiro ruim dentro da boca”, explica o Cirurgião-Dentista Laurindo Sassi, chefe do Serviço de Cirurgia Bucomaxilofacial do Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba (PR).
Esse mau cheiro, entretanto, costuma aparecer apenas em casos mais avançados do câncer, quando já há feridas mais profundas na boca. Esse é um grande desafio para o diagnóstico do câncer bucal, inclusive: ele costuma surgir sem fazer alarde. Muitas vezes o paciente só percebe que há algo errado quando o tumor já está em um estágio avançado.
Isso acontece porque, diferentemente de feridas causadas por aftas ou herpes, o tumor não dói no início. “Ele surge como uma lesão superficial na mucosa. Só vai doer quando começar a se aprofundar, chegando às extremidades do nervo. Mas essa sensibilidade só aparece depois que se passarem dois ou três meses.” Por isso, Sassi lembra que é essencial incluir o autoexame na rotina para identificar lesões pré-malignas antes delas se transformarem em câncer.
Autoexame
De acordo com Sassi, as pessoas devem fazer o autoexame preventivo todo mês. Os instrumentos necessários são simples: basta um espelho, um local bem iluminado e o cabo de uma colher. “Fique com a boca aberta em frente ao espelho, afaste a bochecha com o cabo, levante a língua e verifique todas as regiões internas. Procure manchas brancas ou avermelhadas, feridas ou caroços. Se encontrá-los e eles não sumirem em até 15 dias, procure um dentista. Pode ser algo simples, mas também pode ser o início de um câncer”, alerta o cirurgião-dentista.
Outro sintoma possível são os nódulos que aparecem no pescoço. “Apalpe o pescoço para ver se há caroços fixos. É normal ter ínguas nessa região, mas se a pessoa notar que há um nódulo duro e fixo, que não se movimenta, há alguma coisa errada”, afirma o especialista. O câncer de boca também pode se manifestar por meio de inchaços, áreas de dormência, bem como sangramento e dor de garganta que não melhora. Entretanto, esses sintomas também podem estar relacionados a outras doenças. Apenas um especialista poderá dar o diagnóstico correto.
Fatores de risco
O vício de fumar e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas podem desencadear várias doenças, incluindo o câncer bucal. De acordo com o Conselho Regional de Odontologia do Paraná (CRO), o tabaco está associado a 90% dos casos de câncer bucal em homens e a 60% em mulheres. Já o álcool está associado a 55% dos casos. Quando o fumo e o álcool estão associados, o risco de desenvolver a doença aumenta em mais de 100 vezes.
Outro fator de risco é a exposição solar sem proteção. Na hora de passar protetor solar, não dá para deixar os lábios de lado. “Quem trabalha com exposição solar direta, como em lavouras ou na construção civil, deve tomar ainda mais cuidado. Existem protetores semelhantes a batons em farmácias e supermercados. Esses são os tipos que devem ser usados e não a manteiga de cacau, porque ele é um óleo e ao sol vai queimar ainda mais”, orienta Sassi. Quem passa muito tempo exposto ao sol também deve utilizar chapéu ou boné para aumentar a proteção.
Além do álcool, cigarro e exposição solar, outros fatores que podem estar associados ao câncer bucal são:
1) falta de higiene bucal;
2) alimentação pobre em vitaminas e minerais;
3) irritação mecânica crônica (como uso de prótese mal ajustada);
4) infecção pelo vírus HPV;
5) genética.
Tratamento
O câncer de boca tem cura, e quanto mais cedo for feito o diagnóstico, maiores serão as chances de recuperação. “Quando descoberto de maneira precoce, o câncer bucal é tratável de maneira mais fácil e o paciente pode voltar à vida normal. Entretanto, em estágios avançados, o oncologista pode ter que fazer uma cirurgia mais agressiva para remover o tumor, que pode causar sequelas no paciente. Por isso, conforme o CRO nos orienta, o foco deve ser na prevenção”, destaca Sassi, que promove campanhas de prevenção ao câncer bucal desde 1989.
Quando descoberto no início, o tumor pode ser retirado em cirurgias menos radicais. Além da intervenção cirúrgica, o tratamento para o câncer bucal pode envolver radioterapia e quimioterapia. A escolha que será feita pelos profissionais de saúde depende da localização do câncer e do estágio da doença.