Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 8 de junho de 2023
Pesquisadores do Houston Methodist Research Institute, nos Estados Unidos, descobriram uma maneira de domar o câncer de pâncreas — um dos mais agressivos e difíceis de tratar – aplicando imunoterapia diretamente no tumor com um dispositivo menor que um grão de arroz. Os testes ainda estão em animais, mas já mostram resultados promissores.
“Nosso objetivo é transformar a forma como o câncer é tratado. Vemos este dispositivo como uma abordagem viável para penetrar no tumor pancreático de maneira minimamente invasiva e eficaz, permitindo uma terapia mais focada usando menos medicação”, disse Alessandro Grattoni, autor co-correspondente e presidente do Departamento de Nanomedicina no Houston Methodist Research Institute, em comunicado.
Em outras palavras, trata-se de uma imunoterapia localizada. O uso dos anticorpos já é considerado um promissor agente contra o câncer. Entretanto, a maioria dos tratamentos disponíveis atualmente envolve a aplicação dos anticorpos de forma deliberada em todo o corpo, o que pode causar efeitos colaterais indesejados e duradouros. Para solucionar essa questão, a equipe desenvolveu um dispositivo implantável que entrega os anticorpos diretamente no tumor, o que significa menos efeitos colaterais e melhor qualidade de vida.
O dispositivo é um minúsculo implante, feito de aço inoxidável e carregado de anticorpos monoclonais CD40 (mAb), um promissor agente imunoterapêutico. O mecanismo também permite liberar uma quantidade muito mais baixa de medicamento. Seu potencial contra o câncer foi testado em animais.
Em artigo publicado recentemente na Advanced Science, os pesquisadores relataram que o dispositivo foi capaz de reduzir os tumores em roedores, em uma dosagem quatro vezes menor do que o tratamento de imunoterapia sistêmica tradicional. Ou seja, o dispositivo precisa de menos remédios para encolher tumores cancerígenos.
Além disso, em um dos animais, o implante foi colocado em apenas um dos tumores no pâncreas, embora houvesse outro. A medicação gerou impacto nos dois, mesmo que um deles não estivesse diretamente conectado com a fonte emissora de medicação. Isso foi considerada “uma das descobertas mais empolgantes” pelos pesquisadores.
Embora o dispositivo NDES tenha sido inserido apenas em um dos dois tumores no mesmo modelo animal, notamos o encolhimento do tumor sem o dispositivo. Isso significa que o tratamento local com imunoterapia foi capaz de ativar a resposta imune para atingir outros tumores. Na verdade, um modelo animal permaneceu livre de tumor durante os 100 dias de observação contínua”, disse Corrine Ying Xuan Chua, autora co-correspondente do estudo e professora assistente de nanomedicina no Houston Methodist Academic Institute, em comunicado.
Outras empresas de tecnologia médica oferecem implantes intratumorais para o tratamento de câncer, mas eles são destinados ao uso de duração mais curta. O dispositivo nanofluídico do Houston Methodist destina-se à liberação controlada e sustentada de longo prazo, evitando o tratamento sistêmico repetido que geralmente leva a efeitos colaterais adversos.
Ainda são necessários mais estudos para determinar a eficácia e segurança dessa tecnologia em humanos, mas os pesquisadores esperam que isso se torne uma opção viável para pacientes com câncer nos próximos cinco anos.
Câncer de pâncreas
O câncer de pâncreas é o 13º tumor com maior incidência no Brasil, com 10.980 novos casos anuais estimados no próximo triênio, segundo informações do Instituto Nacional do Câncer (Inca). O tipo mais comum da doença é o adenocarcinoma (que se origina no tecido glandular), correspondendo a 90% dos casos diagnosticados.
Em geral, o câncer de pâncreas não apresenta sintomas em estágio inicial. Segundo informações do Ministério da Saúde, a demora no aparecimento dos sintomas e o comportamento agressivo são fatores que levam o problema a apresentar uma alta taxa de mortalidade.