Sexta-feira, 26 de setembro de 2025
Por Redação O Sul | 25 de setembro de 2025
Uma brasileira de 38 anos morreu em decorrência das complicações de um carcinoma espinocelular, um tipo de câncer extremamente raro associado ao uso de implante mamário de silicone. Essa é a primeira vez que a doença é registrada no Brasil.
O caso aconteceu em 2023, mas foi descrito no mês passado em um estudo publicado na revista Annals of Surgical Oncology. Idam de Oliveira Junior, mastologista e coordenador da pesquisa, destaca que a situação não é motivo de alarde. Desde que o quadro foi descrito pela primeira vez, em 1992, menos de 20 pacientes em todo o mundo foram diagnosticados com a doença.
“É necessário ressaltar que não se trata de um câncer de mama. Apesar de acontecer na mama, ele tem origem na cápsula que reveste a prótese de silicone”, detalha Oliveira, que também é sócio titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e coordenador do Departamento de Mastologia e Reconstrução Mamária do Hospital de Amor, em Barretos, no interior de São Paulo.
De acordo com ele, todas as vezes que um implante é feito, naturalmente uma cápsula fibrosa é formada ao redor da prótese. “Nós ainda não temos um fator causal conhecido, mas a principal hipótese é que um procedimento inflamatório crônico nessa cápsula leva ao desenvolvimento desse tipo raro de câncer”, explica.
Segundo Oliveira, no caso registrado, a paciente havia colocado um implante bilateral com fins estéticos há 18 anos. Em determinado momento, ela percebeu um inchaço na mama esquerda e procurou uma avaliação médica. Foi aí que se identificou a formação de um líquido ao redor da prótese, conhecido como seroma.
Ela passou por exames de imagem e seguiu para uma cirurgia para trocar o implante. No entanto, durante o procedimento, o médico responsável notou que a cápsula da prótese estava diferente. Ele, então, tirou o impante, suspendeu o procedimento e a encaminhou para um centro de referência.
Lá, os médicos detectaram, além do seroma, a presença de um tumor que invadia toda a glândula mamária e a musculatura peitoral. A paciente passou pela retirada da mama, a mastectomia, para remover toda a lesão. Mas o câncer voltou e entrou em metástase — isto é, disseminou-se para outras partes do corpo. Ela morreu cerca de 10 meses após o diagnóstico.
“Apesar de ser um evento raro, o especialista em mama precisa estar atento às manifestações clínicas que o implante pode apresentar e que demandam uma abordagem específica, por meio de métodos de imagem ou biópsia. Isso é essencial para garantir um diagnóstico precoce, capaz de reduzir a alta mortalidade da doença, que tem um comportamento bastante agressivo”, cita Oliveira.
Fatores de risco e prevenção
No estudo, os pesquisadores identificaram que o risco de desenvolver a doença é maior em mulheres que usam próteses há muito tempo, geralmente por mais de dez anos. A Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos semelhante à Anvisa, recomenda que, a partir do quinto ano após a cirurgia para colocar o implante, as mulheres façam ao menos um ultrassom de mama e, depois, repitam o exame a cada dois anos.
“O paciente com uma prótese de silicone não precisa alterar sua rotina de cuidados ou sair correndo para retirar a prótese por conta desse caso. A paciente precisa ficar atenta aos sinais, como aumento do volume de mama, endurecimento, presença de nódulos. Mas ter uma prótese por muito tempo não quer dizer que vai ter o câncer”, reforça Solange Castro, mastologista do A.C.Camargo Cancer Center.
De acordo com ela, o tempo de uso, por si só, não é motivo para trocar o implante. “O que serve de alerta são os problemas identificados nos exames de imagem, como sinais de ruptura. Mas apenas pelo tempo de uso não indicamos a retirada da prótese”, explica.
Oliveira ainda destaca que as próteses têm um papel fundamental no tratamento do câncer de mama. “A reconstrução mamária muda a vida de mulheres mastectomizadas. A gente não pode criar espaço para o medo. E, de novo, reforço que o carcinoma é uma situação extremamente rara”, pontua. “Nós não podemos deixar que o medo influencie a decisão das mulheres.” As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.