Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 7 de outubro de 2023
Sondagens sobre o desempenho dos presidenciáveis na Argentina no primeiro debate sugerem um forte crescimento do candidato de extrema direita Javier Milei desde as primárias de agosto. Para alguns analistas, o momento político hoje está a seu favor e crescem as chances de uma decisão já no primeiro turno do dia 22.
O debate teve audiência de mais de 40 pontos e na enquete aberta online da TV a cabo Todo Noticias, 48% dos mais das mais de 650 mil manifestações de voto apontaram Milei como ganhador. A mesma sondagem mostrou a centro-direitista Patricia Bullrich em segundo, com 20%, o ministro da Economia e candidato peronista, Sergio Massa, com 15%, empatado com o peronista dissidente Juan Schiaretti, também com 15%. A esquerdista Myriam Bregman ficou com 2%.
“Levando-se em conta todas as ponderações sobre metodologia deste tipo de sondagem, as enquetes pós debate confirmam o cansaço e a revolta do eleitor argentino com décadas de crise econômica e a manutenção do establishment político”, disse um diplomata estrangeiro em Buenos Aires, sob a condição de manter-se anônimo.
“As cifras são consistentes com os números das primárias abertas, simultâneas e obrigatórias [as Paso] que tiveram Milei como grande vencedor, em 13 de agosto”, disse a fonte. “Do ponto de vista puramente político, o debate não trouxe novidades significativas para o cenário eleitoral, além da aparente cristalização dos votos já decididos. E essa não é uma boa notícia para Massa e Bullrich”, afirmou.
O mercado parece já trabalhar com a hipótese de ter a eleição resolvida no primeiro turno. “Creio que a volatilidade das últimas jornadas já seja um reflexo dessa expectativa”, diz o economista Nicolás Alonzo, da consultoria Orlando J. Ferrerés y Asociados. “Isso pode estar associado à perspectiva de uma vitória de Milei.”
Para vencer no primeiro turno, o candidato deve ter 45% dos votos – ou obter 40% com uma diferença superior a 10 pontos percentuais para o segundo colocado.
Propostas
Os vários benefícios fiscais anunciados pelo candidato governista parecem ser insuficientes para mascarar os problemas econômicos, com uma inflação anual de 124% e uma taxa de pobreza de 40,1%. O índice mensal de confiança no governo elaborado pela Universidade Torcuato Di Tella caiu 18,5% no mês em setembro, para o pior nível desde maio de 2003, último mês do governo de Eduardo Duhalde, que sofria com os efeitos da crise de 2001.
“Essa é uma situação que deve pesar muito para Massa nas eleições”, afirmou Ignacio Labaqui, professor da Universidade Católica e consultor da Medley Global Advisors. Labaqui, porém, prefere não levar em conta as sondagens, que considera pouco confiáveis.
Durante o debate em si, Massa tentou aliviar-se do peso negativo do governo de Alberto Fernández, causando reações irônicas de seus adversários. “Eu gostaria de pedir desculpas pelos erros deste governo que causaram tanto dano às pessoas”, disse o ministro, lembrando que integra o Gabinete “há apenas pouco mais de um ano”.
Ditadura militar
Milei, por seu lado, tentou minimizar os crimes da ditadura militar argentina (1976-1983). “Não foram 30 mil desaparecidos, mas sim 8.753”, disse – ignorando relatórios do Estado argentino e citando um registro de números subestimado do período da redemocratização. “Houve uma guerra nos anos 70 e nessa guerra forças do Estado cometeram excesso. Mas muitos usaram a ideologia dos direitos humanos para ganhar dinheiro e fazer negócios obscuros”, completou.
Os analistas observam, porém, que nesta eleição a questão da ditadura não faz parte da agenda da campanha, totalmente dominada pelas questões econômicas. “Esse tema dos militares perdeu apelo e a visão que Milei tem sobre a ditadura já não é um assunto transcedental”, disse o analista político Sergio Berensztein, fundador da consultoria que leva seu nome.
Fim do Banco Central
Em razão disso, Milei tem insistido em levar adiante seu polêmico plano de dolarizar a economia e eliminar o banco central. E, para isso, já nomeou até mesmo o “último presidente” do BC, Emilio Ocampo, seu assessor informal no programa de dolarização.
E foi a questão do BC que rendeu a Bullrich seu melhor momento no debate, ao falar sobre Milei. “Prometeram dolarização a você, mas sem dólares não se dolariza”, disse à plateia. “Só países como Micronésia, Tuvalu e Kiribati não possuem BC. Sabe o que têm em comum? Todos são paraísos fiscais.”
Para o analista político Vicente Palermo, o debate em si não deve mudar a tendência da votação para o dia 22. “É certo que Milei não perdeu votos no debate, mas eu não diria que ele ganhou. Assim como vejo lógica em Massa perder espaço desde as Paso, mas não pelo debate”.