Quarta-feira, 31 de dezembro de 2025

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Saúde Cérebro exausto: saiba por que dezembro é o mês do “colapso mental” e veja como evitá-lo

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Até o cérebro bem equilibrado pode entrar em burnout. (Foto: Reprodução)

Dezembro costuma ser vendido como o mês da alegria e das festas em família. Na prática clínica, porém, eu vejo outro fenômeno: é o mês do “colapso mental”. Crises de ansiedade, esgotamento extremo, insônia, lapsos de memória, irritabilidade súbita e mil metas para cumprir antes do ano acabar. Não é “frescura de fim de ano”. É o cérebro chegando ao limite depois de 11 meses em modo “sobrevivência”.

Como neurocirurgião e neurocientista, quero explicar o que acontece lá dentro da cabeça quando dizemos “não aguento mais”.

O cérebro humano foi desenhado para lidar com estresse em ondas, não em linha reta. Situações de risco ativam o eixo de estresse: amígdala, hipotálamo e tronco encefálico colocam o corpo em modo luta–fuga. A adrenalina sobe, o coração acelera, a atenção fica mais estreita. Passado o perigo, o sistema desliga e o organismo volta ao equilíbrio.

O problema é que, na vida moderna, o perigo não acaba nunca. Metas, prazos, notificações, conflitos, preocupação financeira, notícias ruins em tempo real… O cérebro passa o ano inteiro sob microdescargas de estresse. A amígdala fica hiper-reativa, o sistema de vigilância não repousa. Em termos simples: ficamos o tempo todo “armados por dentro”.

Quem segura esse rojão é o córtex pré-frontal, região da testa responsável por foco, planejamento, tomada de decisão, autocontrole. Ele funciona como o “CEO” do cérebro, organizando pensamentos, freando impulsos e ajudando a colocar prioridades em ordem.

Só que até o cérebro bem equilibrado pode entrar em burnout.

Por que dezembro pesa mais? Porque ele empilha demandas e, para o cérebro, isso é uma tempestade perfeita. O córtex pré-frontal é bombardeado com múltiplas decisões ao mesmo tempo, enquanto a amígdala dispara alertas emocionais: medo de falhar, medo de decepcionar, medo de ficar para trás.

Resultado? A capacidade de regulação cai. É quando aparecem os esquecimentos de coisas simples, a dificuldade de concentração, a sensação de “cabeça embaralhada”, o choro fácil ou irritação exagerada e até bate aquela vontade de sumir, dormir ou “desligar do mundo”.

Não é fraqueza. É sobrecarga de circuito.

O cérebro consome cerca de 20% da energia do corpo, mesmo em repouso. Durante o ano, ajusta-se a um padrão de desempenho alto, muitas vezes à custa de sono ruim, alimentação desregulada e pouca atividade física.

Quando dezembro chega, surge um fenômeno interessante: o organismo percebe que o combustível está acabando e tenta reduzir o consumo. Vem a sensação de “não consigo pensar”, “não tenho criatividade”, “não tenho mais paciência”.

Neuroquimicamente, isso se traduz em alterações em sistemas como a dopamina, que fica ligada na motivação e recompensa; a serotonina, que regula humor, sono e apetite; e, por fim, a noradrenalina, que faz entrar em estado de alerta.

Quando esses sistemas se desregulam por estresse crônico, aparecem quadros que variam do esgotamento simples até episódios depressivos e de ansiedade mais graves.

Há ainda um componente psicológico fortíssimo: dezembro é o mês da prestação de contas interna. O cérebro puxa o relatório: “O que eu prometi em janeiro e não cumpri?”, “quem eu decepcionei?”, “por que todo mundo parece bem menos eu?”.

Essa narrativa interna ativa redes neurais ligadas à comparação social e à autocrítica. Em linguagem clínica: aumenta o risco de ruminação, aquele pensamento que gira em círculos, especialmente à noite.

Sem descanso adequado, o sistema de memória do hipocampo também sofre. Fica mais difícil consolidar informações, mais fácil distorcer fatos e mais comum interpretar neutralidade como ameaça.

Alguns indícios de um cérebro exausto em dezembro:

– Você termina o dia sem lembrar direito o que fez.

– Pequenas tarefas parecem montanhas.

– O corpo está sempre tenso, mesmo sem “motivo”.

– O sono não descansa; você acorda mais cansado que quando foi dormir.

– Você alterna entre irritação e apatia.

– Coisas que antes davam prazer agora parecem só mais uma obrigação.

Quando, além disso, surgem ideias de “sumir”, sensação de inutilidade ou vontade de desistir de tudo, não é mais só cansaço – é sinal de que o sistema de regulação mental está em risco e merece avaliação profissional.

O que fazer antes do colapso? Do ponto de vista neurocientífico, não há solução mágica, mas existem ajustes concretos que protegem o cérebro nessa reta final:

– Reduzir o número de abas abertas – na mente e na agenda. Fazer menos, com mais presença, é uma decisão biológica, não só filosófica. Cada “sim” extra é um débito no córtex pré-frontal.

– Sono como prioridade terapêutica. Dormir não é perda de tempo. É quando o cérebro reorganiza memórias, limpa resíduos metabólicos e reequilibra neurotransmissores. Tratar o sono como luxo é convite ao colapso.

– Movimento diário, mesmo que pouco. Atividade física moderada regula o eixo de estresse, aumenta BDNF (fator neurotrófico) e melhora o humor. Não precisa virar atleta em dezembro, mas precisa tirar o cérebro da cadeira.

– Limite de exposição a telas e notícias. O cérebro não foi feito para consumir crise em tempo real 24 horas por dia. Definir horários para checar notícias e redes sociais é uma forma de higiene mental.

– Conversas honestas. Falar sobre cansaço e fragilidade não é fracasso; é proteção. Relações que permitem vulnerabilidade reduzem a carga sobre os circuitos de ameaça.

O objetivo não é demonizar o fim de ano, mas entender por que tanto cérebro “quebra” justamente agora. Quando enxergamos o funcionamento cerebral por trás do esgotamento, ganhamos duas coisas: menos culpa e mais estratégia.

Seu cérebro não é um inimigo que boicota seus planos. Ele é um órgão tentando sobreviver em um ambiente que, muitas vezes, exige demais sem oferecer pausas.

Se dezembro está pesado demais, esse não é o momento de se cobrar perfeição. É o momento de ouvir os sinais, ajustar rota, pedir ajuda se necessário.

Cuidar do cérebro em dezembro não é frescura. É uma decisão de saúde – e, muitas vezes, de sobrevivência. (Fernando Gomes/Agência Estado)

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