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Mundo Cientistas debatem se é possível herdar geneticamente um trauma

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Pesquisas sugerem que herdamos traços da experiência dos pais e avós. (Foto: Reprodução)

Em outubro passado, pesquisadores da Califórnia (Estados Unidos) publicaram um estudo sobre prisioneiros da Guerra Civil norte-americana (1861-1965) que havia chegado a uma conclusão impressionante: a partir da chamada “meia-idade”, filhos do sexo masculino de prisioneiros que sofreram abusos no conflito tinham cerca de 10% mais propensão a morrer.

O resultado, conforme os autores, sugere uma “explicação epigenética”: o trauma pode deixar nos genes de uma pessoa uma marca química que é transmitida para as gerações seguintes. Não há dano ou mutação no gene, mas o mecanismo pelo qual o gene se manifesta ou é alterado e convertido em proteínas funcionais.

Esse campo de estudo ganhou força há cerca de uma década, quando cientistas relataram que as crianças expostas, ainda no útero, ao chamado “Inverno da Fome” na Holanda – período de privação extrema no final da Segunda Guerra Mundial (1937-1945) – carregavam em um de seus genes uma marca química específica, como uma espécie de assinatura epigenética.

Posteriormente, os pesquisadores associaram tal descoberta a diferenças na saúde das crianças no decorrer da vida. Isso inclui uma massa corporal acima da média.

A empolgação se intensificou, gerando mais estudos (sobre os descendentes de sobreviventes do Holocausto, por exemplo) que indicam a hereditariedade do trauma. Essas pesquisas sugerem que herdamos alguns traços da experiência de nossos pais e avós, particularmente o sofrimento deles, o que, por sua vez, modifica nossa própria saúde – e talvez a de nossos filhos também.

Polêmica

Mas o trabalho provocou polêmicas entre pesquisadores. Os críticos afirmam que a biologia implicada em tais estudos simplesmente não é plausível. Mas pesquisadores favoráveis à noção de epigenética argumentam que suas evidências são sólidas, mesmo que ainda não tenham encontrado respostas na biologia.

“São, de fato, afirmações extraordinárias, mas estão avançando com base em evidências bem ordinárias”, ressaltou Kevin Mitchell, professor associado de genética e neurologia do Trinity College, em Dublin. “Trata-se de um mal da ciência moderna: quanto mais extraordinária, sensacional e aparentemente revolucionária a afirmação, mais baixo o nível de evidência na qual ela se baseia, quando deveria ser o oposto.”

Especialistas dizem que a crítica é prematura. Estudos com ratos foram citados como evidência para a transmissão de traumas. “Os efeitos que encontramos foram pequenos, mas notavelmente consistentes e significativos”, disse Moshe Szyf, professor de farmacologia da Universidade McGill, em Montreal. “É assim que a ciência funciona. No começo, tudo é imperfeito, mas fica mais forte quanto mais você pesquisa”.

O debate gira em torno da genética e da biologia. Efeitos diretos são uma coisa: quando uma gestante bebe muito, pode causar a síndrome alcoólica fetal. Isso acontece porque o estresse no corpo de uma grávida é compartilhado com o feto, neste caso, interferindo diretamente no programa de desenvolvimento no útero.

Mas ninguém consegue explicar exatamente como alterações nas células cerebrais causadas por abuso poderiam ser comunicadas a espermatozoides ou óvulos inteiramente formados antes da concepção. E este é apenas o primeiro desafio. Após a concepção, quando o espermatozoide encontra o óvulo, ocorre um processo natural de limpeza, ou “reinicialização”, que retira a maioria das marcas químicas dos genes.

Por fim, à medida que o óvulo fertilizado cresce e se desenvolve, tem início uma sinfonia de remodelação genética, quando as células começam a se especializar em células cerebrais, células epiteliais e etc. Como uma assinatura de trauma sobreviveria a tudo isso?

Uma das teorias se baseia em pesquisas com animais. Em estudos recentes, cientistas da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, liderados por Tracy Bale, criaram camundongos machos em ambientes difíceis, balançando periodicamente suas gaiolas ou deixando as luzes acesas durante a noite. Isso altera o comportamento subsequente dos genes desses ratos de tal modo que eles mudam a forma como gerenciam os surtos de hormônios do estresse.

E essa mudança está associada a alterações na maneira como seus filhos lidam com o estresse: de modo geral, esses camundongos jovens são menos reativos aos hormônios, em comparação aos animais que não passaram pela experiência, disse Bale. “São resultados claros e consistentes”, disse ela. “O campo avançou muito nos últimos cinco anos”.

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https://www.osul.com.br/cientistas-debatem-se-e-possivel-herdar-geneticamente-um-trauma/ Cientistas debatem se é possível herdar geneticamente um trauma 2018-12-22
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