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Por Redação O Sul | 30 de junho de 2017
Em 4 de agosto de 1997, morria aos 122 anos e 164 dias, na cidade de Arles, na França, Jeanne Calment. Até hoje, a dona de casa francesa é a pessoa que comprovadamente viveu mais tempo no mundo, mas estaria ela perto do limite da longevidade humana? Tal prazo existe?
Entram em cena então os pesquisadores Xiao Dong, Brandon Milholland e Jan Vijg, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York. Em outubro do ano passado, o trio publicou na prestigiada revista científica “Nature” um estudo com base na análise de casos de “supercentenários,” como Jeanne (indivíduos que alcançam a idade de 110 anos ou mais), em que afirmam que sim, há um limite para a longevidade humana, em torno de 115 anos na média, embora haja espaço para casos extremos como da própria francesa e da italiana Emma Morano, que era a pessoa mais velha do mundo até abril passado, quando faleceu aos 117 anos.
Agora, no entanto, cientistas ao redor do mundo estão contestando o achado. Em uma série de breves comunicados também publicados na “Nature” esta semana, e respondidos pelo trio original de pesquisadores, eles apontam o que consideram erros no estudo e dizem não ser possível fazer tal afirmação sobre a existência de um limite com base apenas nele.
É o caso, por exemplo, dos biólogos Bryan G. Hughes e Siegfried Hekimi, da Universidade McGill, no Canadá. Usando o mesmo banco de dados com informações sobre a longevidade de supercentenários de EUA, Reino Unido, França e Japão desde 1968 utilizado na pesquisa original, eles afirmam não ter encontrado indicações de tal limite e que, se ele existe, ainda precisa ser alcançado ou identificado.
“Simplesmente não sabemos qual poderá ser o limite de idade. De fato, ao estendermos as linhas de tendência, podemos mostrar que tanto a longevidade média quanto a máxima podem continuar a aumentar ainda por muito tempo no futuro”, diz Hekimi.
Assim, segundo Hekimi, é impossível dizer qual será a longevidade dos humanos no futuro, com alguns cientistas argumentando que avanços na tecnologia e na medicina, além de melhorias nas condições de vida da população podem empurrar para mais longe o limite máximo: “É difícil adivinhar. Há 300 anos a maioria das pessoas vivia pouco. Se tivéssemos dito a elas que um dia os humanos viveriam até os 100 anos, eles responderiam que estávamos loucos”.
Em sua resposta à dupla, Dong, Milholland e Vijg destacam diferenças na modelagem dos dados e seu tratamento estatístico entre os estudos, afirmando haver falhas no trabalho de Hughes e Hekimi, assim como exagero na extrapolação de seus resultados. O trio segue a mesma linha nas outras contestações, reforçando ser um erro de interpretação apontar os casos de Jeanne e Emma como provas de que estão enganados ao limitar o prazo em 115 anos, pois este seria apenas o valor médio e não o extremo máximo, de 125 anos.