Quinta-feira, 12 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de novembro de 2022
Os acontecimentos dos últimos oito meses são um drama da vida real que levou um sofrimento incalculável à Ucrânia — e muitos acreditam que, desde a Crise dos Mísseis de Cuba, há 60 anos, o mundo nunca esteve tão perto de um conflito nuclear. Então, o que o roteiro reserva a partir de agora? Tudo depende da resposta a esta pergunta: até onde Vladimir Putin está disposto a chegar para garantir a vitória — ou evitar a derrota — na Ucrânia?
Deixando de lado a recente retórica russa, seria improvável que o Kremlin esteja planejando agora uma escalada nuclear na guerra da Ucrânia. Especialmente se forem considerados os seguintes cinco motivos:
1 – Eleições de meio de mandato nos EUA: À medida que as eleições de meio de mandato nos EUA se aproximam, o Kremlin sabe que o Partido Republicano tem uma chance de ganhar o controle do Congresso.
No início deste mês, o líder da minoria na Câmara dos Representantes, Kevin McCarthy, alertou que os republicanos não vão dar um “cheque em branco” para a Ucrânia se reconquistarem a maioria na Casa.
Isso teria soado como música para os ouvidos de Putin. Embora não esteja claro se a ajuda americana à Ucrânia seria significativamente impactada por uma vitória republicana, o Kremlin vai abraçar qualquer perspectiva de redução na ajuda militar dos EUA a Kiev.
2 – Inverno na Europa: Parece que Putin ainda está calculando que, com o fornecimento de energia russo para a Europa severamente reduzido, um inverno frio agravaria as crises energéticas e de custo de vida da Europa, forçando os governos ocidentais a chegar a um acordo com o Kremlin: reduzir seu apoio à Ucrânia em troca de energia russa. Até agora, porém, a Europa parece mais bem preparada para o inverno do que Moscou esperava.
O mês de outubro foi mais ameno do que o normal e houve um aumento da oferta de gás natural liquefeito — com isso, as reservas de gás foram reabastecidas, e os preços do gás na Europa caíram. Mas se as temperaturas também caírem, a pressão pode aumentar. Especialmente na Ucrânia, onde os militares russos vêm atacando a infraestrutura energética do país.
3 – Mobilização: Nos últimos dias, Vladimir Putin tomou medidas para mobilizar toda a economia e indústria russa para as necessidades de sua “operação militar especial”. Em muitos aspectos, parece que todo o país foi colocado em pé de guerra no longo prazo. Um sinal, talvez, de que o Kremlin está se preparando agora para uma guerra prolongada na Ucrânia.
4 – Destruição mútua assegurada: Uma criação da Guerra Fria que ainda se aplica hoje: a suposição de que se um lado lançar armas nucleares, o outro lado responderá na mesma moeda — e todos morrem. Não há vencedores em uma guerra nuclear. Vladimir Putin sabe disso. Tudo isso se baseia na premissa de que seria lógico supor que não haverá um componente nuclear na guerra da Ucrânia.
Há apenas um problema. A lógica desapareceu daqui em 24 de fevereiro. E as guerras não necessariamente se desenvolvem logicamente. Se há uma coisa que a Crise dos Mísseis de Cuba ensinou ao mundo, foi como o planeta pode de repente se encontrar à beira da destruição como resultado de erros de cálculo e falta de comunicação.
5 – Erros: A “operação especial” do presidente Putin não saiu conforme o planejado. O que deveria levar dias — no máximo, semanas — se arrasta há meses. O Kremlin parece ter subestimado completamente a dimensão da resistência ucraniana, além de ter avaliado mal o apoio ocidental a Kiev e o tsunami de sanções internacionais que a Rússia enfrentaria.
E, apesar de ter prometido no início que apenas “soldados profissionais” entrariam em combate, Putin acabou anunciando uma “mobilização parcial” de reservistas. Além disso, nas últimas semanas, como resultado de uma contra-ofensiva ucraniana, as tropas russas perderam parte do território que ocupavam. Mas uma coisa que Vladimir Putin raramente admite é cometer erros. Por enquanto, ele parece determinado a prosseguir nesta guerra e surgir com algo que possa chamar de vitória. (Steve Rosenberg/BBC)