Quinta-feira, 20 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de janeiro de 2019
Com inflação muito bem comportada, o presidente Jair Bolsonaro poderá governar nos próximos meses sem se preocupar com os preços no varejo ou com o risco de um aperto no crédito. Complicações de preços ou juros, se surgirem, virão provavelmente do exterior ou de algum tropeço mais sério da nova administração federal. Referência principal para a ação do governo, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) subiu 0,15% em dezembro, bem menos que um ano antes, quando o aumento chegou a 0,44%. A variação apurada no fim do ano foi a menor para um mês de dezembro desde a implantação do Plano Real, em 1994. Com isso, em 2018 o indicador subiu 3,75%. O resultado ficou sensivelmente abaixo da meta oficial, fixada em 4,5% com tolerância de 1,5 ponto para cima ou para baixo.
Se nada excepcional ocorrer nas próximas semanas, o BC (Banco Central) poderá manter em 6,50% ao ano a taxa básica de juros. A próxima deliberação está programada para o dia 6 de fevereiro. Em vigor desde março do ano passado, essa taxa poderá vigorar ainda por muitos meses, segundo avaliação corrente no mercado financeiro. Quanto mais prolongada a calmaria na política monetária, melhor para a expansão dos negócios e para a criação de empregos.
Se isso ocorrer, a gestão das contas públicas será favorecida em dois aspectos. Em primeiro lugar, haverá aumento da arrecadação de impostos, contribuições e taxas, com um reforço muito bem-vindo para os cofres da União. Em segundo, o governo poderá continuar rolando os juros da dívida federal com o menor custo registrado em muitos anos.
A inflação acumulada em 2018 ficou pouco acima da mediana das projeções do mercado. Essa mediana ficou em 3,69% na pesquisa Focus divulgada pelo BC na última segunda-feira. A pesquisa, atualizada semanalmente, envolve consultas a cerca de cem instituições financeiras e consultorias.
Neste ano, o IPCA deve subir 4,01%, se a mediana das últimas estimativas for confirmada pelos fatos. Nesse caso, mais uma vez a inflação ficará abaixo da meta, agora fixada em 4,25% com 1,5 ponto de tolerância para mais ou para menos. As expectativas para os dois anos seguintes continuam favoráveis, com taxas estimadas – medianas, nos dois casos – em 4% e 3,75%, exatamente nas metas determinadas para 2020 e 2021.
Segundo a mesma sondagem, o Brasil deve chegar ao fim do ano com juros básicos de 7%. Quatro semanas antes as projeções indicavam 7,50%. A redução da taxa básica esperada aponta confiança no controle da inflação, preocupação muito moderada com pressões externas e, acima de tudo, uma aposta firme na condução da política de ajustes e reformas. O governo tem reafirmado o compromisso com a arrumação de suas contas e, como parte da tarefa, com a implantação da reforma da Previdência.
As condições políticas para execução dessa pauta são claramente mais favoráveis, pelo menos até agora, do que no governo do ex-presidente Michel Temer, prejudicado por denúncias e por tentativas de impeachment. Apesar dessas dificuldades, o governo recém-encerrado ainda conseguiu, depois da aprovação da reforma trabalhista e da aprovação do teto constitucional de gastos, conter o déficit primário, isto é, o resultado fiscal sem os juros.
A inflação contida é atribuível em primeiro lugar à boa condução da política monetária pelos dirigentes do BC. Mas esses dirigentes conseguiram ao mesmo tempo conter a inflação e baixar os juros de 14,25% para 6,50% graças a algumas condições favoráveis.
A mais importante foi o claro empenho do governo em consertar as contas públicas, mesmo depois do agravamento das condições políticas. O mercado reconheceu esse compromisso e isso contribuiu para a manutenção de expectativas favoráveis em relação aos preços. No jargão da autoridade monetária, as expectativas quanto à inflação têm permanecido bem ancoradas.
Essa ancoragem tem sido confirmada pelas projeções coletadas na pesquisa Focus. O novo governo mostrará competência, em primeiro lugar, se conseguir manter essa âncora.