Segunda-feira, 13 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 21 de janeiro de 2018
Sob bênção de Luiz Inácio Lula da Silva, partidos de esquerda buscarão uma estratégia conjunta de sobrevivência a partir da quarta-feira (24), data do julgamento do petista pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre.
Com a possibilidade de a condenação do ex-presidente se manter, PT, PC do B, PDT e até PSB promovem uma “trégua eleitoral” e anteciparam para após o Carnaval o lançamento de um programa com vistas a uma aliança no segundo turno do pleito – ou mesmo no primeiro. O PSOL tem acompanhado as discussões na condição de observador. Fora PSB, todas essas legendas anunciaram (ou flertam com a ideia de) pré-candidatos – Manuela D’Ávila pelo PC do B, Ciro Gomes pelo PDT e Guilherme Boulos pelo PSOL.
Essa agenda – que inclui a defesa da soberania nacional e de reformas estruturais – permitirá que Lula discuta com dirigentes partidários uma saída para as esquerdas. A ideia, contudo, não é impor uma adesão ao PT. A pretexto dessa articulação, Lula deverá conversar pessoalmente com os pré-candidatos, desobstruindo o diálogo até com seu ex-ministro Ciro – que evitou assinar o manifesto “Eleição Sem Lula É Fraude”.
Lançado em dezembro, o texto foi respaldado por D’Ávila e Boulos, além de nomes como Chico Buarque, Pepe Mujica, Noam Chomsky e até o deputado Paulinho da Força, que no impeachment de 2016 adaptou “Pra Não Dizer que Não Falei das Flores” para “Dilma, vai embora que o Brasil não quer você / E leva o Lula junto e os vagabundos do PT”.
Amigo de Lula, o ex-ministro Luiz Dulci é apontado como um canal com Ciro. Outra ponte, o presidente do PDT, Carlos Lupi, diz que Ciro sempre esteve aberto a esse encontro. “Mas este não é o momento.” O próprio Lupi gravou um vídeo de desagravo a Lula.
Teste
Nos bastidores, o ex-presidente defende o direito de siglas “testarem” sua viabilidade eleitoral. Mas ele cita o próprio Ciro – que em cenários sem Lula chega a 13% no Datafolha após tentar o Planalto duas vezes – como exemplo das dificuldades de suas candidaturas.
Na terça-feira (16), as fundações desses quatro partidos concluíram um documento batizado de “Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento”. Em fevereiro, suas bancadas se reunirão no Congresso. O presidente da Fundação Perseu Abramo, Márcio Pochmann, admite que o cronograma foi adiantado após TRF-4 programar o julgamento para janeiro.
Ex-presidente do PC do B, Renato Rabelo diz que o debate servirá de base para uma unificação. Prometer resistência sem unidade ampla seria “bravata, uma visão primária”. “Se a esquerda tiver uma base mínima referencial, poderá se juntar até no primeiro turno.” “A expectativa é que haja uma trégua eleitoral em todo o campo democrático”, diz o deputado Orlando Silva (PC do B), ex-ministro lulista e dilmista. “Tirar Lula no tapetão vai reforçar a instabilidade.”
Vice-presidente do PT, Alexandre Padilha afirma que o “fura-fila” do TRF-4, que pôs o processo de Lula à frente de outros, “fez um bem para esse campo. A unidade pode culminar numa ampla frente”. O PT trabalha com três hipóteses após eventual condenação: a manutenção da candidatura de Lula, a busca de um plano B e uma remota possibilidade de boicote à eleição.
A definição da estratégia dependerá da decisão do TRF-4 e da reação popular. Se a corte não for unânime na manutenção da pena de nove anos e seis meses fixada pelo juiz Sérgio Moro ou alterá-la, Lula poderá esticar sua candidatura até a data final de registro da chapa, em agosto.
Se a sentença for ratificada, o PT abrirá debate sobre um plano B. Principais apostas: o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad. Segundo Lupi, alguns petistas acenam com a possibilidade de apoio a Ciro, tendo Haddad como vice. Pedetistas duvidam. Presidente da Fundação Leonel Brizola-Alberto Pasqualini, Manoel Dias diz que a candidatura de Ciro é “irreversível”.